dr. Pintassilgo

São Vicente

Fundadores: Martim Afonso de Sousa.


Data da fundação: 22 de janeiro de 1532.

É crença generalizada admitir-se que a ocupação do litoral vicentino se tenha dado a partir da chegada de Martim Afonso, em 1532.

Entretanto, louvando-nos no magnífico trabalho de Francisco Martins dos Santos, “História de Santos”, vol I, São Vicente é nome que já aparece assinalado desde 1502, 1503, 1506 e 1508, nos mapas da época, como ilha, porto e povoado, sob várias denominações, como “San Vicentino”, “Sanbicente”, “San Vincenzo” e “San Vicento”.

Recorda-nos, aliás, Eugênio Teixeira de Castro em citação de Affonso de E. Taunay na obra “De Brasilae Rebus Pluribus” que “já antes de 1532 (São Vicente) era ponto da nossa costa assinalado nos mapas por uma torre à beira-mar”. Esse local seria conhecido então por Tumiaru, cujo nome em língua tupi-guarani, não obstante corruptela, devia designar um farol, pois, a exemplo da palavra Turiaçu, que o eminente tupinólogo, prof. Plínio Airosa traduz por fogaréu, aquela faz supor um fogo solitário, ou farol. Além disso, era costume acender fogueira, a fim de avisar os barcos em alto mas para se aproximarem do porto, sendo fato inconteste haver Martim Afonso deparado com esses entrepostos, a exemplo de Iguape e Cananéia, onde aventureiros brancos, arribados entre embarcadiços ou degredados portugueses, associados a morubixabas, praticavam comércio clandestino com navegadores estrangeiros, vendendo, além dos produtos da terra, pimenta, farinha de mandioca e escravos indígenas para equipagem de caravelas ou estivadores.

Benedito Calixto reforça tais argumentos no sentido de localizar a primitiva Tumiaru no início da Avenida Capitão-Mor Aguiar, em São Vicente, nas proximidades do Porto Velho do Tumiaru, referindo-se ao achado por volta de 1887, de vários objetivos de uso doméstico índio, numa escavação ali procedida por ordem do Major Sertório, de onde conta o historiador praiano haver retirado ídolos, igaçabas e outras peças de cerâmica que encaminhara ao Museu Histórico.

Assim, a Martim Afonso de Souza apenas coube a colonização regular, elevando-se também a categoria de vila, dado ao antigo povoado existente desde 1510, em sua nova expansão, o que vale dizer a renovação ou refundação oficial de São Vicente.

A partir de então, vários são os registros sobre as tropelias de aventureiros portugueses e espanhóis que atingiram essa parte do hemisfério que seja à cata do precioso pau-brasil, quer seja à procura das lendárias minas de prata de Manco e Huana Capac, ou ainda atraídos simplesmente pelo novo campo vasto e livre, onde a mercancia humana, explorando uma raça desconhecida, poderia ser o início de uma nova fortuna.

De 1501 em diante, data o início da perlongação das nossas costas em exposições oficiais e não-oficiais, e, entre elas algumas e grande significação para São Vicente.

Duas entre elas se destacam pela sua importância, ou seja, a primeira em 1516, quando Cristóvão Jacques traz, a bordo, Pero Capico como Capitão de São Vicente, e a realizada em 21 de junho de 1526, em que passa por São Vicente e segue até “rio Prata”, trazendo em sua companhia, e como pilotos, Diogo Leite, seu irmão Gonçalo Leite e Gaspar Corrêa.

Cristóvão Jacques viera então investido das funções de Guarda-Costa, Capitão-Mor, como cita D. Rodrigo de Acunã em sua carta ao Rei de Portugal, ou Governador das Terras do Brasil, como declara o próprio Rei em documento de 1526, com estabelecimento na feitoria de Itamaracá, em Pernambuco.

A grande importância dessa segunda viagem de Cristóvão Jacques reside no fato de, quando de seu retorno à Europa, levar a Pero Capico, por ordem do Rei, ficando em lugar deste, como Capitão, Antônio Ribeiro, empossado em 26 de outubro de 1528.

A presença de Antônio Ribeiro vem trazer profundas modificações na vida do povoado.

