Judiciário

31/7/2006
Daniel Silva

"Tramandaí que se cuide. Esse discurso é o embrião de um totalitário. Vejam só: Tudo está errado, todos são monstros. Só o Judiciário é perfeito (dentro das possibilidades), só que ele está sendo afogado. Libertem o Judiciário. Libertem o meu poder. Me dêem mais poder. Minha supremacia só permite que eu julgue causas que são 'mais sérias'. Coisas irrelevantes eu deixo para pobres mortais imbecis que não tem a minha inteligência, minha sabedoria, meu autocontrole e minha justiça, que é benéfica para todos. Diminuam impostos porque eles comem o meu salário. Todo o resto que se exploda, eu nunca trabalhei na vida (leia-se: abri um negócio), sempre vivi às custas de meu pai e, agora, do Estado. Quem trabalha muito para ganhar dinheiro é safado e desonesto. Onde já se viu, criar produtos e serviços adquiridos por todo mundo e ganhar dinheiro, sem precisar usar da força coercitiva do Estado, em cima da satisfação e bem-estar das pessoas. Vocês têm que fazer como eu, que não quero trabalho e ainda quero ganhar muito, graças à capacidade do Estado de arrancar o meu salário das mãos das pessoas através dos impostos. Isso sim é Justiça. Façam leis mais rigorosas com os outros, principalmente com aqueles que considero meus inimigos. Não façam leis para mim, eu sou soberano, nem para meus amigos, eu os defendo. Sou um novo Cristo, defendo pobres, mesmo que sejam desonestos, ladrões e assassinos. Eu sou juiz. Não preciso de leis contra mim, minha superioridade moral demonstra a desnecessidade dessas leis. Esqueçam essa baboseira de serviço público. Judiciário não é serviço público. Judiciário é um órgão supremo, que determina a Justiça, os caminhos a serem tomados, a interpretação de cada palavra, de cada lei. Tudo deve ser feito conforme manda o Judiciário. Esse ser majestoso e filosófico. Questões diárias devem ser tratadas por burros de carga (leia-se: policiais). Questões de suma relevância como o valor do salário mínimo, a taxa de juros SELIC, as alíquotas dos tributos, a política econômica, isso sim deve ser assunto do Judiciário, o Senhor do Universo. Dêem-me poder e eu lhes darei Justiça! ... Isso tudo só para a inauguração... Não fiquem surpresos se, no aniversário de 5 anos, for proposto o aumento do poder dos magistrados (como o fim do princípio da inércia) e a desvinculação das decisões judiciais das leis emanadas pois, afinal, o Supremo está nos princípios da Constituição que serão interpretados... pelo Judiciário."

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