Crise no governo

1/7/2005
Wilson Silveira - escritório Newton Silveira, Wilson Silveira e Associados - Advogados e CRUZEIRO/NEWMARC Propriedade Intelectual

"Nosso presidente mais uma vez se dedicou ao improviso. Foi na posse do novo procurador geral da República. Sem grandes metáforas, Lula disse que todos são contra a corrupção, nos outros; que todos querem ver tudo investigado, nos outros. Que a corrupção faz parte dos maus hábitos dos brasileiros, e que os brasileiros precisam acabar com tais costumes. Aleluia. Pela primeira vez o improviso deu certo e o que foi dito tem sentido. Acostumado a ser pedra e não vidraça, e a atirar pedras nas vidraças dos outros, evitou o PT de olhar no próprio umbigo. Agora, há quem assista chocado o desenrolar da crise no governo e no PT, uma crise moral em que todos são vidraça, salvo honrosas exceções, dentre as quais, infelizmente, não se encontra a cúpula do PT. É de todo lamentável o esforço desenvolvido pelo partido, e pelo Governo que é do partido, em não serem investigados. Primeiro pela tentativa de obstrução da CPI. Depois pela luta pelo controle da CPI. E agora pelo triste espetáculo, constrangedor até, de deputados e senadores do PT, na nova situação de vidraça, tentando, por todos os meios, obstar as investigações e desviar o caminho da busca da verdade. A força com que o PT impede o Delúbio de se explicar, a violência do Genoino no mesmo sentido, o impedimento de a Polícia Federal verificar tanto o Delúbio como o Marcos Valério com qualquer operação de nome curioso como, por exemplo “A verdade salva”, são sintomas de que algo muito maior existe por aí, e anima o público a perder suas noites na nova novela das CPIs. O esforço do PT e do governo em ampliar para trás as investigações, para chegar ao governo anterior, merecia, mais, que tal ampliação se iniciasse com as informações de Pero Vaz de Caminha que, segundo consta, aproveitou sua carta para pedir emprego para um parente. De líder da ética (ao menos assim pensavam os filiados do PT), o partido descambou para a repetição (lo mismo, pero mas fuerte), pretendendo como única defesa o "sou, mas quem não é?" No fim, eu e todo o povo somos, mesmo, como diz o presidente: adoramos ver os outros investigados, já que corruptos são sempre os outros. E, em razão disso, mais um governo se vai. E com ele as esperanças de uma boa parte da população em que, dessa vez, as coisas fossem diferentes. Mas não são."

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