Afinal, em 3 de dezembro de 1530, parte de Lisboa a primeira expedição colonizadora, comandada por Martim Afonso de Souza, compondo-se a armada das caravelas “Princesa”, “Rosa”, do galeão “São Vicente” e da nau “São Miguel”, trazendo em bojo várias centenas de povoadores, e, entre eles, artífices e tropas de ocupação.

Segundo Alfredo Ellis Jr., em seu “Resumo de História de São Paulo”, citando Frei Gaspar, teriam sido eles os primeiros povoadores de São Vicente: Pero de Góes da Silveira, Luís de Góes da Silveira, Scipião de Góes, filho de Pero, e Luiz de Góes; Isabel Leitão, tio do precedente de João Gonçalves Zarco; Pero Leme, filho do anterior e natural de Funchal, também fidalgo; Leonor de Leme, filha do procedente, Braz Esteves, também de Funchal, José Adôrno, Francisco Adôrno, Paulo Dias Adôrno, que mais tarde passou-se para Bahia, onde se casou com a filha de Caramuru; Catarina Monteiro, Cristóvão Monteiro, Jerônimo Leitão, Ruy Pinto, Francisco Pinto, Baltazar Borges, Antônio Adôrno, Antônio de Oliveira, fidalgo, segundo lugar-tenente do Donatário Braz Cubas; Cristóvão de Aguiar Altero, Antônio Rodrigues de Almeida, também cavaleiro e fidalgo; João Pires Cubas, pai de Braz Cubas, Francisco Nunes Cubas, estes três, irmãos de Braz Cubas; Jorge Pires, Pedro Colaço, Jorge Ferreira, Antônio Proença, Pedro Figueiredo e muitos outros.

Para Francisco Martins dos Santos, entre os estrangeiros estabelecidos em São Vicente de cinco a trinta anos antes da vinda de Martim Afonso, contam-se como os principais o “bacharel” Gonçalo da Costa, Duarte Perez, Mestre Cosme Montes, Francisco Chaves, Aleixo Garcia e João Ramalho.

Afora outros elementos que tiveram relação com o porto e o primitivo povoado, citam-se D. Rodrigo de Acunã e Ruy Moschera, chefe de um grupo espanhol que fora afungentado do “rio da Prata” pelos índios Querendis, e que se fixou em Iguape.

No entanto, dentre todos esses, o mais famoso pelo seu caráter lendário foi, sem dúvida, o “bacharel”, que tantas vezes será citado na história de Santos e São Vicente.

Quem seria esse “bacharel”?

Ao que parece, seria um degredado português, homem ilustre e fidalgo, que, atingido pela punição de algum crime político ou de outra ordem qualquer, para aqui teria sido desterrado, vindo na armada de André Gonçalves e Américo Vespúcio, sendo deixado em Cananéia, considerado o último porto da costa, dentro dos direitos portugueses. Dali rumou para São Vicente, certamente por ter reconhecido sua superioridade e melhor localização, quando por lá passara na Armada que o trouxera.

Quanto ao seu nome divergem os autores. Para uns seria Duarte Perez, como afirma Charlevoix e autores espanhóis. Outros são de opinião que fosso Antônio Rodrigues, ou João Ramalho.

Baseamo-nos mais uma vez no trabalho de Francisco Martins dos Santos, em que afirmasse historiador ser o famoso “bacharel” de São Vicente, Iguape ou Cananéia o Mestre Cosme Fernades, vindo para o Brasil em 1501, coma armada de Américo Vespúcio.

Para isso apóia-se em uma escritura de Antônio de oliveira, Capitão-Mor de São Vicente, lavrada nessa vila, em 25 de maio de 1542, segundo o qual, Gonçalo Monteiro, antigo capitão de São Vicente, fazia doação de terras a “Um Mestre Cosme, Bacharel”.

Entretanto, o mais interessante deles seria o genro do “bacharel”, Gonçalo da Costa, que teria vindo para São Vicente em 1510, e que, por volta de 1520, teria se casado com uma das filhas do “bacharel”, associando-se a ele em todos os seus empreendimentos. Gonçalo da Costa teria passado cerca de 20 anos em São Vicente, quando percorreu toda a costa sul do Brasil, tornando-se um dos maiores conhecedores do “rio da Prata”.

