Refeições institucionais 8/5/2019 Cleanto Farina Weidlich "Cemitério de campanha Jayme Caetano Braum Cemitério de campanha,Rebanho negro de cruzesOnde à noite estranhas luzesFogoneiam tristementeAté o próprio gado senteNo teu mistério profundoQue és um pedaço de mundoNoutro mundo diferente Pouso certo dos humanosFim de calvário terreno,Onde o grande e o pequenoSe irmanam num mundo só.E onde os suspiros de dóDe nada significamPorque em ti os viventes ficamDiluídos no mesmo pó. Até o ar que tu respirasMorno, tristonho e pesado,Tem um cheiro de passadoQue foi e não volta mais.A tua voz, são os aisDo vento choramingandoEternamente rezandoGauchescos funerais. Coroas, tocos de velasDe pavios enegrecidosQue em Terços mal concorridosForam-se queimando a meioCruzes de aspecto feioDe alguém que viveu penandoE depois de andar rolandoRetorna ao chão de onde veio. Mas que importa a diferençaEntre uma cruz falquejadaE a tumba marmorizadaDe quem viveu na opulência?Que importa a cruz da indigênciaA quem já não vive mais,Se somos todos iguaisDepois da existência? Que importa a coroa finaE a vela de esparmacete?Se entre os varais do teu breteNada mais tem importância?Um patrão, um peão de estânciaUm doutor, uma donzela?Tudo, tudo se nivelaPela insignificância. Por isso quando me apeioNum cemitério campeiroEu sempre rezo primeiroJunto a cruz sem inscrição,Pois na cruz feita a facãoQue terra a dentro se someVejo os gaúchos sem nomeQue domaram este Chão. E compreendo, cemitério,Que és a última paradaNa indevassável estradaQue ao além mundo conduzE aqueces na mesma luzAqueles que não tiveramE aqueles que não quiseramNo seu jazigo uma Cruz. E visito, de um por um,No silêncio, triste e calmo,Desde a cruz de meio palmoAo mais rico mausoléu,Depois, botando o chapéuMe afasto, pensando a esmo:Será que alguém fará o mesmoQuando eu for tropear no Céu? Aos integrantes na nossa Corte Constitucional, envio essa poesia para servir de pano de fundo dos banquetes licitados por 1.13 milhão, para auxiliar na digestão (Migalhas 4.596 – 7/5/19 – Lagosta, vinhos, uísques...)!" Envie sua Migalha