Crise no governo

21/6/2005
Marcos José do Nascimento

"A persistência com que o Deputado Roberto Jefferson mira em seus alvos preferidos deixa dúvidas no ar. Com efeito, onde estão as provas? Se ele participou de algum esquema ilícito, tê-lo-ia feito apenas recentemente? E antes? É crível a fixação com que ele dirige as suas acusações? Em razão de que fatos se deram as acusações sem prova até agora feitas pelo Deputado? Somente apoiou ele o partido presentemente ocupando o Palácio do Planalto? Se apoiou os anteriores, o que teria feito, do que teria participado? A quem interessa tanto barulho? Se ele sabia dum esquema dessa magnitude, por que não o denunciou antes, no órgão adequado, no momento em que teve notícia, em lugar de viver de porta em porta, dos órgãos da imprensa? E os governos anteriores, o que tem ele a dizer sobre as negociações e negociatas de que teve notícia ou participação com provas? Até que ponto pode ir um parlamentar federal nas suas acusações, sem que tenha trazido à luz provas concretas sobre elas? Uma vez não trazidas as provas do afirmado, e em razão do prejuízo causado, não seria o caso de uma responsabilidade proporcional ao dano que o acusado-acusador causou? Por que motivo a imprensa nacional fecha um discurso uníssono, salvo raríssima exceção isolada de revista semanal, sem abordagem variada de um para outro informativo, jornal ou revista? Se costumam dizer por aí umas e outras afirmações, cabe indagar de um princípio básico em toda a acusação: o ônus da prova cabe a quem acusa. Crer de outra maneira é sustentar no circo que se formou até hoje. Muitas dúvidas permanecem no ar, e não podemos, até prova em contrário, a despeito dos possíveis indícios demonstrados e, em especial, em razão das origens desses indícios, acusar, terminantemente, alguém. E o mais estranho, estapafúrdio é o acusado virar acusador, saindo incólume, até então, no primeiro momento televisivo-pirotécnico na Câmara dos Deputados.Este não é, decididamente, órgão sério para apuração de qualquer fato, deixando-nos o questionamento de até onde deve ir a imunidade parlamentar. Não seria o caso de acusações de possíveis crimes como esses, o fato ser apurado numa delegacia de polícia, no Ministério Público e, posteriormente, ser julgado em juízo de primeiro grau? Fosse a apuração dos fatos narrados feita em órgão técnico, em lugar de político, só restariam duas opções para tanta conversa, o arquivamento da acusação e a prisão do acusado-acusador. Ficam muitas perguntas no ar e poucas são as respostas. A oposição de hoje aposta no "quanto pior, melhor", acusação que usava no ontem contra quem é governo de hoje. E ficamos assistindo ao circo formado, onde de um lado, não vemos muita credibilidade; do outro, o oportunismo de uma oposição que alugou por oito anos o palácio (PSDB), cujo sócio viveu 38 anos no poder (PFL). Não estaria em momento propício aprofundar-se mais o debate, questionando-se o papel do legislativo, indagando-se do controle social sobre este Poder, sobre a forma como ele se organiza, mesmo internamente. Ainda que se diga que um Poder não pode interferir no outro, é justo que o controle social sobre o Legislativo, nas três esferas, estabeleça-se. Seria oportuna a proposta de controle externo do Poder Legislativo, dando esses poderes aos eleitores, em lugar de comissões, assim talvez tivéssemos um pouco mais de seriedade, em lugar do cinismo e oportunismo com que vemos tantas figuras ilibadas de ontem apregoar moral nova para esses mesmos pregadores de ocasião, moral que eles nunca prezaram e muito menos estão preocupados com valores que hoje se apresentam como paladinos. É crível que numa máquina dominada por oportunistas e serviçais do poder, seja qual for ele, prosperem tais figuras que, de tempos em tempos, voltam a carga, em especial quando se vêem alijadas do prato que costumavam comer. Oxalá, os brasileiros acordemos e mudemos, pois de outra maneira, o ciclo reinicia-se e vemos prolongar esse quadro que não é de hoje."

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