Mais tarde, Gonçalo da Costa, que embarca para Portugal, a pedido de seu sogro, iria defende-lo das intrigas do Capitão Antônio Ribeiro, que intimara o “bacharel” a abandonar a região de São Vicente, retirando-se para Cananéia, lugar primitivamente designado para cumprimento de seu degredo. Não conseguindo Mercê do Rei, Gonçalo da Costa abandona inesperadamente as terras portuguesas indo-se para por ao serviço da Espanha, em cujas armadas iria servir e servir e ser um dos fundadores de Buenos Aires.

A fundação de São Vicente é, pois, coisa muito anterior a vinda de Martim Afonso, que fez apenas refundar, oficialmente, São Vicente, uma vez que ali não só viviam portugueses como índios, afora aqueles que desciam constantemente do planalto como João Ramalho e Antônio Rodrigues.

Desembarcando Martim Afonso, fez dedicar a Casa do Conselho, Igreja, pelourinho, estaleiro, fortim e mais casas necessárias a habitação dos colonos e serviço de administração.

Aí também fez construir um engenho de cana-de-açúcar, o primeiro do Brasil, açúcar esse que iria enriquecer as colônias do Norte e que não foi benévolo para a Capitania de Martim Afonso e a dos eu irmão, Pero Lopes de Souza, e, a conselho de Afonso Rodrigues, fez o povoador levantar outro fortim, na ponta de Santo Amaro, junto à Barra de Bertioga.

Esse povoado, no entanto, não crescia sem vicissitudes, pois estava em vias de desabar sobre ele grandes desastres. Primeiro foram os Tamoios, que, vendo os estrangeiros chegarem, não para traficar, mas para ficar, começaram a dar mostras de insopitável hostilidade. A atitude ameaçadora dos índios, a mando de Caiube, teria deflagrado em ação exterminadora, se não acudisse João Ramalho, vindo de Borda do Campo, com seu sogro Tibiriçá. Acalmados os indígenas, tratou Martim Afonso de organizar a administração da colônia, nomeando juízes do povo, escrivães, meirinhos, almotacés e mais servidores públicos, subindo então ao planalto, conduzido por João Ramalho.

De regresso, e deixando em perfeitas condições o primeiro núcleo fundado no Brasil, Martim Afonso, em 1531, regressou a Portugal, deixando como seu lugar-tenente, a pedido de sua esposa, D. Ana Pimentel, o Padre Gonçalo Monteiro, vigário da colônia.

A pacificação dos Tamoios, contudo, não fora definitiva. Antes, porém, que eles de novo reabalassem, surgiu nova calamidade. É que certo dia, desembarca em Iguape, fugindo do Prata, o espanhol Ruy Moachera, que, solidarizado ao grupo de forcas do “bacharel”, enfrenta as ordens de Gonçalo Monteiro. Esse intima-os a partir, no que não é obedecido por Moschera, que alegra não estar a América ainda dividida entre os reis de Portugal e Espanha e que, quando não fosse, estava disposto a aí permanecer. Gonçalo Monteiro o ataca, sendo, no entanto, suas forças desbaratada.

Animado pelo sucesso, cai o corsário sobre São Vicente, saqueia-lhe o porto, pilha os armazéns, carrega o que pode e foge para o Sul, de onde não mais regressa.

Sucede a Gonçalo Monteiro na administração da colônia o Capitão-Mor Antônio de Oliveira, nomeado pela esposa de Martim Afonso. Pouco depois, por volta de 1542, novo desastre se abate sobre os vicentinos. O mar, avançando pouco a pouco, devora a praia, entra pelo e sepulta sob as águas a matriz, a Casa do Conselho, a cadeia, os estabelecimentos e inúmeras residências. Reconstrói-se a vila pouco adiante.

Mas o novo ataque dos índios alarma a colônia. Apanhada sem defesa – pois os homens haviam partido em socorro do Rio de Janeiro, fundado pouco antes – os Tamoios devastam as fazendas e na sua retirada levam consigo quatro mulheres. Pouco tempo depois novos ataques que, este, porém repelido, sendo os índios perseguidos até suas aldeias, de onde são trazidas quatro raptadas. Nada quebranta o animo dos vicentinos. Mesmo em luta com os selvagens, vão eles por duas vezes, em 1567 e 1580, em socorro do Rio de Janeiro, ameaçados de invasão pelos franceses.

