dr. Pintassilgo

Santo Amaro

Mais de um milhão de pessoas passam diariamente pelo Largo Treze de Maio, no coração de Santo Amaro, ponto final de 16 linhas intermunicipais e 77 locais de ônibus. Um total de 3,2 milhões de viagens diárias, o equivalente a 11% de todo o movimento da região metropolitana de São Paulo.

Poucos sabem, mas segundo muitos historiadores, nasceu, provavelmente ali, o povoado mais antigo da região, mais antigo até mesmo que São Paulo.

Em 15 de janeiro, dia do santo que lhe dá o nome, Santo Amaro comemorou 452 anos. Dez dias mais tarde, São Paulo festejava seus 450 anos.

A região, antigamente habitada pelos índios guaianases, é formada por pontos muito conhecidos como a Igreja da Matriz (hoje, Catedral de Santo Amaro), o Largo Treze de Maio, a Praça Floriano Peixoto, a Casa Amarela (antigas prefeitura e subprefeitura), e o mercado velho (atual Casa da Cultura do bairro).

A história deste vilarejo, hoje um imenso bairro paulistano, data do começo do século XVI com os índios e é recheada de vicissitudes ; segue com jesuítas e bandeirantes e passa pela colonização portuguesa e alemã e pela independência da região no século XIX, seguida de sua anexação a São Paulo no século XX.

No início dos tempos, quando chegaram os primeiros guaianases, liderados pelo cacique Cáa-Ubi, Santo Amaro região distante quase 20 quilômetros do centro de São Paulo, situada sobre uma campina a 745 metros acima do nível do Oceano Atlântico e abrigada pela Serra do Mar ao sul era uma mata densa. Exuberantes e selvagens, fauna e flora eram alimentadas por abundantes águas cristalinas. Antes disso, no ano de 1532, as naus de Martin Affonso de Souza chegaram ao litoral paulista e encontraram o português João Ramalho casado com Bartira, filha de Tibiriçá – outro cacique dos guainases, que vivia no aldeamento de Tumiaru, hoje município de São Vicente. Cáa-Ubi nunca confiou nos estrangeiros e decidiu se afastar daquele grande aldeamento – localizado logo depois da transposição da Serra do Mar, onde foi fundada a hoje cidade de Santo André, elevada à vila em 1553 pelo governador geral Thomé de Souza.

O cacique e seus homens entraram pela mata adentro até encontrar o rio Jeribatiba depois denominado Jurubatuba. Hoje os rios paulistanos, já procuraram outros caminhos subterrâneos para continuar sua senda. Uns foram canalizados, outros sumiram, mas apenas dos olhos, pois continuam vertendo no subsolo, onde fluem rápidos, mas sem a pressa dos moradores de cima.

De fato, mal sabem os milhares de transeuntes santamarenses o quanto é rico e fértil o solo que pisam.

Cáa-Ubi fez o assentamento na margem esquerda, construiu suas ocas e fundou o aldeamento de Virapuéra, mais tarde chamado de Ibirapuera, que significa mata grande. Começava, então, a história de Santo Amaro, região para a qual, depois dos índios, seguiram os jesuítas, entre eles impossível não destacar a figura de José de Anchieta.

Naquele remoto tempo, uma imensa planície deserta e desabitada, e mais ao fundo um longo espigão montanhoso, separava o que seria o centro de São Paulo do povoado de Santo Amaro.

Em Cupecê, próximo ao local, o casal João Paes e Suzana Rodrigues, vindo de Portugal com Martin Affonso de Souza, passou a lavrar as terras recebidas por sesmaria, cujo documento original encontra-se hoje no Arquivo Nacional. Devotos, eles guardavam em casa a imagem de Santo Mauro, depois denominado Santo Amaro.

Da aldeia dos índios guaianases à beira do rio Jeribatiba (Jerivá – palmeira que produz cocos e tiba – abundância), na localidade de Ibirapuera (mata grande), a aldeia do cacique Caá-ubi foi fundada a cidade de Santo Amaro.

Em junho de 1556 na Capitania de São Vicente os jesuítas estavam repartidos em três locais determinados pelo Padre Provincial dos Jesuítas - Manoel de Nóbrega: Casa de São Vicente (São Vicente); - Casa de São Paulo da Companhia de Jesus (São Paulo) e Jeribatiba (Santo Amaro), locais onde os jesuítas realizavam trabalhos de catequese e educação de crianças índias e mamelucas.

José de Anchieta vindo do povoado de Piratininga, em uma das várias vezes que visitou a Aldeia de Jeribatiba percebeu que devido ao número de índios catequizados e colonos instalados na região, que era possível constituir ali um povoado, idéia aprovada pelos moradores.

Para tanto se fazia necessário a ereção de uma capela, e para este fim precisava-se de uma imagem a quem esta capela seria dedicada.

Sabia-se que pela região de Cupecê moravam João Paes e sua esposa Suzana Rodrigues, possuidores da imagem de um santo de sua devoção, que ao saberem da proposta de Anchieta da criação de um povoado doaram a imagem de Santo Amaro (imagem até hoje preservada) para a capela “feita de taipa de pilão, não forrada”.

A capela foi erigida em 1560, e neste mesmo ano, Anchieta rezou a primeira missa na região.

Santo Amaro, nasceu em Roma, seu pai pertencia ao Senado Romano, aos 12 anos de idade Santo Amaro foi entregue aos cuidados de São Bento. Se tornando um monge exemplar, logo serviu de exemplos para outros religiosos. Ficou ainda conhecido por salvar São Plácido de um afogamento em circunstâncias milagrosas; se tornou o herdeiro espiritual de São Bento, é atribuído a ele a fundação Instituto Beneditino nas Gálias, famosos pelo ensino e erudição dos seus monges.

Era uma época pioneira marcada por fatos notáveis como os relatos de milagres de José de Anchieta lá na Aldeia de Jeribatiba; dos registros sobre o caminho dos índios guaranis que passando por Ibirapuera ia até a Cidade do Paraguai (Assuncion – no Paraguai) ou ainda da criação em Ibirapuera da do primeiro engenho de ferro do Brasil, com minérios existentes na região, isto em 1606.

Em 1686, o Bispo do Rio de Janeiro D. José E. Barros Alarcão confirma a capela curada em Ibirapuera, distrito de São Paulo, elevando assim o povoado a categoria de freguesia com o nome de Santo Amaro.

