Homenagem - Adauto Suannes

14/10/2014
Cleanto Farina Weidlich

"Uma fala sobre a capa do 'Ninguém sofre por que quer', do nosso homenageado, o conspícuo e erudito, Adauto Suannes. 'Esta segunda edição e corridos alguns anos desde o lançamento do livro, muita coisa aconteceu, até porque a vida é eminentemente dinâmica. O Vítor superou todas as dificuldades referidas no prefácio e hoje é um garoto saudável, bem-humorado, inteligente e, para orgulho do avô, amante dos livros. O André já se considera um rapaz e é mais chegado aos esportes do que o irmão. Quanto a mim, ingressei no seleto grupo dos 'CCs'. Foram necessários muitíssimos anos para que as pessoas, principalmente graças aos 'AAs', descobrissem que o alcoolismo é uma doença, por sinal insidiosa. Mesmo assim, ao contrário do que preconizava o prospectivo Emilio Mira y Lopes, já na primeira metade do século passado, os meios de comunicação continuam autorizados a incentivar o seu consumo. Até atividades esportivas são patrocinadas por tais bebidas, tal como se fazia com o tabaco até recentemente. Penso que já era tempo de os alcoólicos anônimos deixarem esse anonimato e saírem à rua para darem testemunho do sofrimento que a bebida lhes causou a eles e a seus familiares. Pois o 'CC', ainda não oficializado, pretende reunir o cancerosos conhecidos, cujos testemunhos certamente levariam muita gente a tomar medidas preventivas diante do risco de contração de tal moléstia, que chega sem prévio aviso. O médico David Servan-Schreiber, no oportuno livro Anticâncer, traz seu testemunho pessoal: 'Saber que se está com câncer é um choque. Sentimo-nos traídos pela vida e pelo próprio corpo. Mas ficar sabendo de uma recaída é terrível. É como se descobríssemos de repente que o monstro, que acreditávamos ter abatido, não está morto, e não havia parado de nos seguir na sombra, e terminou nos pegando'. Tal recaída, em lugar de desanimá-lo, mais o animou a estudar tal moléstia, com propostas preventivas que estão ao alcance de qualquer de nós. Pois foi o câncer que me levou a reeditar o presente livro, ao descobrir o número elevado de pessoas que se recusam até mesmo a pronunciar o nome de tal moléstia, esquecidos de que tremermos diante do nome de nosso inimigo já é entrar na luta em posição de desvantagem. Orgulho-me de ter ao meu lado, nessa batalha, esse homem extraordinário chamado José Alencar Gomes da Silva, atualmente no exercício da Vice-Presidência da República, exemplo de fibra, fé e, acima de tudo, vontade de viver. Ao sair do hospital depois de uma das inúmeras cirurgias a que se submeteu em razão do invencível câncer, expressou tudo isso em uma frase lapidar: 'Deus não precisará do câncer para me levar quando resolva fazê-lo'. Dedico, pois, especificamente a ele esta segunda edição. Adauto Suannes'. Simples assim! Um viva aos 'CCs', meu pai que padeceu dessa doença, teve um na laringe – que o deixou sem fala – e depois, apareceu outro na cabeça – que requereu nova cirurgia – fora as reinternações para raspagens, radioterapia. Se esse seu livro o tivesse alcançado antes do dia 3/11/1996, talvez não tivesse desistido da luta, a abandonado a vida por conta própria. Foi tudo muito dolorido. Ainda sofro a dor da sua partida, ele foi o meu melhor conselheiro, orientador, amigo, professor, .meu tudo, nessa vida. Sempre me incentivou quando escrevi a minha monografia, lá estava ele, no frontispício. Como sempre aconselhava e exigia, 'recorra, recorra, recorra, meu filho, sempre, sempre, sempre, e tão exaustivamente, com tanto entusiasmo, com tanta altivez e alegria, como se a cada recurso,  você tivesse ajuizando o primeiro'. Assim fiz, assim faço e penso que continuarei a fazer, recorrer, recorrer, recorrer, não poderia ser diferente, pois, os fatos da vida em sua sincronicidade divina tem sempre as suas compensações, as suas surpresas, ou ainda, as suas coincidências. E estou certo, ele também ensinava 'encarar a vida com muito otimismo e coragem, e seja o que Deus quiser', me trouxe sob as asas migalheiras colhidas pelo raio guaxo da antena. Você meu querido mestre, amigo, professor, orientador, exemplo de vida. Já foi dito pelo Érico, aqui da nossa vizinha Cruz Alta, 'os livros são como os filhos, uma vez que os colocamos no mundo, não mais nos pertencem, e temos que estar preparados, para tudo que se diga deles'. Quanto a isso, não tenho nenhuma dúvida, que esse teu novo rebento já nasce com o batismo da virtude, tem ele em suas margens, embutido uma espécie de oração (orar + ação) inteligente, que ao final, me atrevo a interpretar e sentir. E está tudo no segundo mandamento entregue à Moisés, 'amor ao próximo'. Dizem os eruditos, que toda a palavra, toda a inteligência divina, se encontra nesse 2º mandamento e esse teu livro, veio para reafirmar, para acertar, para ratificar essas verdades, tentando extirpar, como um bálsamo, um lenitivo, um pouco da dor, além de servir como um farol sinalizando os recifes, redemoinhos e perigos, com a receita do otimismo e coragem."

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