Não param aí as lutas dos vicentinos. Novos infortúnios virão o pequeno burgo conhecer. Corsário e bucaneios varrem suas naus armadas em corso os mares da América, assaltando sumacas e galeões, e as vilas do litoral. Hawkins, Drake, Morgan, Fenton, Cavendish, Parker, Bartolomeu Português, Roque Brasiliano, Diego El Mulato, Francisco Nau, Mansvelt e centenas de outros, enxameiam os mares, conduzindo carracas, bergantins, urcas, fragatas e espalhando o terror nos povoados mal defendidos. O Brasil também não escapa à ganância dos corsários. E, no Brasil, São Vicente foi uma das vítimas.

No dia 25 de dezembro de 1591, um pirata inglês, Thomas Cavendish, fundeava fora da barra, em Santos, e remetia 23 homens armados numa chalupa, alta noite, com a incumbência de saquearem o porto e os armazéns. Sendo dia de Natal, grande parte da população achava-se na Igreja. Os homens da chalupa, sob o comando de Cook, cercam o templo e, conservando o povo lá dentro sob a ameaça de suas armas, entregam-se ao saque e às orgias.

Isso deu azo a que o povo pudesse escapar da Igreja e fugir da vila, carregando consigo tudo que pudesse servir de presa aos flibusteiros. Dias depois, não regressando Cook às naus que se mantinham fora da barra, veio Cavendish à vila, com mais homens, e que encontrando-as abandonadas, embarcam de novo. Levantaram ferro, mas ao passarem por São Vicente, aí aportam e friamente põem fogo na povoação, rumando em seguida para o sul. Como um temporal os surpreendesse em caminho, regressam a Santos e tentam pilhar novamente o porto e arrebatar a todo custo os viveres que ali existiam. Porém são enfrentados pela população, que os derrota.

Em 1615, o Almirante batavo Joris van Spilbergen, invadindo o porto de Santos, envia parte de sua esquadra em busca de viveres em São Vicente. Ali ocupam o engenho, e por mais de uma vez entram em luta com os vicentinos e moradores de São Paulo, que para ali acudiram em socorro, ao mando do bandeirante Sebastião Preto. Já há esse tempo entrava São Vicente em decadência. Atraídos pela nova povoação que se fundara nos Campos de Piratininga e pelo surto de bandeirismo após a extinção de Santo André da Borda do Campo, os vicentinos iam pouco a pouco abandonando a Capital do feudo de Martim Afonso.

Com a fundação de São Paulo, essa decadência mais se acentua. Deixando de ser cabeça de capitania desde 1624, em benefício de Itanhaém, em conseqüência de questões entre herdeiros de Martim Afonso, para voltar a readquirir o título em 1679, pouco depois o perdia em definitivo para São Paulo, escolhido para a sede do governo.

Isto mais contribuiu para a completa paralisação da vida vicentina – que assim veio num progressivo marasmo, até o século XIX, ao mesmo tempo a capitania de São Paulo decaia sensivelmente num pauperismo inglório, após haver derrotado de ouro as arcas da Metrópole.

Em 1836, segundo um quadro estatístico da Província de São Paulo, organizado pelo Marechal Daniel Pedro Muller, São Vicente não possuía nenhuma escola, e quanto ao resto...”sua dificultosa barra concorreu para que a maior parte dos seus habitantes elegessem a posição da vila de Santos, a afluíssem para esta, que tem engrandecido enquanto que aquela tem ido em decadência. Contém 745 habitantes. Tem na vila edifícios públicos, tais como: a Matriz, com a inovação do São Vicente, e a Casa da Câmara”.

Azevedo Marques, escrevendo seus preciosos “Apontamentos”, por volta de 1870, diz melancolicamente: “A má escolha do local e ao progresso da povoação de Santos, começada em 1540, deve a vila de São Vicente sua rápida decadência, que parece terminará com a extinção da povoação. Além da Matriz, a vila de São Vicente possui apenas a Casa da Câmara, em cujo edifício está também a sala de detenção”.

Mas esse sombrio prognóstico não se realizou. São Vicente, que através dos séculos resistira a todas as vicissitudes, numa soberana vontade de sobreviver, venceu a sua própria decadência e ingressou no século XX. E aquilo que mais fortemente contribuiu para o seu declínio – a sua inadaptação para porto comercial – foi o que, aliado à suavidade do seu clima, deu impulso à urbe vicentina, transformando-a em uma das jóias do nosso litoral.

