Ortotanásia - Conselho Federal de Medicina aprova resolução

20/11/2006
Glauco Michelotti - Aegis International Ltda.

"Leitores, gostaria de aqui trazer novos prismas ao polêmico tema mais do que entrar no mérito, para mim óbvio, que ninguém deve tirar a vida de ninguém (Migalhas dos leitores – "Ortotanásia - Conselho Federal de Medicina aprova resolução" – clique aqui). Talvez não seja esse o mérito. Não podemos subestimar a capacidade, ética, probidade e conhecimento técnico do CFM, que por sua história de conservadorismo e aplicação técnica, depois de longos debates, aprova medida tão polêmica. Seria tolice pensar que os médicos que zelam pela vida humana, simplesmente tiveram um surto psicótico em massa ao concordar, editar e assinar esta resolução. Deve ter doído mais neles, leitores, que em nós o peso dessa decisão. Afinal, são eles que assistem aos nossos últimos suspiros e que ainda têm de comunicar aos parentes. Hoje, o que vemos nas UTIs de ponta é o simples adiamento da morte e não o prolongamento da vida (sim, é diferente!). Tive oportunidade de ouvir de um ex-diretor da ANS, que hoje em dia para uma pessoa morrer dentro de uma UTI de hospital de primeira linha, 'tem que ter muita fé em Deus!' Pensem que as UTIs provêm circulação, rim e pulmões artificiais, ou seja, se o paciente não for acometido de infecção generalizada hospitalar, praticamente vira um imortal. O que os médicos perguntavam, neste encontro que participei, era: vale a pena manter um paciente em 'vida virtual'?, mesmo sabendo-se que seus órgãos nunca mais voltarão a funcionar? Foi um debate que assisti e realmente foi de virar o estômago, pois naturalmente nos colocamos na situação e/ou vemos nossos familiares nela, mas a resposta telepática de todos à pergunta foi: NÃO. Ninguém teve coragem de responder abertamente. Devemos fugir das soluções poéticas ‘Por que não fazer UTIs para todo mundo?’ A resposta é simples: quem paga a conta? Melhor, expandindo a pergunta de ‘Por quê não ter UTIs para todos?’, resvala em outros ‘por quês’ como, por quê não habitação, trabalho, comida, água, educação, luz (tanto a da light como a divina), Justiça (tanto a do Márcio quanto a divina), e até advogados para todos? Mais do que trazer um ponto de vista definitivo ao tema (que não há) quero aqui policiar todos nós para fugirmos do campo gravitacional fortíssimo dos pontos de vista simplistas, que só nos trazem ignorância e atraso. Uma ocupação 'ótima' de nossos leitos de UTI salvarão muito mais vidas, que morrem todo dia por falta de socorro adequado. Otimizar processos em hospitais e lidar com custo-benefício em se tratando de vidas é algo frio e desumano, mas enquanto viramos o rosto para isso, os médicos tem que fazer por conta própria. Imaginem o peso que eles carregam nas costas ao vetar um leito de UTI a um idoso para tentar salvar um motoboy poli traumatizado de 21 anos. É cruel, para o idoso, para o médico, para o motoboy, para mim e para você."

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