E por muito tempo a região será conhecida por diversos nomes indígenas como: Birapuera; Virapuera; Ibirapuera; Geribatiba; Geribativa; Jeribatiba; Santo Amaro de Virapuera; Santo Amaro de Ibirapuera, até que tomasse definitivamente o nome de Santo Amaro.

Santo Amaro onde no século XVII nasceria o célebre bandeirante Manoel de Borba Gato, um caçador de esmeraldas – possuía terra fértil, própria para a agricultura. Cultivava-se farinha de mandioca e de milho, alimentava-se o gado. Nela também abundava o ferro e, assim, no começo de 1600 fundou-se o primeiro engenho do metal, de propriedade de dom Francisco de Souza, Diogo de Quadros e Francisco Lopes. Não durou, contudo, mais de 30 anos, por falta de mão de obra adequada, dificuldades no transporte e a morte de um dos sócios.

Pouco a pouco, a vida em torno da paróquia foi se organizando. O primeiro vigário, padre João de Pontes, só apareceu em 1686, quando Santo Amaro foi elevado à condição de freguesia. Este cotidiano mudaria drasticamente a partir da independência do Brasil.

A necessidade de mão-de-obra mais especializada do que aquela do elemento servil, se fez notar logo após a Proclamação da Independência.

Em 1827, o Visconde de São Leopoldo, ministro do interior, cogitou da fundação de núcleos coloniais paulistas, mandando, para tal fim, proceder trabalhos preparatórios.

Quando na presidência da província de SP, o dr. José Antonio Saraiva, recebeu aviso, datado de 8 de novembro de 1827, determinando que tomasse providencias para o recebimento de colonos estrangeiros (para que fossem devidamente aboletados os imigrantes), que em breve sairiam da Corte.

Logo depois, para que fosse instalado, no rio Negro, então território de SP, o primeiro núcleo colonial oficial.

Em 1828, por meio de uma portaria do ministro do Império José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de São Leopoldo, nascido em Santos, chegaram os primeiros colonos estrangeiros vindos de Bremen, na Alemanha.

Eles embarcaram na galera holandesa Maria em 1827 e desembarcaram no litoral paulista em 1828. No decorrer do ano seguinte, entraram em SP 149 famílias e 72 pessoas avulsas todos imigrantes alemães que, enviados para Santo Amaro, constituíram a colônia deste nome sob a direção do dr. Justino de Melo Franco. Eram os Forster, Schunck, Hannickel, Helfstein, Klein, Teisen, Klauss, entre outros, que se fixaram na região. Eles adotaram a terra com o seu coração e começaram a impulsioná-la até atingir sua pujança na primeira metade do século XX.

De conformidade com o estipulado em aviso ministerial de 21 de marco de 1827, foi concedido a cada família 400 braças quadradas.

Em 16 de fevereiro de 1829, o conselho da presidência e instruções e cláusulas contratuais elaboradas pelo Conselheiro José Arouche de Toledo Rendon, “do modo como se hão de fazer os engajamentos dos colonos vindos para essa província, estabelecidos na margem do Taquaquecetuba, distrito da freguesia de Santo Amaro, termo na cidade de SP e na capela do rio Negro, termo da vila do Príncipe, comarca de Curitiba.”

Assim, em 1829, ocorre a primeira instalação efetiva de uma colônia de imigrantes alemães no Estado de São Paulo, isto na região de Santo Amaro (Parelheiros ).

Até hoje, e deste ponto de vista, vendo do sul para o norte, que os alemães enxergam a capital de SP. Diferentemente são os descendentes de italianos, que chegaram mais tarde e foram para o nordeste do Estado. Para estes, o mapa da cidade é visto ao contrário. A entrada de SP é no Norte. São os pontos de referência.

Em 1832, Santo Amaro deixou de ser freguesia e foi reconhecido como município. Seu primeiro prefeito foi o capitão e comendador Manoel José de Moraes. A Câmara era composta por sete vereadores – depois, nos anos 50 do século XX, José de Oliveira Almeida Diniz, o “Zé da Farmácia”, que com os seus irmãos administrava a botica e era grande benfeitor do bairro, conhecido por sua generosidade com os pobres, passaria por esta casa sendo eleito duas vezes. Seu nome, para imorredouro registro, esta numa de suas vias de acesso, a avenida Vereador José Diniz.

Logo após a elevação da Freguesia de Santo Amaro a Vila, o que se deu em 1832, na oitava Seção da Câmara Municipal foi "pedido para se edificar a Cadeia, Casa da Câmara, Cemitério,Curral, Açougues e Casinhas".

A 7 de abril de 1833, cumprindo determinação da Câmara Municipal de São Paulo, reúne-se o eleitorado paroquial, elegendo 7 vereadores para a constituição do legislativo da cidade de Santo Amaro, agora sim desvinculada e autônoma. A partir de então Santo Amaro adquire as feições de uma cidade vigorosa.

A caracterização econômica da Vila de Santo Amaro conforme menciona Azevedo Marques : "a lavoura deste Município é de cereais com que abastece o Município da Capital, assim como exporta madeira, carvão , pedra de cantaria e fabrica algum vinho".

Em 1835, cria-se a corpo de militares da Guarda Nacional em Santo Amaro, dois de infantaria e um de cavalaria.

A partir daí, Santo Amaro passou por vários momentos históricos.

À mesma altura, Francisco Antonio Chagas, que mais tarde dirigiria o movimento para a criação do município de Santo Amaro, fundou a primeira escola da região.

1841 - Escola Pública.

Um dos alunos era seu filho Paulo Eiró, posteriormente reconhecido como um talentoso e célebre poeta brasileiro e um dos mais ilustres santamarenses.

Na época, também foram fundados o primeiro jornal e a primeira corporação musical.

1868 - Primeiro jornal “Santo Amaro”.

A vida ia se desenvolvendo naquele pacato município.

1885 - Inauguração da iluminação a querosene.

Pouco tempo mais tarde, a tração animal foi substituída por carros a vapor e, em seguida, chegou a Santo Amaro a primeira composição a transitar pela estrada de ferro, que se estendia desde São Paulo por 20 quilômetros.

Com muita festa, os santamarenses receberam a visita dos imperadores do Brasil em 1866.

16 de novembro de 1886, inauguração da linha férrea de São Paulo a Santo Amaro e visita a Santo Amaro pelo Imperador Dom Pedro II e Dna. Leopoldina.

E mais festejos acompanharam a abolição da escravatura e o advento da República.

