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Justa revolta

Revolta dos juízes e advogados contra as últimas investidas verbais do ministro JB é justa, mas dá margem a consequências indesejáveis.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Atualizado em 11 de abril de 2013 15:23

A justa revolta contra as últimas investidas verbais do ministro Joaquim Barbosa avoluma-se em proporções inquietantes. As três principais entidades de juízes do país uniram-se para reprovar a conduta do presidente do STF em termos indignados. Falam em atitude antidemocrática, "desrespeitosa, premeditadamente agressiva, grosseira e inadequada para o cargo" (Folha de S.Paulo, 10-04-13).

O desabafo de juízes e advogados é compreensível e seria difícil de evitar. No entanto, dá margem a consequências socialmente e politicamente indesejáveis. À medida que os protestos crescem em orquestração ensurdecedora mudam perigosamente de foco. Em dimensão subliminar passam da pessoa física do presidente para a própria instituição que representa e chefia, o Supremo Tribunal Federal, e desta para a Justiça em geral, e, finalmente, para o julgamento do Mensalão.

Não é isso que atende às pretensões dos condenados nesse julgamento, e dos seus advogados e dos inconformados com o resultado daquele rumoroso processo? A corrosão moral da decisão do Supremo, a anulação do esforço de tantos meses dos juizes e a desmoralização da justiça aos olhos da opinião pública? Como se tudo na passasse de mais um faz-de-conta no qual é tão farta nossa história?

Criticar, reprovar, verberar o descontrole emocional do presidente do Supremo é uma coisa. Mas satanizá-lo, desmoralizá-lo, negar sua autoridade e sua legitimidade, tudo isso é inadmissível.

No longo prazo, Joaquim Barbosa será absolvido pela história.

Mal comparando, ninguém cobra Napoleão por ter sido mal-educado, nem Churchill por seu alcoolismo, nem Balzac por não tomar banho. O conjunto da obra dissolve as falhas humanas. Mas no aqui e agora o ministro, como qualquer mortal, deve desculpas e contrição às pessoas que ofendeu com seus despautérios.

Joaquim Barbosa não é um equívoco histórico na presidência do STF, como se insinua. Ele é o homem certo, no lugar certo, só que em conflito aberto com a liturgia do cargo por suas maneiras e por seu linguajar desabridos.

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* Gilberto de Mello Kujawski é procurador de Justiça aposentado, escritor e jornalista


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