São Vicente, primeiro município brasileiro, em ordem de antiguidade, portanto, “Cellula Mater” da Nação, sofreu as mesmas crises do crescimento do resto do País, em sua linga trajetória histórica. E, hoje, com os seus arranha-céus, sua vida fabricante, suas praias encantadoras, é afirmação do que pode a vontade e o arrojo, postos a serviço de progresso.
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  • Origem do nome

Por ter Martim Afonso de Sousa fundado a vila no dia de São Vicente.
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  • Personagens

Bartira

Bartira ou Butira (Machado de Oliveira, dá-lhe o nome de Butira), nome bonito que significa "flor". Índia Tupiniquim, viveu no século 16. Era filha do cacique Tibiriçá, da região da capitania de São Vicente. Foi batizada com o nome de Isabel Dias.

Filha do Cacique Tebiriça, Bartira foi a escolhida de João Ramalho, um português que vivia entre os índios. Esse histórico português que foi Capitão entre os seus compatriotas e, segundo Pedro Taques, o linhagista, teve o foro de Cavaleiro e foi mais tarde o fundador da vila de Santo André da Borba do Campo, foi Guarda-Mor e Alcaide-Mor da expedição contra os índios Tupiniquins que, junto com outras tribos, assaltaram a nascente povoação de São Paulo de Piratininga.

A linda Bartira, casou-se com ele em 1515, pelo cerimonial do íncola. Quando Padre Manoel da Nóbrega os conheceu, ambos avançados em anos e felizes, não se conformou com a ilegitimidade dessa união fora da igreja. Precisavam da bênção católica, e fazendo João Ramalho confessar, soube que o mesmo era casado em Portugal, perante o altar do senhor, e que ao partir para rumo desconhecido, deixara a esposa, a quem jamais dera notícias suas.

O grande missionário jesuíta, para tranqüilizar sua consciência e cumprir sua missão, regularizando aquele casamento perante a Igreja, escreve uma longa carta datada de 31 de Agosto de 1553 aos jesuítas em Portugal pedindo à Companhia que investigue se é viva ou morta a esposa de Ramalho.

Nóbrega batizou-a de Isabel Dias, batizou-lhes os filhos e filhas, os primeiros cristãos de São Paulo, nascidos dessa mãe semi-bárbara e linda.

Boa mãe, boa esposa, essa quase desconhecida Bartira, foi aos poucos adquirindo hábitos civilizados; viu a chegada de Martin Afonso de Souza em 1532, viu mais tarde a chegada de Ana Pimentel, fidalga, rica, trazendo da Metrópole uma civilização palaciana; viu a fundação da Vila de Santo André da Borba do Campo, como já havia visto em 22 de Janeiro de 1532 a fundação de São Vicente no dia do santo homônimo; Viu Braz Cubas construindo a Casa do Porto de Santos; viu a ereção do Hospital de Misericórdia fundado por Ana Pimentel; viu Anchieta atraindo a si os curumins e cunhatains, para ensinar-lhes noções de coisas e a rezar e adorar Deus e ela também vai aprendendo muitas coisas.

Quando João Ramalho, aos 73 anos de idade, é convidado para Prefeito de São Vicente, ela lembra-lhe a idade, e ele serenamente, numa carta ao Governador, recusa o alto cargo por "sentir-se velho e cansado" e achar que o governo da cidade necessitava de uma pessoa moça, cheia de vida , de entusiasmo e de disposição para o trabalho.

Essa é a mulher que deve descerrar as cortinas do pórtico da História da Mulher Paulista, pois que seu sangue vem passando de geração em geração pelas veias da gente de nossa terra, formando os bandeirantes que alargaram as fronteiras da Pátria, sangue que ainda hoje circula nas veias dos estadistas, dos agricultores, dos industriais, dos poetas, dos operários, e da juventude gloriosa de São Paulo!

Bartira - Flor, seu nome ficará nas páginas da história, como já está gravado no sangue heróico dos bandeirantes de todas as eras, a "Mãe do Povo Brasileiro".