A população gostava de festejar.

Mas a epidemia da varíola também lhe assaltou, enlutando muitas famílias.

No final do século XIX, construiu-se a primeira Igreja da Matriz (a atual é de 1924) no lugar da capela inicial.

Em 1893, Carlos da Silva Araújo, manifesta na Seção de sua posse na Câmara Municipal: "considerando que a falta de mercado nesta Vila, torna-se vexatória aos seus habitantes, mormente a classe menos favorecida da fortuna. Considerando que desta falta resulta o monopólio dos gêneros de primeira necessidade que são vendidos pelos produtores aos comerciantes, por atacado, com grave prejuízo ao varejo franco ao povo....”

Desta forma foi levado ao estudo o plano de construção de um Mercado Popular na Vila de Santo Amaro, mas mesmo assim foi visto que não era possível a construção imediata e portanto foi criado o Mercado Provisório, passando a funcionar em um "barracão no Largo Municipal", regulamentando assim as tabelas de preços e impostos sobre os gêneros.

Por aquele tempos também foi fundado o Teatro Pindorama e fez-se a Praça Floriano Peixoto. E Santo Amaro entrou no século XX com seu pacato, tranqüilo e feliz cotidiano formado.

1896 - Jardim Público (atual Praça Floriano Peixoto).

Ainda era uma terra de verdes campos, água cristalina, brisa pura vinda do mar longínquo. A agricultura continuava imperando. Os principais meios de transporte eram os cavalos e as carroças puxadas por bois.

Foi aberto o grupo escolar Grupo Escolar de Santo Amaro – uma bela construção colonial destruída na década de 1970 –, surgiram seminários e conventos.

1910 - Inauguração do prédio do Grupo Escolar de Santo Amaro, denominado posteriormente Grupo Escolar Paulo Eiró (atual Praça dos Mosaicos).

O visconde de Taunay criou o brasão do município com os dizeres “Antiquissimum Genus Paulista Meum” (pertenço à mais velha sociedade paulista). Instalaram os primeiros telefones. Os modernos lampiões a gás foram logo substituídos pela energia elétrica. Os jovens faziam “footing” na praça, sob o olhar atento dos mais velhos. Muitos casamentos que perduram até hoje foram forjados neste vaivém de rapazes e garotas.

Neste ambiente interiorano, em 10 de julho de 1932 o município estava pronto para comemorar seu centenário. Seus edifícios foram ornamentados. O palco do teatro São Francisco foi preparado para receber Rigoletto, ópera de Verdi. A população estava em polvorosa e os festejos se estenderiam por vários dias.

Mas nada disso aconteceu.

Naquele mesmo dia chaegava a notícia : São Paulo pegara em armas para exigir a Constituição ao ditador Getúlio Vargas.

Sem pestanejar, os santamarenses se engajaram na luta, e esqueceram os folguedos. Organizaram a “Companhia Isolada de Santo Amaro”, ao que se sabe, o primeiro contingente que se formou em 32.

Mas o primarismo deste povo custou caro.

Em 21 de fevereiro de 1935, Santo Amaro se deitou município e acordou dia 22 como um pesadelo. Era um bairro de São Paulo.

Decreto Nº 5.983 de 22 de fevereiro de 1935

O Doutor Armando de Salles Oliveira, Interventor Federal no Estado de São Paulo usando das atribuições que lhe são conferidas pelo decreto federal nº 19.398 de 11 de novembro de 1930,

Considerando que dentro do plano geral de urbanismo da cidade de São Paulo, o município de Santo Amaro está destinado a construir um dos seus mais atraentes centros de recreio;

Considerando que para a organização desse plano o Estado tem que auxiliar, diretamente ou por ato da Prefeitura, as finanças de Santo Amaro, tanto que desde já declara extinta sua responsabilidade para com o Tesouro do Estado, proveniente do contrato de 18 de julho de 1931, e que muito onera o seu orçamento e dificulta a sua expansão econômica e cultural;

Considerando que, liquidada essa dívida todas as suas rendas poderão ser aplicadas no seu próprio desenvolvimento;

Considerando ainda que o Estado não só se dispõe a incrementar em Santo Amaro, a construção de hotéis e estabelecimentos balneários que permitam o funcionamento de cassinos, com também já destinou verba para melhorar as estradas de rodagem que servem aquela localidade, facilitando-lhe todos os meios de comunicação, rápida e eficiente com o centro urbano;

Decreta:

Art. 1.º - fica extinto o município de Santo Amaro, cujo território passará a fazer parte do município da Capital, constituindo uma sub-prefeitura, diretamente subordinada à Prefeitura de São Paulo.

Art. 2º - O subprefeito será nomeado pelo Prefeito da Capital com os vencimentos anuais de 24:000$000 (vinte e quatro contos de réis);

Art. 3º - Serão mantidos os direitos dos atuais funcionários da Prefeitura de Santo Amaro, que poderão servir na sub-prefeitura ora, criada, ou ser reaproveitados na Prefeitura da Capital.

Art. 4º - Fica o Tesouro do Estado autorizado a cancelar o adiantamento de 500:000$000 (quinhentos contos de réis); atualmente acrescidos dos juros de 124:658$600 e que foi feito ao município de Santo Amaro em virtude do contrato de 18 de julho de 1931, abrindo-se para esse fim o necessário crédito.

Art. 5º - Este decreto entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Palácio do Governo do Estado de São Paulo, aos 22 de fevereiro de 1935,

ARMANDO DE SALLES OLIVEIRA

Valdomiro Silveira

Francisco Machado de Campos

Publicado na Secretaria de Estado dos Negócios da Justiça, em 23 de fevereiro de 1935.

Anexado à cidade de São Paulo, até hoje, há santamarenses que acreditam que tal desventura se deu pela rivalidade após as batalhas de 32. Mas o argumento do governo foi que o município devia 500 contos ao Tesouro do Estado.

Daí por diante, Santo Amaro e São Paulo tem as mesmas histórias.

Começaram a surgir os loteamentos de classe média nas antigas granjas e chácaras. Em 1960, Santo Amaro contava com uma área de 640 quilômetros quadrados habitados por 26 mil pessoas. Pelo menos 10 mil alqueires ainda eram agrícolas e 15% de pastos e campos estavam cultivados com cereais, batatas, frutas, mandioca, fumo, cana e verdura.

