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Entre as algemas e o foguetório

Após um curto período de abstinência do emprego de foguetório em suas operações, a Polícia Federal volta a insistir no erro de dar publicidade exagerada às suas ações, uma tolice que, se não influi na avaliação da sua boa imagem pela população, dá margem - e alguma razão - a críticas de advogados e do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, que, salvo falsa impressão, parece deixar transparecer resquícios de ranço contra a instituição, por conta da menção, num daqueles deploráveis vazamentos de informações, do nome de um seu homônimo envolvido em uma investigação.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Atualizado às 15:48


Entre as algemas e o foguetório

Luiz Leitão*

Após um curto período de abstinência do emprego de foguetório em suas operações, a Polícia Federal volta a insistir no erro de dar publicidade exagerada às suas ações, uma tolice que, se não influi na avaliação da sua boa imagem pela população, dá margem - e alguma razão - a críticas de advogados e do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, que, salvo falsa impressão, parece deixar transparecer resquícios de ranço contra a instituição, por conta da menção, num daqueles deploráveis vazamentos de informações, do nome de um seu homônimo envolvido em uma investigação.

As celebridades do mundo político e financeiro capturadas pela PF na operação Satiagraha, ao contrário do que alegam seus defensores, não foram presas por interferência do governo, mas depois de longas e criteriosas investigações a partir de informações que brotaram da Comissão Parlamentar de Inquérito - CPI - dos Correios. Decretadas pelo juiz Federal Fausto Martins de Sanctis, conhecido por sua sobriedade e especializado em crimes do colarinho branco, que foi prudente a ponto de negar, por falta de subsídios suficientes, o pedido de prisão contra o advogado e ex-deputado Federal petista Luiz Eduardo Greenhalgh, as detenções são extremamente salutares.

Já os reparos de Gilmar Mendes ao emprego de algemas resvalam para o terreno da implicância, pois ninguém se insurge contra a prática quando os algemados não são figuras de notória importância. Os advogados bradam que seus clientes não deveriam estar presos porque são conhecidos, têm endereço fixo. É verdade, mas também é fato que todos têm enorme poder de influência, podendo cooptar e ameaçar testemunhas, acionar contatos do mundo político, como teria tentado fazer outro envolvido em suposto esquema de corrupção, o deputado Paulinho da Força, e destruir provas. Vale dizer, diante disso, que os cinco dias de prazo das prisões são muito poucos.

Afinal, não se trata de uma quadrilha qualquer, mas de um mega esquema de desvio de dinheiro, uso de informações privilegiadas, as chamadas insider information, inclusive de dentro do Banco Central dos EUA, o FED, o que não é pouca coisa.

Como observou o deputado Osmar Serraglio - PMDB/PR -, a operação agora desencadeada, baseada em informações da CPI, desfaz a impressão de que as coisas acabam em pizza. Nem sempre, ou melhor, não para todos, porque as investigações posteriores à CPI foram feitas pela Polícia e pelo Ministério Público, que são as instituições que realmente investigam e denunciam, sempre mais imunes às pressões políticas.

O que transparece neste novo escândalo é que há muita gente importante envolvida e preocupada, como há no caso Alstom, que envolve gente do PSDB e talvez do PT e outros partidos - fala-se em informações "sensíveis", donde o leitor poderá concluir que a coisa é bastante séria -, as quais interessa condenar a ação detergente da Polícia Federal, que só peca pelo retorno à falta de discrição.

Parodiando a propaganda do Mastercard, ver a expressão do corrupto ante a negativa do delegado em aceitar um milhão de dólares para aliviar a sua situação, não tem preço. É graças a esses homens e mulheres sem preço que o país consegue avançar no combate ao oceano de corrupção, onde nada de braçada muita gente importante, enquanto um coitado permanece preso pelo furto de um pé de alface de setenta centavos.

Portanto, entre as algemas e foguetório, mantenham-se as primeiras e extinga-se este.

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*Administrador de empresas





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