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Ministérios

Um governo com 39 ministérios consegue se mover?

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Atualizado em 4 de junho de 2013 12:18

Em verdade, vos indago: um governo com 39 ministérios consegue se mover? Dá para trabalhar assim?

Ora, direis: os 39 ministérios que existem não dão conta das demandas da governabilidade e se a Dilma não der um jeito de criar pelo menos mais uns cinco ministérios para aquietar mais partidos da sua coalizão, ela então que se cuide.

No Brasil, presidente que, como disse um antigo oligarca baiano, se empolga com elogios de pesquisa e não cuida de dar a ração no varejo às mucuras do seu arraial, geralmente não acaba bem.

Tancredo e Sarney haviam sido eleitos para um mandato de seis anos. Morto Tancredo, Sarney concordou com uma redução para cinco anos. Não havia reeleição naquele tempo e os mandatos executivos antes eram de cinco anos.

Naquele tempo, o Egito das sete pragas pareceria simplório se comparado à epidemia que acometeu uma avalanche de deputados e senadores. Uma doença para a qual só havia um remédio - canal de rádio ou canal de televisão.

Ministérios, fossem para a irrigação ou para a desburocratização, não serviam para nada. Que nem esses troços de turismo que a turma do 'deixa comigo' logo viu que não tinha grana para conveniar com o nada. Ora, e eu vou perder meu tempo? Me falou um prefeito.

A redução do mandato de seis para cinco anos logo virou prorrogação de quatro para cinco. E aí o pau começou a comer como o da canção da casa de Noca. ("Comeu, comeu, na casa de Noca o pau comeu"). E tome porrada pra cima do filho de Dona Kyola,

Foi quando o Robertão, um homem culto que até estudou para padre, querendo acalmar as coisas, do alto das suas tamancas de líder do centrão no Congresso, lembrou a oração de São Francisco de Assis e ementou - é dando que se recebe...

Quem, nesta República do Brasil, ignorou lição de tanta sabedoria política como esta, seu deu mal. Juscelino conhecia tanto e até de longe, só pelo andar, as mucuras que tinha um dicionário especial todo feito de sim, de pois não.

Jânio fechou a cara achando que ali defronte no Congresso só tinha mucura e se deu mal. Não aguentou sete meses e olha que tinha aprovação popular total. O mesmo se deu com o Collor. Lula com o mensalão disse indignado que fora apunhalado pelas costas. Não sangrou. E ainda lavrou uma frase - dizem que elejo até postes. Mas se são postes, iluminam o Brasil e iluminam São Paulo!

Quando Getúlio voltou ao poder, dessa vez eleito pelo voto popular, o Geraldo Pereira (1918-1955) propôs a criação do ministério da Economia. Outro dia perguntei aos meus alunos do curso de Direito se sabiam quem foi Geraldo Pereira. Claro que não. Foi mera provocação também quando lhes perguntei sobre João Gilberto. Nunca tinham ouvido falar.

Pois bem. O Geraldo Pereira, morto por um murro na boca do estomago desferido por Madame Satã, foi quem praticamente deu forma àquela tese - sem compromisso, a qual viria a se transformar mais tarde em doutrina da maioria da base aliada do governo da Dilma no Congresso ("Você só dança com ele e diz que é sem compromisso...")

Outro que sugeriu mais um ministério, o ministério do Samba, foi o Batatinha, como era conhecido o poeta baiano Oscar da Penha (1924-1997). Canta Batatinha! E ele até gravou num disco - "O samba bem que merecia / ter um ministério algum dia / aí então seria ministro / Paulo César Batista Farias..."

Está em aberto a ideia, mas não vai dar para contemplar a base aliada se a Dilma atender a sugestão do Batatinha. Esse ministro que ele está indicando aí, não é outro senão o nosso mui estimado Paulinho da Viola, o qual não quer nem ouvir falar em filiação partidária.

A palavra ministro para quem não sabe vem do latim "minus" que, em resumo, quer dizer servo, criado. Quem reclama das impaciências da Dilma, com certeza, esqueceu ou não sabe mesmo nada do latim ou do significado de certas palavras.

Daí que ainda não sei por que tantos no Judiciário fazem tanta questão de serem chamados de ministro quando melhor seria apenas juiz, que sendo bíblico tem mais a ver com o divino. Melhor parar por aqui.

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* Edson Vidigal é ex-presidente do STJ e professor de Direito na UFMA

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