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Genros

Comicamente, a crônica relata os tropeços e desvios (de dinheiro público) de alguns genros da história, desde a antiga Grécia até hoje. Causos esses que conferem a eles uma certa má fama.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Atualizado em 20 de dezembro de 2011 11:38

Edson Vidigal

Genros

Só porque o genro do Rei da Espanha andou fazendo, dizem, coisas que não deveria ter feito com o dinheiro público, vamos então demonizar os genros?

Houve um tempo em que os homens até rezavam para que os filhos a caminho nascessem homens, o que tinha a ver, parece, com os costumes monárquicos.

Mulher era sinônimo de genro. Soava à maldição. Nesse quesito, são incontáveis, nos dois sentidos, as histórias.

William Somerset Maugham, consagrado autor de "A Servidão Humana", foi entrevistar Winston Churchill, Primeiro Ministro e Chefe do Almirantado inglês, assim que acabou a segunda guerra mundial.

Quase esgotado o estoque de perguntas, Maugham fez esta - qual o homem que o senhor mais admira? Benito Mussolini. Maugham, que era gago, ficou estupefato. Mas por quê? Teve coragem de mandar matar o genro, respondeu Churchill.

Menelau era genro de Tíndaro. Orestes era genro de Menelau. Lacedemon era genro de Eurotes. Genros gentes boas, bem comportados.

Se Páris, um mulherengo danado, filho do rei de Tróia, não tivesse bulido com Helena, a mulher de Menelau, aquela guerra e nem aquele cavalão de madeira jamais teriam acontecido.

Com Orestes, filho de Agamenon e genro de Menelau, a história é mais comprida. Na volta da guerra de Tróia, Agamenon foi morto por Clitemnestra e seu amante, Egisto.

Suspeitando ser o próximo da lista, Orestes buscou proteção na corte de Estrófio até que depois, já adulto, sob as ordens de Apolo, partiu para matar a própria mãe, crime do qual acabou absolvido por voto de desempate.

Outra vez Apolo, aquele terrível, monitorando Orestes mandou que ele fosse a Táurida roubar a estatua de Ártemis e devolve-la a Atenas. Novamente preso e condenado, foi salvo por Ifigênia, sua irmã.

Enfim, Orestes herdou o trono de Agamenon, reinou por muito tempo e morreu aos 90 anos, picado por uma serpente. Não teve genro.

Semana passada o genro da Princesa Anne, da Inglaterra, Mike Tindall, casado Zara Phillips, foi excluído da seleção inglesa de rúgbi e sancionado com multa de 25 mil libras por violar o Código de Ética do time. Após uma partida pelo mundial, na Nova Zelândia, o Mike encheu a cara num bar passando a protagonizar cenas lascivas com uma ex-namorada.

O genro do Rei da Espanha era jogador de handebol quando conheceu a infanta Cristina. Ingresso na família real, ganhou o título de Duque de Palma. Contrariando o sogro, mas com o apoio discreto da sogra, foi para o mundo dos negócios. Hoje é acusado de desvios de verbas públicas, contratos sem licitação com governos regionais, grana em paraísos fiscais e rombo de mais de 6 milhões de euros.

Sobre o genro do Dom Pedro, o nosso segundo Imperador, o Conde Deu, a história do Brasil não conta nada sobre o que ele tenha recebido ilicitamente ou mesmo dado de graça.

Os genros do povo em geral são os melhores, dizem quase todos os seus sogros, garantem todas as sogras. Já os genros da coisa pública, nada a ver. Sai de perto.

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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA

 

 

 

 

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