dr. Pintassilgo

São João da Boa Vista

Denominações anteriores: Santo Antonio do Jaguary e São João do Jaguary.

Fundadores: Antonio Machado, Mariana Maria de Jesus, Ignácio Cândido e Francisco Cândido.

Data da Fundação: 24 de junho de 1824.

As origens de São João da Boa Vista apresentam pontos controversos que jamais serão perfeitamente esclarecidos pois se houve documentos que poderiam esclarecer dúvidas surgidas, estes perderam-se na noite dos tempos.

Aceita-se como fato comprovado que as terras que formam hoje o município pertenciam a Mogi Mirim e foram ocupadas por Antonio Manuel de Oliveira (vulgo Antonio Machado), que juntamente com seus cunhados Ignácio e Francisco chegaram às margens do Jaguari, vindos de Itajubá no ano de 1822 ou no de 1824.

Antônio Machado doou o terreno para patrimônio da futura população e, erguida a capela sobre o patrocínio do monsenhor João José Vieira Ramalho, este vinha de sua Fazenda Pinheiros, afim de celebrar missa aos domingos e possivelmente celebrar batismos e matrimônios.

Nessas viagens, monsenhor tomou-se de amores pelo povoado incipiente acabando por mudar-se para lá, adquirindo propriedades rurais e casas na parte povoada.

Padre Ramalho deve ter sido interessante tipo de pioneiro, era destemido e sabia batalhar pelas suas opiniões políticas; tomou parte da revolução de 1842. Ainda hoje existe na Estação da Prata os córregos do Quartel e do Polvarinho, assim como a Serra do Paiol que devem ser remanescentes dos nomes dados a pontos estratégicos utilizados nas empreitadas bélicas do ativo sacerdote.

O nome da cidade deriva-se do fato seguinte: os Machado chegaram aqui em vésperas de São João e resolveram dar o nome do santo festejado, ao pouso onde se estalaram.

Quanto ao resto do nome da cidade (da Boa Vista), explica-se pelas paisagens encantadoras que se descortinam das serras e da maravilhosa mutação de cores que essas serras apresentam aos que a admiram da cidade.

Em 28 de fevereiro de 1838, o pequeno povoado foi elevado à freguesia e em 24 de março de 1859 a Lei provincial elevou a freguesia à vila.

Existe ainda nos arquivos da Prefeitura Municipal, a ata da instalação da nova vila, cerimônia realizada em 7 de setembro de 1859.

O verdadeiro patrono do município foi Monsenhor João José Vieira Ramalho, pois sem seu interesse e sua proteção não se desenvolveria o pequenino burgo; o povo queria ser assistido por padre e sentia a necessidade de uma capelinha para a celebração da missa dominical e dos sacramentos. Padre Ramalho incentivou o aumento de população propiciando aos moradores aquilo que mais desejavam; estabelecendo-se depois aqui, deu ao município o impulso necessário para progredir.

Com os trilhos da Mogiana, chegou mais tarde um novo estímulo para o progresso pois facilitavam o intercâmbio econômico e cultural com cidades mais adiantadas e com a capital da então Província de São Paulo.

O município compreendia a própria sede e as vilas de Aguaí (então Cascavel), Vargem Grande e Prata que com o decorrer do tempo foram conseguindo sua autonomia, erigindo-se em cidades progressistas dignos rebentos de sua laboriosa cidade-mãe.

Surgiu então a primeira escola municipal, sendo primeiros professores registrados o casal Sandeville; a Prefeitura Municipal recebeu de Joaquim José de Oliveira, um prédio onde pudesse funcionar e a cidade foi crescendo devagar, espalhando-se pelos terrenos que margeiam o Jaguari, o rio da Prata e o córrego São João. As casas foram surgindo em depressões e colinas formando com o anos um aglomerado bastante denso.

Patrocinada por um sacerdote como a cidade de São Paulo, São João da Boa Vista constitui uma população extremamente religiosa. Em 1848 foi construída a primeira Igreja Matriz. Em 1890 foi construída a nova igreja e em 1912 foi ampliada a quase toda reconstruída; a torre foi aumentada, foram edificadas duas capelas laterais e foi instalado o altar-mor, todo de mármore importado da Itália. O atual pároco, Cônego Antonio David, no início de suas funções realizou grande reforma no templo, pondo em ação os planos de seu antecessor, Monsenhor Vinhetas.

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  • Origem do nome

São João, porque seus fundadores chegaram à esta região nas vésperas de São João Batista arranchando-se à margem de um córrego a que deu o nome de São João. Boa Vista por ter sido a vila iniciada nos terrenos da fazenda Boa Vista de propriedade do padre João José Vieira Ramalho.

