dr. Pintassilgo

Jabaquara

Buscamos por toda vida, mesmo que inconscientemente, a harmonia. Esperamos viver desta forma, suave e agradavelmente, entre amigos, esposo e esposa, pais e filhos, entre vizinhos. Somos ávidos pela beleza combinada de sons, imagens, traços e cores. Nós nos organizamos em um imenso sistema, um complexo grupo chamado sociedade, na premissa de que nossos Três Poderes, estes delegados, atuem de forma harmônica.

Porém, no Brasil de hoje vivemos em tempos de dissonância. Desarmonia que serpeia nosso linguajar, nosso modo de vida. Não ouço notas harmônicas entre capital e social, poder e povo, bem-fadar e bem-estar.

Essa discordância que só germina uma confusão, fastidiosa, que vai desde os lares poucos favorecidos até Câmaras, Esplanadas, Palácios, malogrando nossa já desbotada perspectiva de futuro. Uma discordância de filhos estéreis e que por vezes, possui pais espertalhões.

No meu vôo sobre Jabaquara, vislumbro a dissonância em cores vivas.

Prédios de cores que se chocam, sem encantar. A distância entre o poder e o povo está ali, representada pelas favelas. O capital faz bater o ponto e paga seu preço, que é baixo.

No Fórum, a desarmonia está em relevo, em cada fala, nas mesas dos cartorários, na falta de paciência das pessoas. Há questões evidentes: qual o papel do servidor? É crível, é passível de entendimento que o Estado mais rico da União possui hoje em suas fileiras judiciárias Varas sem informatização ?  Que cartorários, causídicos, promotores e juízes não tenham condições ideais de trabalho ? Ora, doutorzinho, isso é bem sabido, dirão vocês ! Mas, meu desejo, amigos (olhem só, e perdoem minha ousada proximidade) migalheiros, ao sair do recanto de meu lar, não é somente lhes mostrar, mas é sentir nossos brios em estrilo! Nunca podemos perder a capacidade de indignação !

A desarmonia gritante entre tudo e todos, onde não sabemos por onde puxar o fio para desatar já o nó que nos enforca. Devemos agora procurar sua extremidade, qualquer que seja o lugar.

Bem sabemos que muitos honram a parte que lhes cabem, mas algo, alguém está pecando.

Penso então no Mestre Goffredo Telles Júnior. Diz o sapiente doutor na sua obra “O Direito Quântico”, que a “desordem é a ordem que não queremos”. Na verdade, diz ele, tudo obedece à ordem, mas que é diversa da que desejamos. A desordem, assim,  não precede a ordem.

Num texto conciso e esclarecedor ele expõe que na verdade, a desordem é uma ausência de certa ordem, e que compreende dois elementos: fora de nós, uma ordem criada pela vontade humana ou resultado de determinismos físicos e outra dentro de nós, diferente daquela, que é a queremos.

Seguindo as palavras do Mestre, reflito então: seria esta desarmonia uma “ordem” criada por diversos fatores, provenientes de que motivos os mais variados que nos causam transtorno, indignação e enxaquecas nas mentes patriotas.

Mas que “não nos interessa”. Não, realmente, não nos é apropriada ! Esta desarmonia é aviltante (me apropriando de uma expressão utilizada pelo Nobre Diretor)

E pergunto a vocês, combativos migalheiros: se não é interessante a nós, o povo, enfim, ao Brasil, para quem de fato é proveitosa essa “ordem” ?  Uma dissonância vil que nos atrasa em corpo e espírito ?

A quem ?

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