Tensão pré-reforma ministerial

15/3/2005
Zé Preá

"Passando uma fome danada em Cabrobó (que embora vizinha de Belém de São Francisco, não apareceu na telinha da Globo em Senhora do Destino), e cansado de esperar por um empreguinho gerado no governo Lula, o primeiro formal, pois antes só trabalhava nas Frentes de Emergência, o poetinha espalhou a sua folha corrida pela Internet e pasmem, foi contratado para ser informante político junto ao Comitê Representativo do Capital Produtivo Internacional com sede na Suíça. No começo da semana próxima passada, tocou o telefone do orelhão que fica em frente à barraca de D. Judite, onde o Zé costuma tomar a sua Pitu: era o seu contato na Suíça preocupadíssimo com a saúde de Lula porque os jornais de lá noticiaram que Lula foi a uma solenidade (inauguração do novo submarino da Marinha), entrando mudo e saindo calado.

- Alô Zé, o que é que está acontecendo com o seu Presidente? Está doente? Está estafado? Está com a pressão alta? Ainda sofre o efeito Grenhalgh? D. Marisa não o quer mais?
- Está tudo bem com Lula, só que teve uma antevisão do Inferno!
- Como assim?
- No dia seguinte àquele da solenidade, a visão se materializou: o Presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, disse que o PP está de boca aberta à espera de dois ministérios. E um tal deputado Janene, do PP do Paraná, disse que a relação do partido com o governo é puramente comercial. Quer mais?
- Zé, por favor, avise ao nosso assessor de Brasília que de imediato diga a Lula que aceite, afinal o que representa dois ministérios diante de trinta e cinco? Como já tem o Ministério das Cidades pode muito bem ser criado o Ministério do Campo. Aliás, essa sigla PP não quer dizer Participação Paga? Um último lembrete Zé: faça uma sextilha e distribua por toda a imprensa brasileira, incentivando Lula a falar. Assim as bolsas não caem, o dólar não sobe e nós continuamos a investir no Brasil, gerando estes milhões de empregos que os brasileiros precisam e o IBGE está acostumado a constatar. Não podemos deixar o superávit primário cair. Eu juro que os juros vão continuar subindo para o bem de vocês. Vou conferir a publicação dos versinhos começando pelo Migalhas, mas por favor não utilize aquela maldita linguagem matuta na poesia, seja um pouco mais erudito.

Diante da ordem recebida somente restou ao poeta obedecê-la, se bem que somente conseguiu fazer uma sextilha:

'Se toda não-consciência
É sinal de enfermidade
O Lula quando se cala
É Lula pela metade:
Não deixe o dólar subir
Ô Lula, fale à vontade!'"

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