Opinião

13/11/2015
Renato Battaglia

"Considerando que estou fora do alcance das chibatadas do respeitável sr. Diretor da redação do nosso Migalhas, vou me atrever a dois comentários sobre a edição de hoje (Migalhas 3.741 - 13/11/15 - clique aqui). Peço a sua paciência porque serei um pouquinho longo. 1. Eça de Queiroz é escritor genial. Vale a pena aprender português apenas para lê-lo no original. Mesmo assim, com todo o respeito que nosso Eça merece, julguei que a frase de hoje está mais para Conselheiro Acácio (com todo o respeito, queira me perdoar). 2. Sobre a 'transparência' exigida pelo nobre presidente da OAB. Transparência é fundamental. Elio Gaspari sempre menciona o juiz da Suprema Corte dos EUA que dizia que 'A luz do sol é o melhor desinfetante que existe'. O Executivo, vários ministros do STF, a PGR e um bom número de deputados e senadores querem acintosamente, rapidamente, eu diria que pouco-republicanamente, a cabeça de Eduardo Cunha. Não há dúvida, pelo que a imprensa noticia, que o presidente da Câmara deva ser formalmente investigado. Sem blindagens. Que se investigue. Que se dê todo o direito à ampla defesa, ao contraditório, o 'devido processo legal' e, se ao final houver sentença condenatória transitada, que se cumpra. Porém o que não entendo é: a) o sr. presidente da OAB há meses foi o primeiro a blindar a presidente Dilma. Ele, por razões que só ele sabe, levou a OAB Federal a um constrangimento inaceitável. Ele produziu um documento de apoio à presidente que teria sido assinado, além da OAB Federal, pelas CNI, CNA e CNS. Levou um constrangedor 'tapa na cara', quando as presidências da CNA e CNS negaram ter assinado tal documento. Estas duas entidades disseram ter visto 'um documento pronto', negaram participação na redação, na assinatura e ainda se deram ao luxo de afirmar que 'se os presidentes da OAB e da CNI querem compor com o governo, isto é da conta deles'. Grotesco. Apenas o jornalista Ilimar Franco de O Globo soltou uma nota a respeito e 'c'est fini'. O assunto morreu. Ninguém falou mais nada. A OAB não merecia isso. b) é óbvio que quem diz 'Fora Dilma, impeachment já' é golpista! Temos leis que definem claramente as pré-condições para se pensar em impeachment. Mas, como classificar quem blindou e ainda blinda a presidente, o sr. Lula, filhos, Palocci, o gov. Pimentel, etc.? Serão legalistas? Serão o quê? Como adjetivar estes blindadores? Que membros da Câmara e do Senado queiram impichar ou blindar faz parte do jogo político. Porém a PGR e ministros do STF podem blindar um presidente da República? Em qual lei? A CRFB/88 permite blindar presidente da República? Devo ser Eremildo II, o neo-idiota, pois creio piamente que, se o STF não blinda sequer o faxineiro do meu prédio, jamais iria blindar logo um presidente da República! Entendo que, se há indícios fortes (como a imprensa noticia todo dia) envolvendo Dilma (Pasadena, Abreu e Lima, Belo Monte, desvio de recursos para financiar eleições 2010 e 2014) e Lula, todas as blindagens deverão ser retiradas. E aí, meu caro GT, faremos exatamente como no caso do Eduardo Cunha: devido processo legal, ampla defesa, contraditório, etc., etc. Houve sentença condenatória? Res iudicata? Cumpra-se. Simples assim. Por fim. O PT há anos diz que FHC comprou a reeleição e fez privatizações contrárias aos interesses nacionais. Não entrarei neste mérito até porque o PT também fez suas privatizações. Digo apenas que Lula ficou oito anos como presidente direto e está há cinco como indireto. Tinha a obrigação moral e ética de investigar as denúncias que fez. Não investigou FHC porque não quis. Não determinou a abertura de um simples inquérito, mesmo tendo o copo e a Brahma na mão (perdão acho que fui mal aqui, mas não deu para evitar), sem falar da maioria no STF. Em tempo: acho que foi a Odebrecht quem disse que ele é 'o Brahma'. Sabe por quê Lula não investigou nadinha? Porque há 515 anos, desde Cabral, prevalece a lógica do 'ô FHC, eu não vou te investigar não, porque amanhã ou depois elegem um outro presidente e aí ele também não vai me investigar'. E la nave va. Ou a sociedade brasileira acorda, vai pras ruas pacificamente, mas em número expressivo para assustar os legisladores, o STF, a PGR e exigir civilizadamente, dentro das leis, o fim das blindagens, do 'toma lá, dá cá', ou seremos apenas uma grande Venezuela, sem o dinheiro do petróleo que ela tem; seremos uma sub-Venezuela. Quanto aos blindadores de plantão, eles têm algumas escolhas: renunciar aos cargos (é o famoso 'pede para sair'); romper com o sentimento de dever a quem os indicou. Entenderem a grandeza dos cargos que ocupam. Simplesmente aplicarem a lei. Serão respeitados pela nação; nem renunciar, nem romper. Continuarem eméritos blindadores: passarão ao lixo da História do Brasil. É questão de tempo."

Envie sua Migalha