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Por que a IoT mudará sua vida antes das outras tecnologias

É essencial que qualquer aplicação envolvendo IoT seja permeada pelos melhores práticas e aparatos de seguranças disponíveis no momento de sua criação, como o emblemático caso em que um assaltante foi preso pelo próprio veículo, que usava incrementos de tecnologia disponíveis.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Atualizado em 16 de outubro de 2019 17:52

Dentre todas as novas ferramentas apresentadas diariamente no mercado de tecnologia o desenvolvimento e o uso da internet das coisas, famigeradamente conhecido como IoT é, sem sombra de dúvidas, a mais promissora nos próximos anos, especialmente em razão da ampla aplicação dessa tecnologia.

Os fãs de Blockchain, IA, realidade aumentada que me perdoem, mas a revolução mais próxima a acontecer deverá ser mesmo a envolvendo o uso de IoT. Em verdade, essa revolução já está acontecendo em alguns lugares do planeta, como veremos a seguir.

Segundo relatório do Gartner1, estima-se que mais de 20 (vinte) bilhões de aparelhos autônomos estarão conectados diretamente à internet em 2020. O aumento de produtividade, diminuição de custos e redução no tempo de ociosidade de aparelhos já são realidade graças ao uso, entre outras coisas, de aparelhos inteligentes.

Mas o que é e como funciona a IoT? Como esse tipo de tecnologia pode efetivamente romper paradigmas do dia a dia social? Quais os riscos envolvidos nesse novo ferramental?

Em linhas gerais, IoT ou internet of things é a habilidade de aparelhos se conectarem à internet enviando e recebendo dados de forma autônoma, desprovidos de intervenção humana para seu funcionamento diário.

Já o funcionamento de qualquer IoT depende invariavelmente de três requisitos: um controlador, um ou alguns sensores e, claro, o acesso à internet. Um exemplo tradicional é a Smart TV que você assiste sua série preferida ou ainda um carro autônomo, como já visto em projetos embrionários da Tesla e Google. Neste último exemplo há o hardware (o carro em si), sensores internos e externos (aproximação, velocímetro, pressão etc) e, por fim, um acesso à internet mediante um plano de dados ou antena.

Mas é preciso enriquecer esse debate por vezes reduzido, que se limita a uma geladeira doméstica ou mesmo ao esperado carro autônomo. Um exemplo prático pode ajudar.

Em novembro de 2018 uma importante ponte na maior cidade do Brasil sofreu visível desnível e até o momento ainda aguarda reparos definitivos para sua liberação, gerando caos, trânsito e mudando a rotina de centenas de milhares de pessoas que trafegam por aquele local, de uma linha de trem próxima inclusive. Como o uso de IoT poderia evitar esse tipo de incidente?

Nem mesmo a prefeitura de São Paulo sabe exatamente quantas pontes rodoviárias, ferroviárias e viadutos existem na cidade, mas é nítido que ao menos 70 (setenta) delas foram objeto de críticas2 por falta de conservação adequada pela prefeitura.

Por outro lado, a mais famosa ponte na cidade de Sidney na Austrália pode ser um exemplo de quão útil pode ser o uso de IoT para a vida humana, muito mais que uma geladeira inteligente encomendando sua cerveja gelada do fim de semana (o que também será fantástico).

A Harbour Bridge em Sidney ganhou voz após um experimento realizado envolvendo a implementação de mais de 3.200 sensores3 medindo vibrações, deslocamentos e também o desgaste natural da ponte construída inicialmente no ano de 19324. O uso de IoT na referida ponte é a prova de que a tecnologia, quando bem empregada, vai muito além do carro autônomo ou da geladeira inteligente.

É possível sonhar num futuro a médio prazo que os mesmos experimentos ocorridos em Sidney possam ser empregados na maior cidade da América Latina? Sou brasileiro e um otimista por natureza, ainda que a realidade exija maiores reflexões.

Avançando acerca do objeto das considerações deste texto, é importante analisar forma de linguagem computacional que garante a integração entre os aparelhos classificados como IoT. A mesma conexão de um ambiente hospitalar deve ser usada para uma fazenda inteligente, por exemplo? Como a conexão entre as "coisas" da internet das coisas é realizada?

Não é muito enfatizar que antes de tudo é preciso que haja, dentro da rede de conexão, algum roteador conectado à rede, garantindo o acesso à internet e, assim, viabilizando a comunicação entre todos as "coisas".

Obviamente que quanto maior a distância, sensibilidade dos dados e complexidade entre os dispositivos conectados, maior, mais ampla e sofisticada deverá ser o network de conexão dos aparelhos.

