Falece Dom Luciano Mendes de Almeida

29/8/2006
Adauto Suannes

"Conheci o padre Luciano há cerca de 40 anos, metidos nós ambos nessa coisa de direitos fundamentais da pessoa humana, coisa que para muitos era então um tema subversivo. Ouvi dele algo para mim impensável: a caridade necessária para receber. Não era bem aquilo que está em São Paulo, o sino sem badalo, mas de ensinar a quem recebe o que fazer com aquilo que recebe. O compromisso cristão não está no dar: deve estar em ensinar como utilizar o recebido. Não o peixe, mas a arte de pescar. Lembro-me de um encontro longo e cansativo de que participamos. Findo ele, convidei-o para jantarmos juntos, pois já era tarde. Ele consultou sua agenda discretamente, mas minha curiosidade notou que ele ainda tinha quatro ou cinco compromissos naquela noite! Eu tinha uma chácara fora de São Paulo e levei para lá um casal que até então sempre morara numa favela. A mulher era nossa faxineira e queria porque queria que eu internasse seus quatro filhos na Febem, pois não tinha como cuidar deles, pois o marido ficara aleijado graças a uma desastrada intervenção cirúrgica. A alternativa foi levarmos os seis para lá e durante anos a lição do padre Luciano me ajudava a ensinar aqueles ex-favelados regras mínimas de higiene. Fazê-los reciclar o lixo e fazer dele adubo para a horta também foi tarefa de anos. Só quando as crianças adolesceram é que isso foi possível. Hoje, o Pedro e a Cecília estão aposentados pelo INSS, moram em casa própria, os quatro filhos casaram e descasaram, mas nenhum deles imagina o quanto devem ao padre Luciano. Tinha tudo para ser Papa. O Espírito Santo, no entanto, preferiu soprar para outro lado. Há algumas pessoas cuja biografia muito me ajuda quando minha fé bruxoleia. D. Luciano Mendes de Almeida foi e sempre será uma dessas. R. I. P."

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