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Desenganos sobre Lula

Fabio da Rocha Gentile

Não é difícil desfazer um engano: o segredo é aprofundar os fatos que induzem ao erro.

quinta-feira, 3 de março de 2016

Atualizado em 2 de março de 2016 12:55

Lula nasceu em Pernambuco, é um símbolo do nordeste brasileiro. Há muito dele que pouca gente sabe. Na infância, ouvia música clássica, Bach, Brahms e Schubert. Na juventude, Lula tornou-se psicodélico e chegou a ter aulas de pintura surrealista com o próprio Salvador Dalí. A partir da década de 80, juntou-se à Má Companhia.

Há um vídeo, fácil de encontrar na internet sob o título "O Clone", em que Lula "expõe a alma na bandeja" e revela preferir a música e a maconha à vida de político. Já sexagenário, foi acometido pelo câncer, na garganta.

Não, esse histórico não é da vida do ex-presidente da República. Puro engano induzido por um relato superficial de coincidências só casuais.

"O Clone" é o videoclipe de um grande artista pernambucano, o músico, pintor e poeta Lula Côrtes. Com Zé Ramalho, ele lançou "Paêbirú", a principal obra psicodélica brasileira. E "Má Companhia" é o nome da banda com a qual lançou outros álbuns.

Para completar o desengano, Luiz Augusto Martins Côrtes morreu em 2011, de câncer. Não teve a mesma sorte do outro Lula, o Silva.

Uma das canções de Lula, o Côrtes, chama-se "Desengano", sinônimo de desencanto, frustração, mas que também significa aquilo que desfaz o engano, algo que nos faz cair em si sobre a verdade.

Não é difícil desfazer um engano: o segredo é aprofundar os fatos que induzem ao erro, pois são seus pormenores, normalmente, que esclarecem uma história mal contada, ou mal-entendida. Feito o "tira-teima" das transmissões de futebol na televisão.


No campo jurídico, o raciocínio é o mesmo. A melhor defesa, sem dúvida, é a que reúne as provas de cada detalhe despercebido ou desconhecido, desmontando a versão contrária. Como num "quebra-cabeça", é uma questão de buscar as peças faltantes e reorganizá-las. A quem tem razão, nada mais eficaz do que reconstituir todo o histórico, remontar o quebra-cabeça, sem sonegar peças. Sem receio do tira-teima.

Como o ex-presidente nada tem que ver com experiências alucinógenas psicodélicas, bastou recorrer aos fatos, em seus detalhes, para revelar a confusão feita entre os Lulas. E se os fatos que ligam Lula da Silva ao sítio de Atibaia e ao tríplex do Guarujá são um tremendo engano, fruto de coincidências só casuais, basta demonstrar em pormenores como, quando, com quem e por que ele teria usado, como se fossem seus, bens alheios.

Desenganar versões equivocadas, descendo às minúcias e trazendo todas as peças ao tabuleiro, é a estratégia de defesa que se espera de quem contou com a confiança da maioria dos brasileiros. Nem seria demais ter de expor-se na bandeja, seguindo o exemplo do xará, o Côrtes. Fatalmente, o resultado será um desengano - sabe-se lá em qual dos sentidos da palavra.

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*Fabio da Rocha Gentile é sócio fundador do escritório BGR Advogados.

 

 

 

 

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