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Eu não nasci para falar em público

Erra quem ainda acredita que o orador já nasce vocacionado, pois ninguém nasce pronto para nada e a jornada da vida é que nos conduz a realizar algo pelo qual nos interessamos.

terça-feira, 5 de junho de 2018

Atualizado em 23 de setembro de 2019 16:54

O poder da comunicação é incontestável, pois por ele, pessoas comuns se projetaram, encantaram multidões e entraram para a história. Ninguém fica imune a um bom orador, que além de atrair a atenção, por vezes seduz e convence.

Desde muito jovem ficava fascinado pelos grandes oradores, quer na política, nas artes, na filosofia, na religião ou no Direito. Decidi estudar a arte da oratória e tentar aprender um pouco sobre essa forma de interagir com o semelhante.

Superando a timidez e criando coragem, resolvi falar em público pela primeira vez e foi frustrante. Naquele dia tive a certeza que eu não nasci para falar em público.

Aos poucos pude aprender, sepultando alguns mitos, que falar em público não é dádiva, mas um eterno aprendizado de técnicas que precisam ser conhecidas e dominadas.

Erra quem ainda acredita que o orador já nasce vocacionado, pois ninguém nasce pronto para nada e a jornada da vida é que nos conduz a realizar algo pelo qual nos interessamos.

Evidente que para algumas profissões, a oratória mostra-se indispensável, e o grau de seu desenvolvimento depende de cada um.

Meu interesse impulsionou-me ao contato com os livros de oratória e o salutar convívio com alguns professores dessa arte, o que me valeu a certeza de que para falar bem, é preciso ter 10% de inspiração e 90% de transpiração, vale dizer, o treinamento incansável, definirá quem será um bom orador.

A comprovação disso reside no fato de que alguns ícones do esporte, treinam muito mais que seus pares, o que os leva a se destacar, mercê do empenho e dedicação desigual, obstinados que são, incansáveis na busca de seu aperfeiçoamento. Podemos citar dentre tantos, Pelé (rei de futebol), Oscar (mão santa), Ayrton Senna (campeão automobilístico), isso para ficar só na área esportiva, demonstrando que o treinamento faz toda diferença. Na oratória não é diferente.

Sabendo que o fator determinante não é a hereditariedade, assim, para ser um bom orador é preciso treinar muito, todavia, o domínio de técnicas seculares, são decisivos para os resultados esperados.

Essas técnicas são de fácil absorção, até porque, muitas delas são óbvias e de conhecimento geral e precisam de permanente atenção do orador.

Por tais motivos, outros atributos não são decisivos para que alguém se torne um orador. O tipo de voz pouco importa, desde que se saiba empostá-la e dela se utilizando com técnica. Também a expressão corporal é obtida mediante dicas que alteram a imagem que o público faz do orador.

Diante disso, vê-se que a mensagem ganha maior importância e outro caminho não há, senão dominar o tema sobre o qual irá falar. Dominar o idioma e ampliar o universo de palavras, depende de muita leitura, pois só assim alguém obterá a riqueza de vocabulário, para transmitir uma mensagem clara e compreensível.

Mas creio que o segredo maior, reside no aspecto de como o orador profere suas palavras e a qual parte do corpo do ouvinte elas são dirigidas. Explico. Se o orador falar com a boca, dirigindo sua mensagem aos ouvidos do semelhante, até poderá se comunicar, mas jamais convencerá ou encantará. Dessa forma, a magia reside em falar com o coração, dirigindo-se ao coração do ouvinte.

Assim, além de dominar o tema, há que se acreditar no que diz, pois dessa forma a emoção naturalmente decorrerá, com reais possibilidades de convencer e encantar.

Após estas breves ponderações fica a certeza de que qualquer pessoa poderá se tornar um bom orador, tudo dependerá, exclusivamente, dela mesma, quando descobrir que a comunicação é uma coisa e a oratória é outra bem mais eficaz, talvez, o maior exercício de poder já experimentado pelo ser humano.

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*Luiz Flávio Borges D'Urso é advogado Criminalista e sócio do escritório D'Urso e Borges Advogados Associados. Presidente de honra da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas - ABRACRIM e da Academia Brasileira de Direito Criminal - ABDCRIM. Mestre e doutor em Direito Penal pela USP. Presidente do LIDE JUSTIÇA, conselheiro federal da OAB e foi presidente da OAB/SP por três gestões.

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