Líbano

4/8/2006
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Sem querer fazer piada a respeito do conflito no Oriente Médio, até porque dada a gravidade do assunto e do sofrimento imposto aos civis em uma guerra absolutamente sem sentido qualquer gracinha seria de absoluto mal gosto, é forçoso concluir, em razão do que se lê nos jornais, que as armas de guerra fazem o povo todo sofrer e fugir, mas deixam muito a desejar com relação a quesitos como eficiência e competência. Desde o início do conflito, dizem os jornais, Israel despejou milhares de toneladas sobre o Líbano, produzindo algo como 600 mortos, a maioria civis, que nada tem a ver com a guerra. Hoje, os jornais noticiam que Israel deteve o ataque do Hezbollah, não obstante 150 mísseis daquele grupo tenham atingido o território israelense, com o saldo de um morto e doze feridos. Nesse ponto, não é possível deixar de estranhar o resultado: são lançados 150 mísseis sobre um território densamente habitado e os tais mísseis conseguem matar uma única pessoa? E, de outro lado, milhares de toneladas de material bélico caríssimo logra abater pouco mais de 600 inimigos, contando aí, como inimigos civis e crianças? Impossível resistir à conclusão de que o nosso caboclo PCC é mais eficiente e competente... Mas, a verdade é que mesmo com a mais absoluta incompetência está o exército israelita destruindo sistematicamente todo o território libanês, nessa guerra estúpida e irracional, destruindo, com enorme eficiência uma quantidade enorme de construções civis e governamentais, inclusive de indiscutível valor histórico. Um dos capítulos da velha série Jornada nas Estrelas poderia servir de caminho para solucionar, de maneira não menos idiota, mas certamente mais econômica esse tipo de conflito. No tal capítulo, a nave do Capitão Kirk se aproxima de um planeta e pede ordem para pousar. A ordem é negada pelos governantes locais sob a explicação de que estavam em guerra com um planeta vizinho. No entanto, os sofisticadíssimos equipamentos da Enterprise não acusavam nenhum movimento que indicasse a ocorrência de um conflito local. Assim o Capitão Kirk insistiu e teve sua solicitação novamente negada. Decidiu, então, com a autoridade de que dispunha como representante do governo estelar unificar (pois que a Nações Unidas deles funcionava) descer assim mesmo, teletransportando-se à terra juntamente com alguns de seus oficiais (aqueles de sempre) e estando lá, deu com o inusitado: havia, sim, uma guerra, mas ela era virtual. A coisa funcionava assim: cada um dos dois planetas em conflito dispunha de um enorme e sofisticado computador, específico para a 'guerra', o qual disparava contra o inimigo um míssil virtual para atingir o território do outro, cabendo ao que sofria o ataque defender-se também virtualmente, lançando defesas virtuais que conseguissem abater o míssil virtual que lhe fora endereçado. Em tendo sucesso, tudo bem, e seria a sua vez de jogar, lançando contra o inimigo o seu próprio míssil virtual. Mas, se a defesa não fosse bem sucedida, calcula-se teoricamente qual a área que teria sido atingida caso o míssil fosse de verdade, obrigando, em ‘tão não mais virtualmente’, que os habitantes da área teoricamente atingida se apresentassem para serem devidamente eliminados em outra sofisticada máquina de destruição de corpos, de maneira limpa, barata e com a preservação dos imóveis, bens notoriamente mais valiosos que os seres humanos. O que fez o Capitão Kirk? Sacou de sua arma e destruiu o computador, deixando sem defesa os governantes locais que, assim, não teriam alternativa senão retaliar o inimigo com ataques verdadeiros, transformando a guerra em realidade, conseguindo com isso que fizessem a paz. Não sei se isso serve de exemplo para o absurdo da guerra entre dois países vizinhos que jamais deixarão de ser vizinhos. Mas, é sempre bom lembrar que os governantes de países em guerra dificilmente morrem nas guerras que ordenam, cabendo somente ao povo essa desagradável parte. E, quem quiser que conte outra..."

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