Voto eletrônico

6/11/2014
Abílio Neto

"Eles (da Justiça Eleitoral) dizem que todo o processo é seguro e assim explicam: depois de emitir o BU (Boletim de Urna), o mesário grava os dados daquela urna eletrônica em uma espécie de pendrive que já é acoplado ao equipamento e leva o nome de Memória de Resultado. Como as urnas não são ligadas a nenhum sistema de rede ou internet, para evitar invasões de hackers, a Memória de Resultado e o Boletim de Urna são encaminhados para um ponto de transmissão e de lá seguem para os datacenters dos 27 tribunais regionais eleitorais. O processo de transmissão é feito por VPN, sigla em inglês para Rede Privada Virtual. Falam também que é muito difícil (não impossível!) alguém invadir a VPN, mas mesmo que conseguisse fazer isso, o hacker não teria tempo para alterar os dados e enviá-los ao TRE sem que a fraude fosse descoberta. Além disso, os dados adulterados não passariam por outros filtros de checagem, como a assinatura digital da rede e a criptografia – semelhante à usada pelos bancos. Além disso, um superhacker precisaria de muito tempo e uma estrutura muito grande para quebrar a criptografia, recolher os dados, modificá-los, criptografar novamente e enviá-los. Até lá, nosso sistema teria percebido a inconsistência das informações. Mas a coisa não é tão segura assim como os homens do TSE pensam e eles dependem de uma rede, sim. Nas eleições de 2012, um jovem hacker de 19 anos fraudou as eleições do Rio de Janeiro e contou como fez isso em 10/12/2012, no auditório da Sociedade de Engenheiros e Arquitetos do Rio de Janeiro (SEAERJ), na Rua do Russel, n° 1, no decorrer do seminário 'A urna eletrônica é confiável?', promovido pelos institutos de estudos políticos das seções fluminense do Partido da República (PR), o Instituto Republicano; e do Partido Democrático Trabalhista (PDT), a Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini. O jovem hacker disse naquela ocasião: 'A gente entra na rede da Justiça Eleitoral quando os resultados estão sendo transmitidos para a totalização e depois que 50% dos dados já foram transmitidos, atuamos. Modificamos resultados mesmo quando a totalização está prestes a ser fechada'. Entre os presentes nesse seminário estava o professor de Ciência da Computação Pedro Antônio Dourado de Rezende, da Universidade de Brasília (UnB) que foi um dos palestrantes. Há mais de dez anos que ele estuda as fragilidades do voto eletrônico no Brasil. Perguntado sobre o que achou da fraude relatada, ele respondeu: ‘Plausível, reveladora de muitos detalhes da fase de totalização, e muito séria. Pois é nessa fase do processo de votação que fraudes podem ocorrer de forma definitiva. Ao mesmo tempo, curiosamente, essa fase é sempre omitida nas avaliações externas e testes públicos de segurança, alardeados como garantias de lisura do processo de votação. A Justiça Eleitoral sempre restringiu os testes e avaliações à urna eletrônica. E quando questionada sobre a segurança do processo de votação como um todo, ela desconversa. Sempre confunde o entendimento da questão com o da urna simplesmente."

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