Política...

6/7/2006
Pedro Luís de Campos Vergueiro – Procurador do Estado de São Paulo aposentado e advogado

"Preliminarmente: duas notícias. A primeira, de todos bem conhecida, é o fato de hoje (4/7)ser o dia nacional dos Estados Unidos, dia que representa a apologia da liberdade, da autonomia e da soberania.  A segunda, mais estranha, é o lançamento do livro, certamente ocorrido numa bela cerimônia pública, cujo título é 'Leituras da Crise' lançamento da Editora Fundação Perseu Abramo e que contém quatro entrevistas cujo tema em discussão é 'crise'. Ou seja, o tema analisado no livro é a crise que periódica e diuturnamente é vivenciada pelos brasileiros. Como lançamento e debate tais não são a minha praia, cingi-me à leitura da notícia/reportagem ‘Marilena Chauí acha que PT é que deve dar tom ao 2º mandato’ (O Estado, 21/6/06). Confio no bom senso dos jornalistas. Daí as observações seguintes. Diz a notícia que Dona Marilena ressaltou em sua manifestação oral durante o evento que o segundo mandado do Presidente Luiz Inácio (ela dá como certa a sua reeleição em outubro próximo) tem de seguir as diretrizes do partido, do PT. Se não o fizer, diz ela, 'é tchau e bênção!' Leninista, trotskista, stalinista, ou outra coisa, é essa afirmação. O PT manda que se faça dessa forma e não de outra. Em síntese, Dona Marilena exige que o próximo governo não seja um governo de alianças, mas, apenas e simplesmente um governo de petistas, de petistas de primeira linha. Não obstante, deixa uma janela aberta pois admite que isso poderá ser concretizado parcialmente. Parece que Dona Marilena tem memória fraca. Esqueceu-se ela que o primeiro Ministério, o Ministério originário foi montado com nomes de militantes petistas. A maioria dos Ministros iniciais eram petistas, petistas de carteirinha. Isto considerado, em face da nova afirmação de Dona Marilena, tem-se que ela concluiu que a composição inicial do Ministério do Presidente Luiz Inácio não era formada por petistas de primeira linha. E, consequentemente, também a evolução com a troca de Ministros. A mesma conclusão se infere das suas ponderações sobre a existência de um programa de governo. O programa de governo desses quatro anos de primeiro mandato, segundo ela, não foi um 'programa de primeira linha', pois um programa tal é exigido para o segundo mandato. Ou seja, tudo quanto vem sendo feito está errado, é incompleto, é ineficiente, é impopular, é inadequado etc. e tal. Enfim, diante dessas ponderações da filósofa Dona Marilena Chauí, não se extrai outra coisa senão a de que o governo em curso é uma porcaria: porcaria de plano de governo, inclusive porque inexistente, e porcaria de Ministros porque não foram escolhidos para os Ministérios pessoas de primeira linha. Disso, que poderia restar senão sucessivas crises. E a causa disso segundo Dona Marilena foi a afoiteza do Luiz Inácio em ocupar a cadeira presidencial. Entre parênteses, infere-se da afirmação que o Presidente não estava preparado para ocupar o cargo. Vale a pena transcrever o que disse a filósofa de uma governabilidade petista: que o Luiz Inácio ‘se elegeu muito cedo, quando a luta de classes não havia definido a hegemonia da classe trabalhadora’. Na verdade essa é uma afirmação anacrônica e infeliz. Afinal, com petista militante, ela de alguma forma contribuiu para que o Luiz Inácio viesse a ocupar a cadeira presidencial. Luta de classes é coisa do passado já quase remoto. A classe trabalhadora desde o século 18 vem conseguindo se impor e fazendo valer seus direitos. Nesse aspecto foi um ditador, Mussolini, que deu à Itália a Carta del lavoro, onde fixou e assegurou os direitos dos trabalhadores, documento esse que serviu de base para a consolidação das leis trabalhistas brasileira. Ler a Carta del Lavoro e, mais ou menos, ler a CLT em sua redação originária. No entanto, parece que a filósofa não vê conquistas nas lutas das classes trabalhadoras. É cega e surda, além de ler pouco, pois. Portanto no entender de Dona Marilena 'habemus crisis'. E a prova maior desse status quo vigente é o provável conteúdo do livro recém lançado: 'Leituras da Crise', crise ou crises atestadas por ela própria, Leonardo Boff, João Pedro Stedile e Wanderley Guilherme dos Santos, visto que os quatro entrevistados comentam as peripécias da governabilidade petista. Será que nessas entrevistas são comentadas as travessuras dos petistas de primeira linha, de segunda linha, de terceira linha e outras linhas? Resta anotar que a tônica das observações de Dona Marilena está centrada na idéia, real e inequívoca, de que o Presidente Luiz Inácio anda muito mal acompanhado."

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