Padre André de Soveral


O padre André de Soveral nasceu em São Vicente, por volta de 1572. Entrou na Companhia de Jesus no dia 6 de agosto de 1593, na Bahia; estudou latim e Teologia Moral. Conhecendo muito bem a língua indígena, ocupou-se da conversão dos índios nos territórios dependentes do colégio de Pernambuco, na cidade de Olinda. Em 1606 foi para o Rio Grande em missão. Passou para o clero diocesano entre 1607 e 1610. Voltando ao Rio grande já como sacerdote secular, recebeu dotes de sesmaria em Cunhaú em 1614, onde era pároco.

Depois, já no Clero diocesano, foi pároco de Cunhaú, onde foi morto durante a missa com mais 69 fiéis. Teria 73 anos na época do martírio.

O sacerdote é um dos dois brasileiros incluídos na lista para a beatificação.

Padre Paulo Maria Hornaux de Moura

Um religioso bastante conhecido na Baixada Santista, que inclui em seu currículo o apoio à criação em Santos de uma escola de samba que leva seu nome, aos 79 anos de idade, o padre Paulo Maria Hornaux de Moura, o Padre Paulo, como todos de São Vicente e de cidades vizinhas o conhecem, realiza um trabalho religioso numa capela no Catiapoã.

Filho de Paulo Horneaux de Moura e Antonieta Lepetina de Moura, irmão de Clélia (falecida) e Célia, Paulo nasceu em São Vicente, no dia 15 de dezembro de 1925.

Após terminar o ginásio (hoje Ensino Médio) no Colégio do Estado, atualmente Colégio Canadá, em Santos, o caçula da família Horneaux fez o Curso de Sacerdote e Filosofia, no Seminário Central do Ipiranga, em São Paulo.

Depois, seguiu os estudos na Universidade Católica de São Paulo, onde se formou em Teologia e Ciências Religiosas e Eclesiásticas, aos 27 anos. Padre Paulo passou por diversas paróquias, em várias cidades, trabalhou em rádios, ministrou aulas em cursos de Direito de faculdades de Santos e fez cursos de pós-graduação.

Carlos Fabra

Carlos Fabra nasceu no Uruguai e morreu em Praia Grande, sem que os conterrâneos lembrassem ter sido ele o autor dos principais quadros evocativos de cenas da história de São Vicente.

Além de ter pintado uma série de 37 quadros retratando a formação da Primeira Vila, batizada de Memorial da História Vicentina, Fabra participou de importantes publicações sobre São Vicente. Dentre elas, destacam-se a "Poliantéia", com informações sobre o município e o trabalho "Gohayó".

Carlos Fabra, autor da maior seqüência de pinturas sobre a história da Fundação da Vila de São Vicente, faleceu no dia 10 de junho de 2004, aos 67 anos.
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  • Locais históricos

Igreja Matriz



O primeiro prédio a abrigar a Igreja Matriz foi construído por Martim Afonso de Sousa, em 1532, próximo à praia onde aconteceu a fundação oficial da Vila de São Vicente. A construção foi destruída por um maremoto, que varreu a cidade em 1542. A segunda sede foi erguida pelo povo em local mais distante do mar, mas foi destruída por piratas que atacaram São Vicente para saquear o comércio e as casas. Em 1757, a atual igreja foi construída sobre as ruínas da anterior, onde permanece até hoje. Seu nome é uma homenagem a São Vicente Mártir, santo espanhol que deu nome à cidade e hoje é seu padroeiro.

Mercado Municipal



Construído em 1729, funcionou cerca de 186 anos como a Primeira Câmara Municipal. No prédio também funcionavam a Cadeia e o quartel da Polícia. Porém, desde 1870 São Vicente já necessitava de um posto central de abastecimento, pois todo o comércio era realizado por alguns armazéns, pequenas quitandas e vendedores ambulantes. Por isso, em 1929, o local foi transformado em Mercado Municipal, onde funcionam atualmente 16 boxes.

Câmara Municipal de São Vicente



Instalada em 22 de janeiro de 1532, no local onde hoje se encontra o Mercado Municipal, foi a primeira Câmara das Américas, dando a São Vicente o título de “Berço da Democracia”. A primeira eleição foi realizada em 22 de agosto de 1532.

Casa Martin Afonso



A casa, construída em 1895 pelo Barão de Piracicaba, abriga o Museu Histórico. Em seu interior ainda encontram ruínas da 1ª construção de alvenaria do Brasil, que hospedou Martin Afonso de 1532 a 1533.

