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Sempre aos domingos

O cinema foi a arte criada pelo homem contemporâneo para transmitir suas verdades muitas vezes, mas nem sempre, aplaudindo o que lhe parecia certo, tendo a coragem de criticar erros.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Atualizado em 3 de abril de 2008 08:25


Sempre aos domingos

Sérgio Roxo da Fonseca*

Feres Sabino**

O cinema foi a arte criada pelo homem contemporâneo para transmitir suas verdades muitas vezes, mas nem sempre, aplaudindo o que lhe parecia certo, tendo a coragem de criticar erros.

Um dos mais notáveis criadores do cinema acabou de falecer, dia 31 de março, com mais de noventa anos. Chamava-se Jules Dassin, era norte-americano. Foi casado com a grega Melina Mercouri que protagonizou um dos mais importantes papeis do cinema moderno, a prostituta de "Nunca aos Domingos". Vamos ao passado de Jules Dassin.

Ele e Burt Lancaster começaram suas carreiras num filme que, no Brasil, chamou-se "Brutalidade". Dassin como diretor e Lancaster como ator principal. Preto e branco daqueles. A história foi tirada de uma notícia de jornal que falava da brutalidade existente nas prisões norte-americanas, da qual resultou uma revolta que escandalizou o seu povo.

A crítica ao modelo penitenciário desencadeou forte repressão contra Dassin que, para continuar filmando, passou a residir primeiramente na França, para depois radicar-se definitivamente na Grécia.

"Rififi" foi nome da película que dirigiu na França em 1955. A música da trilha sonora imediatamente tomou conta de todas as paradas das maiorais. O vocábulo "rififi" internacionalizou, passando a significar no Brasil rixa, briga envolvendo muitas pessoas. Muito embora tenha como objeto o furto em uma joalheria, tratava-se de um filme de suspense, possivelmente inspirado em Alfred Hitchcock, pois estávamos na época da "nouvelle vague" francesa, muito influenciada por este mestre inglês. Com o filme "Rififi", Jules Dassin recebeu a Palma de Ouro em Cannes.

Em 1960 filmou sua obra mais famosa, "Nunca aos Domingos" que fala das dificuldades encontradas por um inglês que vai à Grécia para salvar aquele povo de sua decadência. Envolve-se com uma prostituta protagonizada por Melina Mercouri, que trabalhava durante toda a semana, menos no domingo. O inglês resolve resgatar a prostituta então transformada no símbolo da Grécia. Com "Nunca aos Domingos" recebeu "Oscar" de 1960.

Há nele uma cena ontológica. O inglês convence um músico popular que ele nada entendia de música, pois tocava de ouvido. O músico acredita na teoria e pára de tocar. A prostituta o encontra chorando num canto. Diz ela a ele que o canarinho da gaiola nada entende de fusas e semifusas, no entanto, canta o dia inteiro. E bem. Tome seu instrumento e vá tocar como o canarinho. O inglês entende de tudo, de fusas, semifusas, de mínimas e semínimas e não consegue tocar como você e nem cantar como o canarinho. Para espanto do inglês, o músico volta para sua música. E bem.

Os filmes de Dassin, muito fortes, não saem da nossa memória. Nem as músicas da trilha sonora. O jeitão do "Zorba", o "Grego"com certeza ecoa as visões de Dassin.

Dassin casou-se com Melina Mercouri, tornaram-se uma fortíssima barreira contra a ditadura grega. Agora ambos estão mortos. Mas muito vivos na memória de seu povo.

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*Advogado, Procurador de Justiça aposentado do Ministério Público de São Paulo, professor das Faculdades de Direito da UNESP e do COC.








**Advogado





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