Eleições 2006

6/10/2006
Davi Lensail

"Li há pouco um artigo publicado nesta seção e um comentário seguinte mencionando a 'virgindade do Migalhas'. Fiquei me indagando: Será que não estamos alimentando exatamente aquilo que queremos combater? Fiquei preocupado. Jamais encontrei em qualquer lugar que se denomine democrático as opiniões de um nazista, de um comunista, de um direitista, de um fascista ou de um anarquista. Essas palavras já perderam o seu significado para se transformarem em insultos. Não compartilho nenhum desses ideais, mas ao mesmo tempo gostaria muito de ver as opiniões de pessoas que se julgam enquadradas nessas categorias. Digo isso porque penso que muitas das idéias dessas ideologias estão erradas. Partem de um pressuposto equivocado ou analisam equivocadamente os seus efeitos e a realidade. Sendo este o caso, o mais prudente seria permitir a divulgação dessas idéias e derrubá-las ponto por ponto, demonstrando o seu equívoco. A ciência, a filosofia, a religião todas dispõem, no meu ponto de vista, de diversos instrumentos para examinar os erros existentes em diversas idéias. No entanto, em vez de utilizarmos essas armas, utilizamos o medo e a repressão e proibimos a divulgação de tais idéias. O maior problema foca-se no jovem. O adolescente tem sede de conhecimento e de ser contra o estabelecido. Ao censurarmos essas idéias, estamos passando a imagem de que elas são corretas, mas que apenas não se amoldam aos bons modos da época. Ou seja, o jovem imagina que o nazismo é censurado não porque está errado, mas porque as pessoas têm medo de admitir que ele está certo (os velhos são retrógrados e não estão abertos a novas idéias). A partir desse ponto, os jovens se tornam vítimas de qualquer ideologia. Frente a isso, não causa espanto os diversos grupos neonazistas, neofascistas, neocomunistas, neo-anarquistas ou neo-qualquer-coisa que surgem a todo momento. O Direito desde que elevado à Ciência tem deixado de lado essa questão. Na verdade tem até colaborado com ela. Veja-se o recente caso em que foi proibida a publicação de uma obra que falava mal dos judeus. Não seria mais prudente permitir a publicação da obra? A reação imediata seriam inúmeras críticas literárias, inúmeros outros livros mostrando as falácias das idéias defendidas no livro, condenando-o ao ostracismo. Provavelmente o autor censurado hoje utiliza a internet para divulgar as suas idéias e ninguém está sabendo disso. Jovens estão sendo arrebatados por essas idéias que, por serem proibidas, não podem ser discutidas em lugar nenhum exceto dentro dos círculos onde a idéia se fortalece. Atribuir a culpa à internet é como queimar o sofá sobre o qual alguém foi traído. O principal ponto está na proibição da divulgação de idéias. Alegar que as idéias pregam o crime é insensato. Matar uma pessoa é um crime gravíssimo. Ele não se torna mais ou menos grave pelo fato de o assassino ou assassinado ser nazista, comunista, judeu, índio, branco, racista, negro, asiático, pigmeu, alto, baixo, loiro ou manco. Matar uma pessoa sem qualquer motivo é tão grave, senão mais, do que matá-la por motivos raciais, por exemplo. Discriminar uma pessoa pela sua roupa é tão estúpido, senão mais, do que discriminá-la pela cor de sua pele ou sua religião. Será que não seria mais interessante passarmos a discutir as idéias, debatê-las e demonstrar os seus erros? Não seria mais válido incentivar a divulgação das idéias com as quais não concordamos para que possamos debatê-las em aberto? Não seria mais interessante parar de rotular as pessoas de comunistas, nazistas, direitas e outros 'istas', censurando suas idéias por causa disso e passarmos a debater essas idéias e solidificarmos os seus erros ao invés de se recusar ao ouvir uma pessoa 'rotulada' pelo simples fato de que suas idéias 'dão nojo', 'são erradas e pronto' ou coisa do tipo? Talvez eu esteja equivocado e não entendi a mensagem, mas não é isso a base da Democracia, da busca pela Justiça e do respeito ao indivíduo que estamos supostamente defendendo?"

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