Havia 400 estabelecimentos comerciais em Santo Amaro, entre eles, pelo menos açougues, seis alfaiatarias, 15 lojas de tecidos, 60 armazéns, 80 bares. Mas o bairro também se tornou importante pólo industrial, com pelo menos 500 indústrias catalogadas.

Nos anos 70, criaram-se as sub-regiões e Santo Amaro foi fragmentado.

Ainda insatisfeitos com a anexação Santo Amaro à capital, os santamarenses foram às urnas em plebiscito sobre a emancipação, em 15 de setembro de 1985. No entanto, dos 60.383 moradores que votaram, 56.232 rejeitaram a proposta.

De acordo com a Secretaria Municipal Planejamento, atualmente a região de Santo Amaro é composta pelos distritos de Campo Belo, Campo Grande e Santo Amaro, em uma extensão territorial de 37,5 delimitados pelas avenidas Washington Luiz, Nações Unidas Bandeirantes e habitada por 217.282 pessoas.

"Considerando a área do antigo município de Santo Amaro e seus limites anteriores, ela representa 640 km2 ou 45% do território de São Paulo. É habitada por mais de 3,5 milhões de pessoas e representada por mais de 1,6 milhões de eleitores." Teruo Yatabe, advogado santamerense - ex-superintendente da Distrital de Santo

Esta história desemboca no turbilhão caótico que é hoje o centro do bairro, desfigurado pelas barracas de milhares de camelôs ilegais, pelas pichações, poluição áudio-visual e atmosférica e pelos seus malcuidados edifícios históricos Mas em seu entorno ainda se encontram resquícios dos velhos tempos, com ruas arborizadas e tranqüilas, onde acorrem os pássaros e seus habitantes guardam a memória de Santo Amaro.

É, de fato, um mundo à parte de São Paulo.

É um caleidoscópio, cujo ponto focal pode ser um quadro do artista plástico santo-amarense Júlio Guerra, produzido nas primeiras décadas do século passado, que retrata um mercado velho, o Largo 13 de Maio e a Igreja de Santo Amaro, com pessoas languidamente nas ruas de terra ou em cenas de enterro, como se as horas não passassem.

  • Personagens históricos da cidade

Borba Gato

Era Manuel de Borba Gato filho de João Borba e de sua mulher Sebastiana Rodrigues e foi casado com Maria Leite, filha de Fernão Dias Pais. Acompanhou seu sogro ao sertão à mando do governador de São Paulo, Afonso Furtado de Castro, procurar a mítica serra de Sabarábuçu, jázida de esmeraldas e prata, isto de 1674 a 1681. Após a morte de Fernão Dias, por ocasião da ida do administrador-geral das minas D. Rodrigo de Castel Blanco àquele sertão, teve desentendimentos com esse delegado régio, devido a sua inação em fazer entradas no sertão para procurar esmeraldas resultando mata-lo, numa estrada que ia ter ao arraial do Sumidouro, em 28 de agosto de 1682. Por esse crime foragiu-se para o sertão do rio Doce e somente em 1700 reapareceu no povoado, recomendando o governador do Rio de Janeiro que se fizesse silêncio no seu processo, no interesse dos descobrimentos de ouro que fizera e desde 1678 vinha tentando no rio das Velhas e na chamada serra de Sabarábuçu. Mas somente em 1700 trouxe ele a São Paulo, apresentando a Artur de Sá e Meneses amostras de ouro paliado, regressando logo a seguir para o sertão da Sabarábuçu, (atual Sabará /MG) em companhia de seus genros Antônio Tavares e Francisco Arruda. O fato é confirmado pela carta de sesmaria passada à Irmandade de Santo Antônio do Bom Retiro, da matriz de Roça Grande, por Antônio Coelho de Carvalho, em 7 de fevereiro de 1711, na qual se diz que foi ele o primeiro povoador e minerador do rio das Velhas (atual Sabará/MG). Por provisão de 6 de março de 1700 foi Borba Gato nomeado guarda-mor desse distrito e pela de 9 de junho de 1702, superintendente das minas do mesmo rio. Pela carta de 18 de abril de 1701, Artur de Sá e Meneses autorizou-o à posse das terras "terras entre os rios Paraopeba e das Velhas, chapadas da serrania de Itatiaia". Teve ainda Borba Gato carta régia de elogios pelos serviços prestados, ocupou várias vezes a superintendência geral das minas, foi provedor dos defuntos e ausentes e administrador das estradas. Criou nas suas terras duas grandes fazendas, a do "Borba" no ribeirão do Borba e a do "Gato", no distrito do Itambé. Faleceu segundo Diogo de Vasconcelos em 1718, quando exercia o cargo de juiz ordinário da vila do Sabará, tendo cerca de noventa anos de idade. Segundo registros encontra-se enterrado em Paraopeba/MG e em Santo Amaro, é o guardião na entrada do Bairro em uma obra do nosso escultor Júlio Guerra, na confluência das Avenidas Adolfo Pinheiro e Santo Amaro.

Francisco Antonio das Chagas

Para um homem daquele tempo e por morar em uma Vila do interior, seu "Chico Doce", como foi conhecido por ser muito amável e religioso, era um homem culto, politizado e dominava algumas línguas. Nasceu em 1786 e ficou órfão aos 5 anos, sendo criado por uma negra (escrava). Pouco se sabe sobre sua infância e seus genitores; apenas que ele era sobrinho do Capitão Bento José de Salles, dono do imóvel mais bonito da Vila: "o sobrado". A pobreza de sua infância não atrapalhou sua cultura e criatividade; contam que tinha apenas uma muda de roupa para vestir e quando a mesma era lavada ele ficava escondido no mato. Deste fato ele criou uma estrofe:

"Amanhã é dia Santo

Dia do Corpo de Deus

Quem tem roupa vai à missa

Quem não tem, faz como eu ."