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  • Personagens

Fernando Furlanetto

Fernando Furlanetto nasceu em São João da Boa Vista, no dia 5 de março de 1897, um ano após seu pai, o italiano Antonio Furlanetto, instalar a primeira marmoraria em São João da Boa Vista.

Em 1911, com apenas 14 anos, partiu para a Itália, a fim de estudar no Instituto de Belas Artes de Pietrasanta. Durante oito anos, Fernando aprendeu a arte de esculpir com os mais famosos professores da época. Logo, o “menino americano” suplantou, em técnica e arte, os próprios italianos natos, conquistando o prêmio máximo do Instituto – a medalha de prata.

Mesmo tendo gabarito para trabalhar em grandes centros, Fernando fixou atelier em sua cidade natal, recebendo encomendas de toda a redondeza. E, assim, pasmou a imprensa local, por sua simplicidade e modéstia diante das maravilhas que produzia.

Considerava como sua obra-prima o monumento funerário de Dina e Angelina de Oliveira Bueno – a filha chamando a mãe, subindo os degraus do céu. Mas logo vieram outras obras impressionantes, como a escultura Caridade, para o jazigo da família do Cel. Joaquim Cândido de Oliveira; a Piedade, para o túmulo de José Pedro de Oliveira; e a monumental capela funerária do Cel. Christiano Osório de Oliveira.

Fernando não se dedicou somente à arte funerária. A maioria dos altares da Igreja Catedral é de sua autoria, além do complexo desenho do portal de ferro da Capela do Santíssimo.

O grande sonho de sua vida era ter mais tempo para se dedicar à “Arte Pura”, não subordinada a injunções financeiras de uma arte meramente “fúnebre”. Algumas de suas estatuetas ainda enfeitam salas de visitas da cidade. Das mais famosas, a Bailarina é a própria música, na delicadeza dos gestos, entrelaçando-se ao vestido esvoaçante – e a Volúpia, êxtase feminino no divã, uma ousadia para a São João dos anos 30.

Pagu

Considerada a militante do ideal e uma das mulheres mais inteligentes e audaciosas do século XX, Patrícia Rehder Galvão, ou simplesmente Pagu como era também conhecida, nasceu em 9 de junho de 1910, em São João da Boa Vista (SP). Era a terceira filha de Adécia e Thier Galvão França, trazendo nas veias o sangue dos imigrantes alemães e dos quatrocentões de São Paulo.

Seus talentos começaram aflorar cedo, praticamente aos 12 anos, em 1922, época do grande marco cultural brasileiro, a Semana de Arte Moderna do movimento modernista, que protestava contra o domínio cultural e artístico estrangeiro, principalmente europeu que se alastrava no Brasil.

Pagu sempre foi uma mulher à frente de seu tempo. Casada com Oswald de Andrade e com um filho, ela jamais limitou à rotina da vida doméstica e muito mais às incoerências partidárias do Partido Comunista. Sem desistir da luta e de seus ideais, começou a viajar pelo mundo como correspondente dos jornais “Correio da Manhã”, “Diário de Notícias” e “A Noite”.

Na sua “volta ao mundo”, Pagu foi ao Japão, EUA, Polônia, China, França e Rússia. E suas viagens renderam frutos, pois acabou sendo a primeira repórter latino-americana a presenciar a coroação do Imperador de Manchúria (China). Através desse evento que ela obteve as primeiras sementes de soja para serem plantadas no Brasil.

Separada de Oswald, Pagu dedicou a sua nova fase em sua vida ao jornalismo, à cultura e à família. Casa com o também jornalista Geraldo Ferraz, de quem tem seu segundo filho. Decide morar em Santos.

Nos anos 50, ela ainda faz uma última tentativa de resgatar sua militância política, só que desta vez pelo Partido Socialista Brasileiro. Concorreu à Assembléia Legislativa, mas seu discurso não acabou agradando. Nele ela revelava as condições degradantes que foi submetida, que seus nervos e inquietações acabaram transformando-a “numa rocha vincada de golpes e amarguras, mas irredutível”. Não foi eleita. Pagu havia sido presae torturada durante a ditadura do Estado Novo.

Nos últimos anos de sua vida, Pagu continua a trabalhar incansavelmente pela cultura. Morreu em dezembro de 1962. E para quem a admirar, restou apenas a mensagem que resume seu destino: ‘O escritor da aventura não teme a aprovação ou a renovação dos leitores. É-lhe indiferente que haja ou não, da parte dos críticos, uma compreensão suficiente. O que lhe importa é abrir novos caminhos à arte, é enriquecer a literatura com gérmens que venham a fecundar a literatura dos próximos cem anos”. Pagu foi revolucionária na arte, na política e na prática de vida.

