Artigo - Sociedade – Um Basta ao "Gato"

4/1/2007
Carlos Eduardo Reis Cleto - OAB/RJ 93.431

"Prezado Redator: Sou advogado, e conheço muito bem a realidade da LIGHT, eis que trabalhei durante vários anos no departamento jurídico do então Sindicato dos Urbanitários (hoje cindido em SINTERGIA e Sindicato dos Empregados nas Empresas de Águas e Saneamento). Decerto tenho uma visão parcial, mas não menos parcial do que a versão empresarial esposada pelo ilustre colega autor do Artigo 'Sociedade - Um Basta ao Gato"' (Migalhas 1.567 – 4/1/07 – "Gato", Fábio Amorim da Rocha – clique aqui). O que o ilustre colega não conhece é a forma como a LIGHT se tornou 'vítima' de furto de energia em tão grande escala. Em minha opinião, o fator que concorreu enormemente para o crescimento dos 'gatos' foi a terceirização generalizada e mal planejada dos setores de Manutenção de Rede Aérea e de Medição de Contas de Luz. Através dessa terceirização, praticada com a única finalidade de corte de custos imediatos, na verdade a LIGHT perdeu qualquer controle sobre sua Rede Aérea de Distribuição de Energia. Em outras palavras, as equipes de rua terceirizadas, mal remuneradas e sem qualquer compromisso com a empresa, passaram a fechar os olhos para a colocação de 'gatos'. Isso, quando não é a própria equipe terceirizada da LIGHT quem coloca os 'gatos', mediante módica remuneração. Não adianta querer transformar o problema dos 'gatos' em caso de polícia, quando, na maioria das vezes esses 'gatos' são instalados por ação das próprias equipes contratadas pela LIGHT ou no mínimo mediante a omissão dessas equipes de manutenção da Rede Aérea. Outrora, não havia tal difusão de 'gatos', pois as equipes de Rede Aérea da LIGHT os desfaziam com pouquíssimo intervalo de tempo em relação à colocação da fiação felina. Mas, essas equipes da LIGHT eram compostas por empregados com uma média de 15 anos de tempo de casa, e comprometidos com a empresa. E mais: sabedores que na LIGHT, o bom empregado só saía aposentado. Tinham, pois, compromisso com a empresa. Quando a empresa, após a privatização, optou por demitir 95% dos empregados da Manutenção de Rede Aérea e de Medição de Contas de Luz, e colocar no lugar desses obreiros 'empreiteiras', com empregados transitórios ganhando salários próximos do Mínimo Legal, causou para si própria um problema insolúvel: a perda de controle sobre sua Rede de Distribuição. O ilustre advogado cujo artigo ora comento afirma 'O que se verifica é a existência de uma verdadeira quadrilha, especializada em adulteração de medidores, mantida e incentivada por clientes imorais'. Nesse trecho, demonstra desconhecimento técnico do que é um 'gato', pois a colocação de 'gato' visa exatamente fazer um bypass na medição, 'puxando' a energia diretamente desde a linha de distribuição, sem passar por nenhum medidor. Mas, pior ainda, como faz de resto no tom geral de seu artigo, fecha os olhos para a origem do mal. Na verdade, a LIGHT deveria procurar a referida 'quadrilha' em seus próprios quadros de 'empresas terceirizadas', de onde provém a colocação da maioria dos gatos, ou a complacência com os mesmos. Não adianta dizer que 'O problema é grave e tem sido combatido pelas distribuidoras intensamente, em especial após suas privatizações em 1996'; a tal afirmativa, retorque-se com irrespondível pergunta: Por que o problema não era grave antes da privatização? Ou melhor: tal pergunta é respondível, mas apenas por aqueles que atentem para a origem do problema acima descrita - a canibalística e suicida política de terceirização descontrolada que a LIGHT se auto-infligiu. Como diria Shakespeare, 

'Men at some time are masters of their fates:

The fault, dear Brutus, is not in our stars,

But in ourselves, that we are underlings'.

Atenciosamente,"

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