Aos 17 anos, no dia 4 de outubro de 1813, casou-se com Miquelina de Moraes, sua prima da mesma idade. Mas breve ficou viúvo com dois filhos: Claridade e Job, e seus filhos também acabaram sendo criados por uma escrava, a Gertrudes. Era um homem das letras; seu passatempo predileto era a leitura e não tinha muito tempo para se dedicar aos filhos e a outro casamento. Sua residência na rua Direita (atual Capitão Thiago Luz) durante a semana era uma escola, mas aos fins de semana ia para sua Chácara, onde além das leituras dedicava-se ao estudo da botânica. O seu parente, aquele do famoso "sobrado", tinha muitas filhas e aos quarenta anos esse professor, viúvo, 2 filhos, fica conhecendo uma das filhas mais novas, Maria Angélica, com a qual vem se casar no dia 8 de maio de 1827. Deste matrimônio nasceram 5 filhos: Emygdia (1828); Casemiro (1830); Maria Seraphina (1832); Paulo Francisco de Salles (15 de abril de 1836) e Lucas em 1840. Seu quarto filho, Paulo Francisco de Salles, foi batizado em 25 de abril de 1836, mas ninguém sabia era que ele um dia seria o maior poeta que Santo Amaro já teve: Paulo Eiró! Quando Paulinho nasceu seu Francisco já havia sido nomeado professor público (1831) e Santo Amaro já era um Município (1832). Na política, Francisco da Chagas, foi um dos líderes da emancipação de Santo Amaro: como recompensa foi o primeiro presidente da Câmara de Vereadores (1832). Tal tarefa foi árdua pois seus colegas da edilidade não produziam nada para o Município, e em 17 de junho de 1834 tomou a tribuna da Câmara (naquela época ainda na Igreja Matriz) para exorta-los a trabalhar para o Município, pois caso contrário iria propor ao Governo do Estado, retornar o Município à condição de Freguesia. Este discurso inflamado teve efeito pois logo em breve passaram a contar até com um Prefeito! Mas a educação e a cultura sempre presentes em sua vida contribuíram para esmerar na educação dos filhos, tanto que seu filho Paulo Eiró conhecia francês, alemão, latim, grego, italiano e inglês. Em 1848 traduziu as "Taboas Chronogicas" junto com seu filho Paulo, que contava na época com apenas 12 anos. Sua filha Emygdia, aos 19 anos, prestou exames para professora (naquela época era em São Paulo na Faculdade de Direito São Francisco) e foi aprovada com brilhantismo e seu filho Casemiro seguiu a carreira eclesiástica chegando a padre. Além da Escola que fundou na cidade também montou um Biblioteca para que todos tivessem acesso aos seus livros. Por mais de 40 anos dedicou-se ao magistério e aposentou-se em 1855, sendo substiuido pelo filho Paulo, que por diversas vezes licenciou-se do cargo deixando o Pai trabalhando em seu lugar. Francisco das Chagas, seu Chico Doce, tão importante na Frequesia de Santo Amaro quanto no novo município de Santo Amaro, piedoso, religioso, culto, talvez a sua maior provação de sua vida foi quando pediu a internação de seu inteligente, mas esquisito filho Paulo no manicômio, e isso quando tinha já quase 80 anos de vida. Seu sofrimento foi tão grande que achava que acreditava ser um castigo pelo seu orgulho ! Faleceu a 7 de outubro de 1867, três anos apenas antes de seu filho doente.

Paulo Francisco Emílio de Sales, o poeta Paulo Eiró

Paulo Francisco Emílio de Sales, o poeta Paulo Eiró, nasceu, quando Santo Amaro era Município, em 15 de abril de 1836, filho de Francisco das Chagas e Maria Angélica. Seu pai era o Professor Antônio Francisco das Chagas, que foi também o primeiro Presidente da Comarca de Santo Amaro. Aos 11 anos se apaixonou pela prima Cherubina Angélica de Salles, que foi sua musa por toda a vida. Paulo já lia em francês e aos 12 anos escreveu junto com o pai: Taboas Chronologicas. Aos 19 anos formou-se pela Escola Normal de São Paulo e foi nomeado como professor em Santo Amaro, exercendo o magistério por oito anos com intervalos. Nos primeiros anos de magistério a vida de Paulo Eiró foi tomada de uma verdadeira febre para a poesia, não conseguia disfarçar a paixão que sentia pela prima e musa, mas a esperança de conquistá-la acabou, pois a mesma estava de casamento marcado. Ele começou a ficar absorto nas aulas e, à noite os santoamarenses viam-no a caminhar pela Vila, o olhar perdido no chão. Começaram então os passeios pelos lugares próximos nos quais gastava o dia inteiro e não almoçava e nem jantava. Apesar da preocupação da mãe, ele sentia o enfadamento de tudo, somente uma esperança o animava: entrar na Faculdade de Direito. Entrou para a faculdade, licenciando-se na Escola Primária da Vila e transferindo sua residência para São Paulo. Ficou conhecido como um poeta admirável e suas poesias eram cantadas nas Arcadas acadêmicas do Largo de São Francisco (onde não chegou a completar o primeiro ano). As esquisitices anteriores da época da Vila que haviam desaparecido no início do período estudantil, retornaram de uma hora para outra, queria sempre ir para casa e se fechava no quarto, não almoçava, não jantava. Às vezes seguiam-se dias de entusiasmo e bastante estudo até a próxima crise. A família preocupada trouxe-o para Santo Amaro, aí a próxima esquisitice foi mística. Inflamou-se no desejo de matricular-se no Seminário e não aceitava conselhos para demover tal idéia. O pai, que já tinha outro filho ordenado padre, até que não achou má idéia, e acompanhou-o ao Seminário Episcopal no Bairro da Luz. Neste período, Paulo Eiró, já contava com 23 anos e era considerado pelos colegas do Seminário como velho, contribuía também sua expressão facial sempre triste e o ar de ausência. Com o seu humor novamente em crise andava pelo quarto, ou então espalhava pelo Seminário suas poesias tristes e abolicionistas, motivo pelo qual foi aconselhado a voltar a Santo Amaro e a seu pai foi sugerido que destruísse os cadernos com suas poesias o que foi feito pelo Professor Francisco das Chagas. Sua próxima esquisitice foi a viagem a Mariana/MG, novamente os conselhos de nada adiantaram e sua partida aconteceu sob os olhares tristes da mãe e do pai. Da viagem, a família pouco teve noticia, exceto que quando pelo caminho pernoitou, na casa de parentes e amigos, mas se sabe que ele não conseguiu chagar a Mariana/MG. Como a viagem foi feita a pé, durante meses não se teve noticia dele. Vamos reencontrá-lo, voltando sem a bagagem, tendo no bolso apenas um livro gasto de anotações. Ao entrar em São Paulo, sente uma movimentação nas proximidades da Praça da Sé, muitos carros e luzes, então resolve ir até lá. Com aguda curiosidade resolve entrar na Igreja. Era um casamento, mas ao reconhecer a noiva vê que é a sua musa, a mulher que ele tanto amou agora se casava e estava perdida para sempre. Até os padrinhos eram seus amigos e parentes, mas ninguém notou sua presença e novamente se põe, a pé, de volta para voltar para Santo Amaro. Veio compondo a poesia:

FATALIDADE:

Que vista! O sangue se afervora e escalda!

