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Paralelas

O Maranhão, de alguma forma nosso, até que tem avançado, tornando-se cada vez mais conhecido pela televisão.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Atualizado em 23 de abril de 2013 13:08

É bom acabar logo com essa brincadeira de cabra - cega. Esse outroramente chamado de nosso mui airoso torrão natal, que de há muito já não tem sido um Maranhão algo assim de alguma forma nosso, até que tem avançado, tornando-se cada vez mais a cada noite bastante conhecido pela televisão.

É muita garapa, minha senhora!

Em matéria de novidades já nos ombreamos a lugares importantes tipo Rio de Janeiro e São Paulo, além de outros, desses que a televisão ultimamente, quase toda noite, mostra em sensacionais momentos dos seus telejornais.

Tempos atrás o Maranhão era ignorado até pela moça da previsão do tempo. Aparecia o mapa do Brasil enorme quase ocupando toda América do Sul e nos víamos ausentes naquele arremedo de coração litorâneo tímido como se o tempo entre nós estivesse sempre sob o domínio de um relógio velho de horas paradas ou de um calendário feito de feriados mornos e tristes, talvez intermináveis.

Agora, não. Emparelhamo-nos às grandes metrópoles do país nas realidades mais em moda. A televisão mostra um temporal, automóveis boiando nas ruas, água barrenta alcançando os telhados, gente grande e crianças ao desabrigo, a gente quase nem acredita que a cena é do Rio de Janeiro e de São Paulo. Ora, no Maranhão também já temos isso.

Estradas esburacadas, curvas da morte, carros capotados, filas e mais filas em postos de saúde, falta de médicos, ora isso que mostram aí como noticia de horário nobre acontecida num desses desenvolvidos Estados do sul não merece a mínima no Maranhão, que já conhece tudo isso.

Assaltos nas ruas, nos ônibus, nas praias, nas casas ou nas saídas dos bancos, um assaltante morto pela vítima antes de fugir na motocicleta, reações de alivio - uau menos um bandido na praça, ora isso não é novidade com que se gaste alguma atenção. No Maranhão está sempre acontecendo.

Outro dia o Cabral foi com a Dilma rezar numa missa em intenção das vítimas das enchentes na região de Petrópolis. Pelo segundo ano consecutivo a tragédia se repetia. No Maranhão, minha brava gente deste ainda nosso Brasil, a tragédia segue de forma diversificada - na saúde, no saneamento básico, na educação, no transporte coletivo, nos rios quase mortos, nas praias infectadas. E também na política.

Mostrar cenas dantescas de presidiários se espremendo uns contra os outros querendo espaços detrás das grades como denuncia da maneira desumana com que são tratados pelo poder público brasileiro os sentenciados num pressuposto de que vão ser recuperados e reinseridos na sociedade, ora, isso no Maranhão é noticia velha. Até mesmo as rusgas que começam por motivos torpes e resvalam para estrangulamentos entre eles. Cabeças decepadas dentro do presídio não choca a mais ninguém.

Mas justiça seja feita. No Maranhão, segundos dados oficiais, a taxa de homicídios cresceu só neste ano 344,6%. Esta noticia o telejornal ainda não deu. Mas já mostrou o Maranhão na frente do resto do País com aquela noticia de que um incêndio foi debelado com líquidos fecais de um carro - tanque daqueles de esvaziar fossas.

Como cantava João do Vale, ô Maranhão, ô Maranhão.

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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA.

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