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José Alencar - vida, paixão e morte

Em geral, condicionamos a felicidade, em primeiro lugar, à saúde, e na sequência a outros fatores, como a abundância de recursos, a capacidade de consumo, o bem-estar, o prazer, o sucesso em todas as áreas, etc. etc. Difícil é admitir a convivência entre felicidade e adversidade. Parece que uma exclui, necessariamente, a outra.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Atualizado em 1 de abril de 2011 11:40

José Alencar - vida, paixão e morte

Gilberto de Mello Kujawski*

A vida, paixão e morte de José Alencar concorreram para mudar, radicalmente, nossa ideia vulgar do que é a felicidade.

Em geral, condicionamos a felicidade, em primeiro lugar, à saúde, e na sequência a outros fatores, como a abundância de recursos, a capacidade de consumo, o bem-estar, o prazer, o sucesso em todas as áreas, etc. etc. Difícil é admitir a convivência entre felicidade e adversidade. Parece que uma exclui, necessariamente, a outra.

Em contrário, eis o que escreveu a jornalista e analista política Dora Kramer, quando do falecimento de Alencar:

"Vai-se uma raridade: um homem de coragem. De quem o câncer não conseguiu subtrair a capacidade de demonstrar que é possível viver a adversidade sem abrir mão da felicidade" (Estadão, 30 de março de 2011).

O grande brasileiro era feliz na pior, mais dolorosa e desenganada adversidade. Como isso foi possível?

José Alencar, homem rico, bem-sucedido, cheio de alegria de viver, demonstrou que a felicidade é mais do que a riqueza, a fartura, o prazer, o bem-estar, o conforto e o sucesso. A felicidade, eis o que ele nos ensinava ao vivo e em cores, consiste na plenitude e integração da pessoa, centrada de uma vez por todas, em seu próprio eixo, em sua vocação humana, entendida como forma personalíssima de convivência com o mundo. Prazer, alegria, riqueza, bem-estar, sucesso, etc., podem ou não acompanhar a felicidade, são seus complementos, mas não constituem sua substância.

No limite, a pessoa pode estar abandonada no fundo da maior pobreza, em meio ao pior sofrimento físico e moral, submetida ao desconforto e ao mal-estar, a pessoa pode habitar um campo de concentração, a pior caatinga do Nordeste, os porões das grandes cidades e, no entanto, irradiar felicidade, vitalidade e otimismo.

Porque FELICIDADE consiste em estar a pessoa integrada consigo mesma, independente das facilidades que nos sorriem e das dificuldades que nos oprimem. Por isso mesmo, a felicidade não deve ser concebida como um "momento" isolado e fugaz. Pelo contrário, a felicidade é uma duradoura instalação vital. Não aquele festivo momento de alegria, que fica na memória, mas uma joy forever. Estar de bem com a vida, mesmo se a vida não vai bem.

Não foi esta a força, o brilho, a lição imorredoura que nos deixa José Alencar com sua vida, paixão e morte?

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*Ex-promotor de Justiça. Escritor e jornalista

 



 

 

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