Por que impulso fatal fui hoje à Igreja ?

Quer meu destino que, ao entrar, lá veja

Noiva gentil de cândida grinalda.

Nos olhos sem iguais, cor de esmeralda,

Lume de estrelas, plácido lampeja:

Seu branco seio de ventura arqueja;

Louros cabelos rolam-lhe da espalda.

Hora de perdição! Sim adorei-a;

Não tive horror, não tive sequer medo

De cobiçar uma mulher alheia.

Unem as mãos; o órgão reboa ledo;

Em alvas espirais, o incenso ondeia...

E eu só, longe do altar, choro em segredo !

Novamente morando na Chácara, a vida sem sentido e morosa da Vila, Paulo Eiró, se dedica a escrever e faz também viagens, a Tatui, a Sorocaba e proximidades. Passa-se o tempo e o poeta encontra-se envolvido numa viagem ao Rio de Janeiro através do Porto de Santos, aonde chegou a pé. Da viagem à Corte, sem dinheiro, novamente não ficaram registros, mas sabe-se que a convivência intelectual era pura emoção. Naquela época pelo Rio de Janeiro circulava Machado de Assis, Bernardo Guimarães, José de Alencar, entre outros. Na volta para a Chácara dedicando à poesia, foi convidado pela Comissão dos Festejos pelos 36 anos de S.M. Imperial D. Pedro II, para ceder os originais do drama Sangue Limpo que seria representada em São Paulo. Paulo Eiró participou da montagem e marcação das cenas . entusiasmado. Nos ensaios em São Paulo, sua alegria era tamanha, novamente Paulo Eiró, estampava no rosto a felicidade e junto ao grupo de artistas renomeados da época ele reencontra a lucidez, chegando muitas vezes a transmitir com sua fala o significado do texto. O dia 2 de dezembro de 1861 (dia das comemorações) começou com paradas militares, missa na Igreja da Sé e à noite no teatro São Paulo, localizado no Pátio do Colégio, foi encenado o espetáculo com a presença dos figurões do Governo, estudantes, e quase todos os moradores de São Paulo. Apesar da emoção presente em Paulo Eiró a crítica dos jornais não foram favoráveis e ao lê-las com decepção, novamente retornaram suas crises. Nos próximos dois anos Paulo Eiró, dedica-se, em meio a crises, a dar aulas na escola primária em Santo Amaro, mas as alternâncias da sua demência obrigaram os familiares a pedir seu afastamento. As viagens ficavam cada vez mais freqüentes, ele ia a São Paulo e ao Rio de Janeiro, havia períodos em que não se tinha noticias dele, sem noção do tempo retornava à Chácara, sua saúde estava cada vez mais precária e a família criou o hábito de deixar o portão fechado para que ele não fugisse. Mas em um domingo, pela manhã, ele encontra o portão aberto, atravessou a Vila e entrou na Igreja de Santo Amaro. Era hora da missa e todos estavam presentes e sem que a sua família notasse ele começou a interferir no que o padre falava. Todos ficam pasmos ao ver sua ousadia de falar durante a Santa Missa,seu pai, leva-o de volta para casa mas só a toma consciência que era hora de interná-lo quando ele quebra um crucifixo. Em maio de 1866, Paulo Eiró, aos 31 anos, foi internado no Hospício dos Alienados que se localizava na várzea do Carmo na Rua Tabatinguera em São Paulo. Durante 5 anos ele definha,entre crises de demência e lucidez. Mas sua família também foi acabando, seu pai morreu em 1867 e sua escrava Ana em 1869. Então no dia 27 de junho de 1871 faleceu Paulo Emílio de Salles, o poeta Paulo Eiró, no Hospício dos Alienados, de meningite, aos 36 anos de idade.

Filhas do Céu

Mas, povo etéreo, não temas

Que os custosos diademas

Tornem ao seio do nada:

Deus te zela, e Deus não morre !

Entre as convulsões do mundo,

Sobre o mar que ruge infrene,

Influxo misterioso

Verterás doce e perene.

Paulo Eiró, 1854

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Adolfo Alves Pinheiro de Paiva

Adolfo Alves Pinheiro de Paiva foi poeta, tenente, Presidente da Câmara, primeiro Coletor Federal em 1840, e eleito vereador três vezes. Em 1841 veio para o então município de Santo Amaro, onde foi escrivão, juiz de paz, delegado, fiscal, tesoureiro e provedor da Irmandade do Santíssimo, fabriqueiro da Matriz, inspetor de ensino, diretor da Sociedade Musical, coletor de rendas gerais e províncias, vereador, procurador e chefe político de prestígio, representando o Partido Liberal.

Oliveira Almeida Diniz - Zé da Farmácia – Vereador José Diniz

Da ilustre família Oliveira Almeida Diniz, que o mundo jurídico tem imensa gratidão pelo fruto proeminente das letras, a querida professora Maria Helena Diniz, há também um nome que a capital paulistana, especialmente a comunidade de Santo Amaro, nunca se esquecerá. Trata-se do irmão do já saudoso dr. Oswaldo, portanto tio da ilustre jurista, o farmacêutico José de Oliveira Almeida Diniz. Naquela época, em que os médicos e os medicamentos eram escassos, cabia ao balconista atuar como agente de saúde, não apenas tratando, mas também educando a população de sua comunidade. Atendendo as pessoas pobres com inenarrável carinho, o povo de sua “cidade bairro”, por onde se chegava de bonde (cruzando o que hoje é a movimentada avenida Brigadeiro Luís Antônio) tinha-o como um filho, conquanto tivesse nascido em Campinas, em 7 de abril de 1909. Era popularmente chamado de "Zé da Farmácia". Foi vereador na 1ª legislatura de 1948/1951, eleito pelo PTB. Durante 25 anos, José Diniz foi político, sempre eleito pelo reconhecimento do povo de Santo Amaro. Para imorredouro registro, um dos principais logradouros do bairro ganhou seu nome : é a avenida vereador José Diniz. Casou-se com a tradicional santamarense Maria Marfiza Paulinette Diniz, teve um único filho, José de Oliveira Almeida Diniz Júnior, o "Zezito", falecido em 23/1/1997. "Zé da Farmácia" faleceu em 5/1/1973, antes, porém, que pudesse tomar posse em mais uma legislatura para a qual tinha sido eleito no ano anterior.

