Crise no governo

12/7/2005
Marcos José do Nascimento

"O professor de Ética e Deontologia, no último ano do curso, afirmava para nós que, no Brasil, não existe imprensa, mas órgãos de doutrinação coletiva. A assertiva cabe muito bem no momento presente. Com muito escassas exceções, percebe-se, na grande maioria da imprensa, escrita ou televisiva, a preocupação do escândalo pelo escândalo, em meio a interesse de tiragem e audiência, se não houver outros interesses de encomenda não revelados, haja vista que já se fez presente a denúncia de empresário que encomendava matérias de capa de revista, e da briga entre dois periódicos semanais, ocorreu até a ameaça de dossiê de um contra o outro, reinando, posteriormente, entre os dois a mais perfeita paz e harmonia. Nesse momento, nós nos perguntamos: é possível confiar numa imprensa como essa? O mínimo de razão recomenda-nos que de maneira alguma podemos receber o que nos fala ou que se escreve com o mínimo de prevenção e análise crítica. Vamos aos fatos. E este é recente, numa gravação no Rio de Janeiro sobre a investigação de fraude no INSS, coisa não tão nova, há o relato de uma investigada sobre esquema de propina (de ouvir falar), que envolveria várias administrações federais, no entanto o jornal estampa na matéria o nome do PT, como bola da vez que é, sem mencionar os outros possíveis envolvidos. Há muito interesse em jogo rondando o Planalto Central, alguns contrariados, assim como as investigações é que devem falar por si. Quem não se lembra da campanha de Tancredo Neves para a Presidência? Pois bem, naquele instante político, em Brasília, houve farta distribuição de panfletos, que associavam Tancredo Neves a comunistas (ranço da guerra fria), procurando incutir temor na população, mais tarde presos e interrogados, descobriu-se que se tratavam de agentes do extinto SNI. Assiste-se, de maneira explícita, de parte a parte, o uso político do instrumento da CPI, como sempre deve crer tenha sido, faltando, em muitos momentos imparcialidade e perícia técnica da grande maioria de seus participantes. Nesse aspecto, nem mesma a Deputa Denise Frossard, com a sua experiência de magistratura, não escapou a atitudes parciais, como se percebeu na intervenção feita ao Deputado Bittar, do Rio de Janeiro, quando este interrogava a ex-secretária de Marcos Valério, lembrando a Deputada que se deveria ater-se a fatos e não a juízos de valor nas indagações, quando no dia anterior, a Deputada Laura Carneiro, do Rio de Janeiro (não só ela), ao indagar o publicitário Marcos Valério, usou e abusou (como muitos outros) de juízos de valor sobre o depoente. Não que defendamos a isenção de ninguém, mas esse simples fato, não desapercebido para quem assistiu aos trechos ilustra bem o quão de político, em lugar de técnico, é o instrumento de uma CPI, sem falar nas manchetes do dia seguinte, estampando para a população que, por um motivo ou outro, não tem acesso à transmissão dos enfadonhos interrogatórios. Todos esses fatos ilustram, como muitos outros o argumento nosso, bem como abundam muitos outros, em vários instantes, envolvendo inúmeros personagens da imprensa e do legislativo federal."

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