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  • Locais históricos

Teatro Municipal

Inaugurado em 03 de maio de 1914. Em pleno coração da cidade, ergue-se com linhas arquitetônicas belíssimas o Teatro Municipal, que silencioso, guarda uma tradição de quase um século num vastíssimo e precioso passado.

Pelas suas largas portas passaram ilustres personalidades e seu palco recebeu as mais famosas companhias teatrais da época como “Tosca”, “Bohemia”, “Cavalaria Rusticana”, “Barbeiro de Sevilha”. Foi no seu palco que a ilustre filha de São João, a internacional pianista, Guiomar Novaes, apresentou-se aos aplausos de seus conterrâneos. Outras celebridades por aqui passaram como Villa Lobos.

Foi um passado glorioso desse Teatro para onde afluíam centenas de pessoas das cidades vizinhas, paulistanos, cariocas e personalidades expressivas estrangeiras, turistas que atraídos pelas águas termais de Águas da Prata e pelos famosos cassinos e Poços de Caldas, assistiam e freqüentavam o Teatro em São João, pois, era o único no interior do Estado.


EE “Cel Joaquim José” EF

Inaugurada em 1905 o Grupo Escolar “Cel Joaquim José”, fundado em 3 de novembro de 1896, foi o primeiro estabelecimento de Ensino Oficial de São João. A instalação contou com o auxilio dos chefes políticos da cidade, inclusive o Cel. Joaquim José de Oliveira, o qual sempre acompanhou de perto os assuntos da implantação da escola.

Depois de ser instalada em prédios alugados pela Câmara e na “Casa da Instrução”, o Grupo Escolar ficou fechado por vários meses. Mais tarde, depois de alguns tramites legais, ficou determinada a implantação do Grupo em frente à Praça “Cel Joaquim José”. O conjunto Grupo Escolar e Praça “Cel. Joaquim José” era o primeiro símbolo cívico-republicano de São João.

Assim, em 1º de fevereiro de 1905, as aulas começaram a funcionar no novo prédio, sem uma inauguração oficial.

A centenária escola “Cel Joaquim José” localizada no centro da cidade, abriga o Memorial Escolar com centenas de peças antigas referente a história da educação.



Paço Municipal



Concebido em 1925 para servir como palacete residencial, o Paço Municipal de São João da Boa Vista foi adaptado em 1942 para abrigar a sede do poder executivo.





Antiga Câmara e Cadeia (Abriga o Senac)


Inaugurado em 1887 o
prédio do Senac em São João da Boa Vista traz uma longa história. Projetado pelo engenheiro militar Euclides da Cunha para abrigar a Câmara Municipal e a Cadeia. A mesma planta de São João da Boa Vista serviu como base para a construção de prédios públicos em diversos municípios do Estado de São Paulo.

O terreno escolhido para construir a Câmara ficava estrategicamente no meio da principal via local - a rua São João -, que ligava a Estação Ferroviária à Igreja Matriz de São João Batista. Esta estação era o portal de entrada e saída da cidade naquela época.

O prédio se destacava no meio provinciano. Enquanto as construções vizinhas se acotovelavam em estrutura de madeira e amarrações em taipa, a nova edificação exibia fachada em alvenaria de tijolos, tudo aparente, sem argamassa de revestimento.

A fachada do prédio apresentava arquitetura clássica, com pilastras sobrepostas nos estilos jônico e dórico. No pavimento térreo, funcionava a cadeia, tendo à frente as salas do delegado e dos guardas, e, nos fundos, três celas. O alto vestíbulo dava acesso à escadaria de madeira, levando ao pavimento superior, área reservada à Câmara Municipal, que se reunia uma vez por mês. No período imperial, a Câmara cumpria os papéis legislativo, executivo e judiciário.

A partir da proclamação Estado, a uma quadra de distância, deixando o antigo prédio exclusivo às funções da da República, o prédio passou a abrigar, além da Câmara Municipal, o fórum da cidade. Para adequar-se à nova organização, a instalação passou por uma reforma em 1905. Doze anos depois, o Fórum e Cadeia mudaram-se para um prédio especialmente construído pelo Câmara e Prefeitura Municipal.

Em 1924, foi realizada uma nova reforma. O projeto adotado foi o do engenheiro-arquiteto Tito Travassos. As portas do pavimento superior foram vedadas. Outras foram abertas e uma parede foi construída para melhorar a divisão em departamentos municipais. Foram realizadas novas pinturas decorativas e a remodelação completa das fachadas, agora seguindo a moda eclética vigente, com alguns elementos art nouveau. Na fachada principal, foi montado um terraço sobre colunas coríntias, servindo como palanque para os presidentes da Câmara ou prefeitos eleitos. Em torno do prédio, um jardim com canteiros geométricos e um muro condizente com o estilo das fachadas.