"Sei de ciência própria, pois conheci o ilustre Vereador José Diniz, que se tratava de pessoa de bem e efetivamente merecedor de ser lembrado pelos pósteros. Dele sempre falou muito bem, velho amigo santamarense, o advogado Wilson Luz Roschel. Parabéns pela merecida evocação de sua memória!" José Adriano Marrey Neto - escritório Marrey Advogados Associados

Júlio Guerra

O escultor Júlio Guerra nasceu em Santo Amaro em 1913. Fez seus estudos de escultura na Escola de Belas Artes de São Paulo. No início de sua carreira, foi escolhido pelo grande escultor Victor Brecheret para colaborar no monumento a Duque de Caxias”, do próprio Brecheret. Pelo seu trabalho, recebeu inúmeros prêmios. Júlio Guerra foi o autor de monumentos implantados na cidade de São Paulo como a estátua do bandeirante Borba Gato que mede dez metros e pesa cerca de 40 toneladas e implantada em 1962 na Praça Augusto Tortorello de Araújo, no bairro de Santo Amaro e a escultura “Mãe Preta”, localizada no Largo do Paissandú, ao lado da Igreja do Rosário dos Homens Pretos, no centro da cidade. Júlio Guerra faleceu no dia 21 de janeiro de 2001.

  • Locais históricos e histórias de Santo Amaro

A Estrada de Ferro

Na segunda metade do século XIX, a vila de Santo Amaro tornou-se o celeiro de São Paulo: todos os gêneros de primeira necessidade, mandioca, milho, feijão, arroz, batatas inglesas, eram comprados dos santamarenses. Numerosas propriedades rurais dedicavam-se à criação de gado e aves domésticas. Tropas de burro e carro de boi levavam para a capital madeiras lavradas, carvão e pedra de cantaria. Iam vendê-las no mercado central de São Paulo. Foi este um dos motivos que levaram alguns engenheiros, tendo à frente Alberto Kulhmann, a projetarem uma extensa ferrovia que, partindo de Vila Mariana, penetrasse no sul da Província de São Paulo. O trem passaria por Santo Amaro e a linha teria, ao todo, 200 quilômetros de extensão. O lucro esperado viria do transporte de madeiras e gêneros alimentícios. Aliando-se a Eusébio Vaz Lobo da Camara Leal, o engenheiro Kulhmann requereu e obteve privilégio para este empreendimento, por vinte e cinco anos. Em 1884, o presidente da Província mandou um relatório à Assembléia Provincial, sobre a estrada em construção: "A linha de Carris de Ferro de São Paulo à vila de Santo Amaro, parte desta Capital, na Rua Liberdade, esquina da São Joaquim, e segue pela Estrada Vergueiro até o quilômetro 2; desse ponto se afasta a linha até à estaca 245, sendo dois quilômetros e 900 metros do ponto de partida, continuando daí por diante o traçado, ora aproximando-se ora afastando-se da estrada que conduz àquela vila. Quando completamente terminada a linha será de 15 quilômetros". Em 14 de março de 1886, o Conselheiro João Alfredo, presidente da Província de São Paulo, presidiu a cerimônia de inauguração da nova estrada de ferro: o trenzinho a vapor saiu da estação da Rua São Joaquim às 11 e 36 horas da manhã. A linha seguia pelas atuais Rua Vergueiro, Rua Domingos de Morais, Avenida Jabaquara, até o local onde está a Igreja de São Judas Tadeu. Ali ficava a estação "do encontro", onde os trenzinhos faziam um reabastecimento de combustível e água. Seguia depois por vastos campos, onde hoje estão os bairros do Aeroporto e Campo Belo, e alcançavam o Brooklin Paulista. Ali havia curvas extremamente fechadas e o local era chamado "Volta Redonda". Seguida depois pela atual Chácara Flora, e entrava em Santo Amaro por uma curva que passava pelas atuais ruas São José e Nove de Julho. O ponto final era na Praça Santa Cruz, onde está a Escola Linneu Prestes. O percurso todo era feito em uma hora e meia, mais ou menos. O médico milanês Dr. Afonso Lomônaco contou em livro as viagens que fez pelo Brasil, percorrendo o Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo, entre os anos de 1885 e 1887. Na Revista do Institulo Histórico e Geográfico de São Paulo, volume XLVIII, conta uma viagem que fez a Santo Amaro:

"… De Vila Mariana prolongava-se a estradazinha de Santo Amaro, por vinte quilômetros através de planície árida e despida, onde só quase havia vegetação rasteira, desértica, por assim dizer. Santo Amaro, humilde e risonho arraial de casinhas baixas, pintadas de cores vivas e quase todas da mesma altura, com poucas ruas largas de terra batida, e duas grandes praças, parecendo as aldeolas da Sicilia. Vivia como que segregada do mundo, mas a abertura da linha de trens a vapor transformou o local em passeio muito em moda: nos dias festivos ali acorrem numerosas pessoas, desejosas de lhe respirar a belas auras, e de vagar pelos campos vizinhos do humilde vilarejo digno de acatamento histórico por ser um dos primeiros eretos em São Paulo".

Uma passagem de primeira classe custava então setencentos réis, e a de segunda classe, quinhentos. Depois de substituídos os trens pelos bondes a Cia. Light conservou os mesmos preços até o ano de 1947. A Cia. Carris de Ferro de São Paulo – Santo Amaro duraria até o ano de 1900, quando em liquidação forçada, seu acervo foi arrematado em leilão pela The São Paulo Tramway Light and Power, que continuou explorando-a até 1913, quando a substituiu pelo bonde.

O Bonde

Com a liquidação da Cia. Carris de Ferro São Paulo-Santo Amaro, em 1900, seu patrimônio é comprado pela Light, que continua explorando-a até 1913. Nesse ano, essa empresa canadense instala serviços de luz elétrica, força e de bondes. Em julho do mesmo ano inaugura a primeira linha de bonde de São Paulo a Santo Amaro. A linha do bonde diferia do traçado da estrada de ferro: saía da Sé e seguia pela Liberdade, Vergueiro e Domingos de Morais, descia a Av. Rodrigues Alves e ia até Santo Amaro. O bonde passaria a ser o principal elemento de ligação entre a capital e Santo Amaro. Ao longo de seu trajeto, chácaras e sítios foram loteados e a região sofre rápida urbanização, dando origem a vários bairros. Na década de 60, com a política de transporte orientada para o automóvel, o bonde acaba por ser extinto. Em 27 de março de 1968 seria feita a última viagem do bonde São Paulo-Santo Amaro.

