Arrumando a casa

30/3/2005
Mateus Simões de Almeida - escritório Almeida, Ferreira & Rodrigues Advogados

"Por mais tentador que me possa parecer concordar com o prezado Migalheiro Fernando B. Pinheiro, não posso aceitar suas premissas, ainda que comungue de suas conclusões. A educação no Brasil é problema crônico e certamente nos compete buscar soluções para esse mal, a reforma política também é premente e talvez agora, após o susto "severiniano", nossos deputados venham a atentar para a questão, mas daí não me permito apontar o voto dos analfabetos funcionais como a razão da má qualidade de nossos congressistas. Tal afirmativa me remete à perigosa idéia do “governo dos bons”, sistema democrático controverso, defendido por Gregos na antiguidade, mas incompatível com o atual estágio de evolução do conceito de democracia. Mesmo aquele que não recebeu educação apropriada tem direito de escolher seus representantes, não é menos digno nem sua opinião é menos relevante que a de um letrado. Não nos cabe decidir o que é bom para os outros, isso não é democracia, por melhores que possam ser as intenções, isso é ditadura, autoritarismo, despotismo, ainda que esclarecido. Em verdade, desde sempre nosso legislativo se mostra corrupto, pouco eficiente e condescendente com os desmandos do Executivo, foi assim no Império, na 1ª República, no Estado Novo... e continua assim nessa nossa Nova República, que de nova tem apenas um texto constitucional que já se fez emendar mais de 50 vezes (em se considerando as Emendas de Revisão). O Problema brasileiro é mesmo grave e nisso concordo com o caro colega Migalheiro, mas o desastre não se deve à má qualidade do eleitor analfabeto, mas à má índole da elite que comanda nosso país. Elite política, econômica e intelectual que desconhece escrúpulos, ignora a moralidade e manobra a população na busca da realização de interesses menores. Precisamos mesmo de reformas institucionais, mas acredito que a reforma dos valores morais de nossa elite deva ser prioritária, sob pena de não se viabilizarem nenhuma das outras."

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