Marco Padrão




O Marco Padrão foi inaugurado em 1933, em comemoração aos 400 anos da Fundação de São Vicente. Oferecido pela colônia portuguesa, encontra-se dentro de uma ilhota na Praia do Gonzaguinha e é conhecido como Pedra do Mato





Ponte Pênsil



São Vicente ainda guarda importantes monumentos de seu passado histórico.
Um dos mais marcantes, e que representa um dos mais bonitos cartões postais da Cidade, é a famosa Ponte Pênsil.

Curtume

Construído na encosta do Morro do Paranapuã, o Curtume pode ser visto de longe e continua atraindo a atenção de quem passa, pela beleza da mata ao redor. No caminho, entre árvores, estão as casas onde antigamente moravam os funcionários que trabalhavam no local. Os produtos resultantes da curtição do couro eram comercializados em todo o Brasil e também no exterior, levando o nome de São Vicente a outros países. Hoje, a construção que se encontra dentro do Parque Estadual Xixová-Japuí, está em estado precário de conservação.



Estação de ferro de São Vicente



A estação de São Vicente foi inaugurada em 1913, pela São Paulo Southern Railway, e fazia parte do ramal de Juquiá. Este, comprado pela Sorocabana em 1927, teve a sua parte inicial incorporada ao ramal Mairinque-Santos, quando de sua conclusão em meados dos anos 30. Em 1938, foi construído junto à estação um embarcadouro de gado (relatório EFS, 1938). Em 1957, o prédio original deu lugar a uma nova estação, bastante feiosa, por sinal. É este prédio que estava lá até o início de 2006. Serviu aos trens da Santos-Juquiá até fins de 1997, e do TIM até 1999. Até 1990, um desvio particular que saía da estação de São Vicente levava areia para uma fábrica de vidro da Santa Marina, mas nesse ano foi desativado.

Situada no Centro de São Vicente, ao lado da Linha Amarela, a estação é hoje apenas um depósito de dormentes, além de servir como estacionamento de automóveis, com mato alto e mau cheiro. No final de 2002 a Prefeitura reformou a área e sobraram apenas duas linhas: a principal, junto à antiga plataforma e uma outra, escondida junto à calçada do outro lado.

Exatamente em 16 de março de 2006, foi anunciada a sua demolição para a passagem de uma avenida. Porém, em 25 de março, a estação continuava em pé. No sábado, dia 1 de abril de 2005, a metade da estação foi demolida. Mais tarde a estação foi totalmente demolida.



Histórico da Linha
: Projetada desde 1889, a Mairinque-Santos, linha que quebraria o monopólio da SPR para ligar o interior ao litoral foi iniciada em 1929 e terminada em 1937, com a ligação das duas frentes, uma vindo de Santos e outra de Mairinque. É uma das obras ferroviárias mais reportadas por livros no Brasil. Já havia, no entanto, tráfego desde 1930 nas duas partes, e o trecho desde Santos até Samaritá havia sido adquirido em 1927 da Southern São Paulo Railway, operante desde 1913. Com o fim da Sorocabana e a criação da Fepasa, em 1971, a linha foi prolongada até Boa Vista, no fim dos anos 80 (retificação do antigo ramal de Campinas). Houve tráfego de passageiros entre Mairinque e Santos até cerca de 1975, e mais tarde entre Embu-Guaçu e Santos, até novembro de 1997. A linha opera até hoje sob a administração da Ferroban.

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  • Curiosidades

Morro dos Barbosas



A maior Bandeira Brasileira de todo o mundo fica hasteada permanentemente no Morro dos Barbosas, em São Vicente.
É possível avistar a bandeira de quase todos os pontos da cidade e inclusive dos municípios vizinhos. Mais do que uma atração turística, a gigantesca Bandeira Brasileira mostra o sentimento de nacionalismo que existe em São Vicente, onde o Brasil começou a dar seus primeiros passos.

Casa do Barão



Construída no fim do século XIX, abriga o Instituto Histórico e Geográfico e a Biblioteca Municipal. Possui um acervo de 1.380 peças.

Centro Cultural da Imagem e do Som



O complexo abriga um cinema para 63 lugares, o Espaço Cultural Francisco Rienzi, com livros, discos de vinil e cd’s, além de um espaço para exposições. Foi inaugurado em 22 de Janeiro de 2000.