Imagine o leitor como funciona a conexão de uma rede de internet doméstica, por exemplo com um roteador, um sinal wi-fi, um computador e uma impressora. A pujança da conexão desses aparelhos será bem menor, simples e modesta do que os aparelhos conectados em uma pequena empresa, que conta com máquinas para vendas via cartão de crédito, computadores e demais aparelhos para o funcionamento da loja. E a conexão utilizada na loja será infinitamente mais modesta que as conexões utilizadas no exemplo da Harbour Bridge mencionado acima.

Desta forma, antes de um entusiasta pretender empregar o uso de IoT em seus negócios, é preciso estudar qual a melhor forma de comunicação desses aparelhos de acordo com o uso pretendido.

Ainda nesta linha, é preciso garantir o direcionamento correto das conexões envolvendo os aparelhos inteligentes. Mas, como garantir que, dentre as várias conexões e linhas de sinal que são transmitidas concomitantemente, o sinal do IoT não seja comprometido por um sinal de rádio, celular ou mesmo de por uma outra IoT paralela?

A resposta está na organização dos sinais e endereçamento de linhas de comando para as conexões. Em verdade, quando as "things" da internet ofthings são interligadas, elas previamente são endereçadas e conectadas ao local ou rede anteriormente projetado, evitando a perda de sinal ou, pior, o recebimento de sinal diverso. Ninguém quer receber um lote de berinjelas ao invés daquela cerveja gelada para do futebol de domingo, não é?

A conexão à internet na maior parte dos estabelecimentos ainda é feita ou por cabos (Ethernet, fibra, metal ou óptico), com posterior compartilhamento de sinal via WiFi. No uso envolvendo IoT a predileção é, pela própria natureza da tecnologia, o uso da rede sem fio, porém, qual a melhor forma de interconexão entre os aparelhos?

Em linhas gerais, é preciso se considerar a distância entre os aparelhos e os seus sinais, o ambiente em que essas conexões irão transitar, a quantidade e a velocidade esperada para o tráfego de informações e, claro, o custo de se empregar determinada metodologia.

Desta forma, se o empreendedor primar pela criação de uma fazenda inteligente, em que os dados precisarão transitar em grande extensão de terra à céu aberto, mas com moderada quantidade de informações, tanto o custo empregado no projeto quanto a forma de conexão precisarão ser adequadas a este propósito. É inegável, pois, que a criação de um plano de negócios bem estruturado também é fundamental para aplicação exitosa do uso de IoT.

A interoperabilidade de aparelhos no mundo da internet das coisas é um desafio que está sendo vencido paulatinamente após o emprego de estudos e projetos visando garantir uma melhor interação entre as mais variadas linguagens de programação e protocolos de conexão entre os aparelhos.

A criação de protocolos como o ZigBee5 ou LoRA6 são importantes iniciativas para o desenvolvimento de ferramentas que garantam a maior e mais assertiva interoperabilidade e segurança entre aparelhos, com menor custo e mais segurança em todos os projetos envolvendo o uso de IoT.

Ao final, é essencial que qualquer aplicação envolvendo IoT seja permeada pelos melhores práticas e aparatos de seguranças disponíveis no momento de sua criação, como o emblemático caso em que um assaltante foi preso pelo próprio veículo, que usava incrementos de tecnologia disponíveis7.

O emprego de níveis de segurança digital precisa acompanhar a sensibilidade e complexidade do uso do IoT. A segurança inserida em um ambiente hospitalar usando IoT é e deverá ser muito maior que num ambiente doméstico, por exemplo.

Nada obstante, a implementação e atualização de políticas de governança de dados, treinamento em segurança e testes de penetração são essenciais para mitigar o risco de qualquer incidente, especialmente os envolvendo cenários críticos com IoT.

O entusiasmo com novas tecnologias move o coração de apaixonados por inovações, mas a responsabilidade pelo uso desse tipo de ciência é igualmente relevante e por isso dever ser perseguida pelos envolvidos neste mercado, aí incluídos o desenvolvedor, a companhia que o insere no mercado e, claro ao departamento jurídico que deverá construir as políticas de privacidade, ferramentas de controle dos dispositivos e, mais que isso, será o órgão responsável por tratar eventual incidente decorrente de sua má aplicação.

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1 Disponível em: Gartner Says 8.4 Billion Connected "Things" Will Be in Use in 2017, Up 31 Percent From 2016. Acesso em 7/1/19.

2 Disponível em: SP tem 73 pontes e viadutos de SP com problemas, diz pesquisa; veja as piores. Último acesso em 8/1/19.

3 Disponível em: Innovation Central Australia - Intelligent Structures. Último acesso em 8/1/19.

4 Disponível em: Facts and History of Sydney Harbour Bridge. Último acesso em 8/1/19.

5 Disponível em: The ZigBee Protocol. Acesso em 10/1/19.

6 Disponível em: LoRa Alliance. Acesso em 10/1/19.

7 Disponível em: BMW Remotely Foils Would-Be Car Thief. Acesso em 10/1/19.

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*Henrique Rocha é advogado especialista em Direito Digital e Direito Processual Civil.

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