Gramatigalhas

12/9/2006
Antônio Carlos de Martins Mello

"Alguém pergunta se há LATROCIDA, que não encontra dicionarizado. É que a língua é algo vivo, que cria e recria segundo os princípios que adota ao longo da vida. O sufixo –CIDA justifica, a meu ver, o LATROCIDA, cognato de HOMICIDA, por exemplo, entre muitos outros substantivos legitimamente portugueses. É por certo algo impróprio, porque HOMICIDA é quem MATA HOMEM; LATROCIDA não é quem mata ladrão, mas quem comete latrocínio... Vejamos, para ilustrar, o que diz o HOUAISS. -CIDA é... 'pospositivo, do lat. -cída 'que mata, que corta, que deita abaixo' (como em homicída adj.s.2g., de homo,ìnis 'homem' + -cída), der. do rad. de caedo,is,cecídi,caesum,caedère 'cortar, deitar abaixo, imolar', com apofonia, ver ces- ; em comp. cultos do sXIV em diante, como: angüicida, animicida, apicida, bactericida, bernicida, calicida, carrapaticida, deicida, ervicida, feticida, filicida, formicida, fradicida, fratricida, fungicida, gaticida, germicida, herbicida, homicida, infanticida, inseticida, liberticida, loculicida ('que rompe, destrói os lóculos', em botânica), lumbricida, mariticida, matricida, microbicida, parasiticida, parricida, poricida, raticida, regicida, republicida, septicida, suicida, tauricida, tiranicida, uxoricida, vermicida; a partir de 1945, com a consagração da pal. genocida/genocídio, a série, até então fiel à vogal -i- lat. de ligação, passou a admitir também a gr. -o-: etnocida/etnocídio, ecocida/ecocídio, fitocida/fitocídio, geocida/geocídio, glotocida/glotocídio, zoocida/zoocídio; a emergência do fr. suicidaire (1901) ensejou pouco tempo depois o adj. suicidário, parcialmente sinônimo (como adj.) de suicida; suicidário passou assim a ser padrão potencial para com todos os casos aqui relacionados'."

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