O Paço Municipal funcionou até 1942, quando a Prefeitura e Câmara Municipal mudaram para um novo prédio ao lado do Theatro Municipal, um uma residência neoclássica. A partir desta data, o antigo prédio da Câmara foi utilizado para departamentos municipais e estaduais, recebendo pequenos aparos e reformas de adequação.

Nos anos 90, a Câmara Municipal cogitou o retorno de suas instalações para o prédio, providenciando um estudo técnico de viabilidades. Os vereadores, porém, decidiram manter o Departamento de Promoção Social funcionando no local. Na ocasião, o prédio se encontrava em estado deplorável, com várias rachaduras, madeiramento atacado por cupins, instalações hidráulica e elétrica ultrapassadas, colocando em risco o imóvel por incêndio ou ruína.

Preocupadas com preservação de patrimônio histórico de São João da Boa Vista, porém sem ter condições financeiras para restaurar o prédio, em meados de 1998, a Prefeitura e a Câmara Municipal ofereceram a concessão do local para a instalação do Senac, que arcaria com as despesas de restauração da edificação.


Estação Ferroviária São João da Boa Vista






A estação de São João da Boa Vista foi aberta com o ramal, em 1886, tendo sido construída por Nicolau Rehder, que também erigiu a de Poços de Caldas e, três anos mais tarde, as estações do ramal de Pinhal. Fica próxima ao centro da cidade; é uma estação muito grande e comprida, por causa dos armazéns acoplados a ela. Quem olha para a entrada da estação vê os armazéns à sua direita. Em seus desvios ainda estacionam muitos vagões do ramal de Caldas.



Histórico da linha:
O ramal de Caldas foi inaugurado em 1886, para trazer mercadorias da região de São João da Boa Vista e de Poços de Caldas (na época conhecida como Caldas), já em território mineiro. O ramal seguiu, entretanto, deficitário por muitos anos, chegando a ter, de tempos em tempos, seus trens de passageiros suspenso devido a isso. Porém, acabou por ser o único de todos os ramais da Mogiana que permanece ativo até hoje, por causa do transporte de minério de alumínio da estação de Bauxita, uma antes da de Poços de Caldas. Trens de passageiros circularam pela linha até fins de 1976, quando foram suprimidos. Até meados dos anos 90, um trem turístico ainda percorria em determinadas ocasiões o ramal, mas hoje nem ele existe. Os trilhos, entretanto, foram retirados no trecho terminal em Poços de Caldas.



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  • Curiosidades

Cemitério de São João da Boa Vista




O Cemitério Antigo de São João da Boa Vista conta com um rico patrimônio, mas pouco reconhecido pela população sanjoanense. São mais de 300 túmulos, jazigos e capelas, de valor histórico, artístico e arquitetônico, além de seu contexto ambiental, com boa parte do muro original e ruas arborizadas. É um museu a céu aberto, com o melhor acervo de obras do escultor sanjoanense Fernando Furlanetto.








Hino

Em momento de amor infinito,

Foi que Deus com sublime emoção,

Do pedaço de um solo bendito,

Fez a nossa querida São João.

Com ternura moldou lindas serras

E, altaneiras, ao céu as ergueu.

Pôs o rio Jaguari sobre as terras

E, a sorrir, tudo isso nos deu.

"Oh! Terra encantada,

Por nós adorada,

De povo irmão

Na mesma cadência,

Vibra e palpita

Um só coração."

Realçando as belezas criadas,

Fez o sol se esconder, majestoso,

Coroando as tardes caladas,

De um crepúsculo maravilhoso.

Sempre hospitaleiro e querido

O seu povo encanta e conquista

Um recanto do céu desprendido,

Eis, aí, São João da Boa Vista!

"Oh! Terra encantada,

Por nós adorada,

De povo irmão

Na mesma cadência,

Vibra e palpita

Um só coração."

A cidade se desdobra e cresce

Numa linha triunfal, ascendente.

Testemunho de fé aparece

Na história fiel de sua gente.

O progresso de perto acompanha

Sua inteligência e saber...

É uma benção viver nesta terra

E uma Glória um dia aqui morrer.

"Oh! Terra encantada,

Por nós adorada,

De povo irmão

Na mesma cadência,

Vibra e palpita Um só coração."Brasão da cidade".

Música - Dino Noronha

Letra - Lucila Martarello Astolpho

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