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O que a operação Carne Fraca e o Jogo Baleia Azul têm em comum?

O ponto em comum dos dois temas, é o prejuízo absurdo e irreparável que a divulgação, de algo irreal, na imprensa e na Internet, pode causar.

sexta-feira, 5 de maio de 2017

Atualizado em 4 de maio de 2017 09:22

Em 17 de março de 2017, foi deflagrada a maior operação já realizada pela Polícia Federal no Brasil, a operação Carne Fraca. A notícia desta operação, que moveu mais de mil agentes, logo se espalhou pelos jornais e pela internet. Em poucos dias, iríamos notar o poder que a divulgação referente a um tema pode ter, e os prejuízos que pode causar.

As notícias colocaram em suspeita a qualidade de, praticamente, toda carne produzida e consumida no Brasil. Os brasileiros e o mundo, influenciados pelo o que estava sendo anunciado na TV e jornais, e divulgado na Internet, começaram a acreditar, de maneira equivocada, que toda a carne vendida em nosso país seria de má qualidade, sendo esta estragada, vencida ou, até mesmo, misturada com papelão.

A reação foi imediata, e um mercado de US$ 3,5 bilhões em exportação estava ameaçado. Uma semana após as primeiras notícias e a viralização na Internet, o Brasil, que exportava US$ 60 milhões de proteína animal por dia, viu suas vendas caírem absurdamente para US$ 74 mil por dia.

Japão e China (maior destino da nossa carne bovina) suspenderam a importação de nossos produtos dessa categoria. No caso da União Europeia, Chile e Coreia do Sul foram anunciadas restrições referentes à compra da carne brasileira.

Uma investigação e uma operação referente à apenas 27 pontos de produção de carne bovina brasileira, em um total aproximado de 5 mil, com a cassação de 4 frigoríficos, e interdição de três (menos de 0,5% das empresas produtoras de carne no Brasil) colocou todo um mercado bilionário em cheque. Isto devido às notícias, e uma repercussão, divulgação e compartilhamento, de informações imprecisas e irreais, causando assim, prejuízos imensuráveis e irreparáveis aos empresários e ao nosso país.

Quase concomitantemente a tudo isso, um jogo mortal e criminoso começava a ocupar espaço na imprensa brasileira e, em pouco tempo, especificamente na semana do dia 17 de abril de 2017, tomou proporções gigantescas de divulgações na Internet e na imprensa nacional, o jogo Baleia Azul.

O jogo que surgiu e tomou forma na Rússia, devido a um boato falso (Fake News) de que um suicídio de uma jovem russa estaria ligado a um jogo. Rumor este, muito divulgado como real na Internet. Isso tudo começou a gerar diversas investigações de suicídios ligados a este possível jogo no país e, em pouco tempo, em quase toda a Europa. Com sua viralização na Internet, o jogo se tornou realidade.

Trata-se de um jogo em que alguns criminosos, denominados curadores, desafiam jovens a realizar tarefas, como cortar o próprio lábio, furar a mão com agulhas, até a tarefa final, que determina que o jogador tire a própria vida. Tudo ocorre pela Internet, e os desafios são encaminhados pelas redes sociais. A conduta dos curadores, caso o jogador se mate, é configurada como crime, previsto no artigo 122 do Código Penal brasileiro.

A notícia de que o suicídio de um jovem de 16 anos em Vila Rica/MT, e de um menino de 19 anos em Pará de Minas/MG, teriam, supostamente, ligação com este jogo, foi o start para uma repercussão gigantesca referente a este game na imprensa nacional e na Internet. Os desafios do baleia azul chegara ao Brasil.

Em poucas semanas, já teríamos oito estados brasileiros (SP, PR, MG, MT, PE, PB, RJ e SC) investigando diversas tentativas de suicídios, alguns consumados, com suposta ligação ao jogo Baleia Azul. Game macabro, que hoje existe em nosso país, graças a seu surgimento após a viralização e disseminação mundial do citado boato russo.

Mais uma vez, podemos ver o estrago e a influência que uma notícia, neste caso um boato (Fake News), ou seja, uma notícia irreal, falsa, com grande repercussão, pode causar. Tornando um rumor em um problema mundial, transformando o jogo Baleia Azul em realidade e, induzindo muitos jovens no mundo todo e no Brasil ao suicídio.

Assim, o ponto em comum dos dois temas, é o prejuízo absurdo e irreparável que a divulgação, de algo irreal, na imprensa e na Internet, pode causar. Vale lembrar o caso da Fabiane Maria de Jesus, que foi espancada até a morte no Guarujá/SP, em 2014, após a viralização na Internet de um boato equivocado que ela seria sequestradora de crianças.

Portanto, devemos todos ter muito cuidado com o que publicamos, compartilhamos ou noticiamos, sendo quase obrigatório, antes da divulgação, a pesquisa, o estudo e a investigação profunda sobre o assunto. Propagar algo que não condiz com a realidade, pode prejudicar e influenciar de tal maneira, que o resultado poderá ser um dano bilionário ou até mortal.

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*Luiz Augusto Filizzola D'Urso é advogado criminalista do escritório D'Urso e Borges Advogados Associados.

 

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