Formigas torradas, uma tradição em Santo Amaro

O costume foi herdado dos índios, e a formiga içá (aquela mais gordinha, conhecida como tanajura) era muito apreciada em farofas e torrada com tempero, um aperitivo que, segundo os moradores mais velhos, cai muito bem com cerveja. Os santoamarenses prezam as tradições, ainda que esta tradição seja comer formiga, idéia que arrepia os “estrangeiros”. O costume foi herdado dos índios, e a formiga içá (aquela mais gordinha, conhecida como tanajura) era muito apreciada em farofas e torrada com tempero, um aperitivo que, segundo os moradores mais velhos, cai muito bem com cerveja. Há duas técnicas para capturá-las: pegando por trás, para não levar uma ferroada, ou então bater de leve nelas com um galho quando levantam vôo. Daí é só tirar as asas e o ferrão e fritar na salmoura.

Centro de Tradições de Santo Amaro

A história de Santo Amaro encontra-se preservada no Museu de Santo Amaro, administrado pelo Cetrasa (Centro de Tradições de Santo Amaro), e que tem como guia Izabel Quintana Helfenstein, uma simpática senhora filha de espanhola e casada com um descendente de alemão – um caso que demonstra bem a presença de imigrantes na região. O museu é repleto de quadros de Júlio Guerra, o artista plástico nascido na região em 1912, e que conta com uma sala só para seus quadros. “Toda casa bacana em Santo Amaro tinha que ter um quadro do Júlio, porque ele era uma pessoa muito amada”, conta Izabel.

Largo 13 de Maio

No centro do Bairro de Santo Amaro, privilegiado por abrigar a Igreja matriz, o Largo está presente na história do bairro com diferentes denominações desde a sua fundação. "O Largo do Jogo da Bola", onde se jogava às quilhas e daí seu nome, ficava logo atrás da Igreja. Tratava-se de um local aprazível, uma grande área de 640 km ² quadrados. Em 21 de fevereiro de 1885, a Câmara da cidade mudou a denominação de Largo da Bola para Largo Tenente Adolpho, devido a antiga localização da loja do seu Adolpho: . . . esquina da Rua Direita com Largo da Matriz, bem junto à Igreja, à esquerda de quem vindo da Rua da Ponte, ficava a Loja do Seu Adolpho . . .” . Promulgada a lei que abolia a escravatura (Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888), após festividades no município, a Câmara aprova a mudança da denominação do largo para “Largo 13 de Maio”, no dia 9 de junho de 1888. Ao completar o centenário do Município de Santo Amaro (1932), o “Largo 13 de Maio” já se delineava como centro comercial e ponto obrigatório de passagem para outras localidades.


Praça Floriano Peixoto

Largo do Rosário; Largo Nossa Senhora do Rosário; Largo da Cadeia; Largo Municipal e finalmente Praça Floriano Peixoto foram os nomes que identificaram um dos locais de maior importância para a população da antiga Vila de Santo Amaro, depois Cidade de Santo Amaro e atual bairro de Santo Amaro. Ela abrigou a Cadeia Pública; a Câmara Municipal; o Coreto com as apresentações da Banda Musical de Santo Amaro e é claro o footing do fim de semana. Como Largo do Rosário eram constantes as enchentes que alagavam até a rua Direita (hoje Capitão Thiago Luz) Em 1837, a Câmara Municipal aprova um imposto de quinhentos réis ao ano para a construção da cadeia, pois a mesma estava em um prédio alugado e em péssimas condições, quase em ruínas. Neste período o local era conhecido como o Largo da Cadeia. A 9 de julho de 1888, o Largo da Cadeia muda de nome para Largo Municipal, com a inauguração da sede do governo Municipal e Câmara da cidade de Santo Amaro no prédio conhecido atualmente como Casa Amarela. Cinco anos após a proclamação da república, no dia 26 de maio de 1894, em sessão pública o Largo Municipal passa a se chamar Praça Floriano Peixoto, em homenagem ao Marechal Floriano Peixoto por sua atuação durante a Revolta da Armada e o restabelecimento da ordem pública no Rio Grande do Sul, ambos os episódios resolvidos com mãos de ferro. Já em 1896 ocorre a remodelação da Praça Floriano Peixoto como jardim público na gestão do Tenente Coronel Carlos da Silva Araújo, presidente da Câmara Municipal de Santo Amaro, ficando o ajardinamento muito parecido com o que temos hoje, exceção feita aos trabalhos em topiaria (modelagem de arbustos) prática muito em voga então.

Borba Gato, o guardião de Santo Amaro

Estátua do bandeirante, implantada na confluência das avenidas Santo Amaro e Adolfo Pinheiro, foi entregue em 1963. O escultor Júlio Guerra trabalhou 6 anos na construção da estátua Utilizou trilhos de bondes para a montagem da estrutura de concreto, posteriormente revestida de pedras coloridas de basalto e mármore. O resultado é um mosaico tridimensional com 10 metros de altura e cerca de 20 toneladas. A tarefa mais árdua foi a colocação da cabeça. Pesando três toneladas, teve de ser alçada a mais de 10 metros de altura.A estátua de Borba Gato, implantada na confluência das avenidas Santo Amaro e Adolfo Pinheiro, divide opiniões desde sua inauguração. A começar pela figura controversa dos bandeirantes, tidos como heróis civilizadores por uns e agentes desagregadores da cultura indígena por outros. Também a solução estética adotada pelo artista instiga os debates. A inauguração do gigante de pedra e concreto integrou os festejos em comemoração do IV Centenário de Santo Amaro em 1963. Além de discursos, Borba Gato foi saudado por um desfile com os tradicionais Romeiros de Pirapora, populares vestidos de bandeirantes, índios e damas antigas, carros de boi e uma canoa como as usadas nas antigas expedições. Querido por uns, considerado de mau gosto por outros, o velho Borba Gato continua a guardar a entrada de Santo Amaro, alheio às críticas. A estátua do bandeirante santamarense, um dos cartões postais mais famosos da cidade, integra o Inventário de Obras de Arte em Logradouros Públicos da Cidade de São Paulo mantido pelo DPH.

Gazeta de Santo Amaro






Este jornal, que circula atualmente, traz uma coluna da OAB/SP.

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