Rua Japão



Inaugurada em agosto de 1998, a Praça Kotoku Iha caracteriza-se hoje como um marco da Rua Japão, que ficou conhecida como um núcleo de pescadores. A idéia de transformar o local em um recanto japonês partiu da união de São Vicente com a cidade de Naha.

Memorial 500 anos



Uma das mais belas vistas da praia de São Vicente está no Memorial dos 500 anos, que fica localizado no alto da Ilha Porchat (próximo ao Terraço). Não apenas a vista do local é atrativa. A plataforma, projetada pelo mundialmente famoso arquiteto Oscar Niemeyer, tem uma design que chama atenção por sua beleza e linhas arrojadas.
A ponta da plataforma do memorial aponta para o Congresso Nacional, em Brasília.

Complexo de Eventos e Convenções da Costa Mata Atlântica



Inaugurado em 2003, o Complexo de eventos e convenções está localizado em ponto estratégico próximo a Rodovia dos Imigrantes, sendo o maior pavilhão de exposições do litoral paulista.

Morro do Voturuá



Freqüentado por adeptos de esportes radicais, o Morro do Voturuá é o ponto de partida de vôos de asa delta e de paraglider. Para quem gosta de emoção e belas vistas, os passeios aéreos que saem do Voturuá têm como sua principal atração a vista privilegiada de todas as praias da cidade. Durante o vôo, o visitante poderá avistar alguns dos municípios vizinhos de São Vicente.O morro começa na divisa entre as cidades de Santos e São Vicente, e sua extensão segue até o Horto Municipal de São Vicente, à Av. Juiz de Fora, s/n, Vila Voturuá.

Exército Brasileiro




O Exército Brasileiro nasceu em São Vicente. A primeira convocação para um serviço militar obrigatório em terras brasileiras aconteceu por promulgação da Câmara de São Vicente, no dia 9 de setembro de 1542, que expediu um termo que determinava a organização de uma milícia formada por colonos e índios. O objetivo desse primeiro exército nacional: defender a primeira vila do Brasil dos constantes ataques dos silvícolas e também piratas.

Pelo termo promulgado pela Câmara de São Vicente, os portugueses recém-chegados e que viviam nos campos, eram obrigados a se juntar com os vicentinos da vila na defesa do País. Foi também a primeira parceria entre o então Estado com a iniciativa privada, representada pelos colonos.

Mais tarde, em 17 de dezembro de 1548, foi instituído que todo colono, habitante da terra, deveria possuir uma arma de fogo, pólvora e chumbo. Os proprietários de engenho tinham que reunir a pólvora necessária para acionar dois falcões (canhão de pequeno calibre), seis berços e seis meios-berços (canos de anteparo) e 20 arcabuzes, além de 20 lanças ou chuços, 40 espadas e gibões de armas alcochoados.

Na Casa do Barão há um quadro do pintor Carlos Fabra que lembra os irmãos Braga , que teriam sido os primeiros vicentinos a serem reconhecidos pelos nomes. Ou seja, pessoas nascidas na vila e que se tornaram ilustres por terem participado das milícias decorrentes do termo promulgado pela Câmara. Os irmãos lutaram na defesa da terra e participaram da construção de fortificações em Bertioga.

Hino

"Foi num cenário vivo de beleza de encantos mil,
de eterna luz e graça,
que a mão de Deus, brindando a natureza,
plantou o marco forte de uma raça.

E aquela terra virgem, vislumbrando
o seu porvir no céu estrelejado,
ergueu o porte e altiva caminhando,
seguiu o rumo já por Deus traçado.

Assim aureolada,
na luz alvissareira,
surgiu predestinada
a célula primeira.

No verde da esperança,
no ouro da riqueza,
no azul, céu da bonança,
no branco de pureza.

O teu passado é, ó São Vicente
um monumento, altar cheio de glória,
perante o qual se curva, reverente,
um povo que conhece a tua História.

Viste o Brasil nascer, crescer gigante,
acalentando em teu amor profundo,
e transformar-se belo, radiante,
iluminado ao Sol do Novo Mundo
"

Música - José Jesus A. Marques
Letra - Luiz Meirelles Araújo

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