Metrô/SP

18/1/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Parole, Parole, Parole. Ou, palavras, palavras, palavras. É só o que se vê, em tudo, em nosso país. Até agora, por exemplo, o mistério do acidente da Gol continua. Aliás, depois do acidente aconteceram tantas coisas com os controladores de vôo e com os sistemas de controle (Sindacta, etc.), que parece cada vez mais óbvio que os pilotos norte-americanos merecem elogios por terem salvo o avião Legacy e seus passageiros. Agora, o caso da cratera do metrô. Todo mundo acordou dado o escândalo provocado pelo tamanho da tal cratera. Mas, a verdade é que a obra dessa linha do metrô vem causando destruição na superfície por onde passa. São rachaduras nas casas, nos quintais e nas ruas, abalo nas estruturas dos edifícios. Tudo devidamente reclamado, tudo rigorosamente denunciado, tudo perfeitamente anunciado. Ocorrido o desastre, mortas as pessoas, o assunto aflora, não para encontrar soluções ou culpados, mas para acender a fogueira das vaidades, para ver quem aparece mais na telinha. Sobre as questões que envolvem a aviação civil no Brasil, nem vale a pena dizer nada. Aliás nem vale a pena tentar viajar, dada a insegurança não só quanto ao cumprimento dos horários, mas quanto a própria segurança dos vôos. No que toca à obra do metrô, é evidente que, em vez dessa multidão de palpiteiros que ocupam as televisões, toda a obra deve ser paralisada, até que tudo, tudo mesmo seja devidamente analisado. E nada, rigorosamente nada, deve ocorrer sem que as responsabilidades estejam previamente definidas. A tal barragem que espalhou esse mar de lama em vários Estados já se rompeu antes, já causou prejuízos, já deixou desabrigados, e ninguém foi, até agora, indenizado. As viúvas dos acidentes aéreos continuam aguardando os necessários ressarcimentos. As vítimas dos prédios do ex-deputado Naia constituíram uma comissão que grita e nada acontece. Agora, o desabamento da obra do metrô, fruto óbvio da ineficiência da engenharia e da forma de contratar do Poder Público. Alguém já pensou em bloquear os bens dos responsáveis? Não, até porque achar e identificar os responsáveis, nesse jogo de empurra que assistimos, será praticamente impossível. Enquanto isso, acompanhamos toda a celeridade inaudita da Justiça (justiça?) no caso dos representantes da Igreja Renascer, no qual até agências governamentais de outros países foram acionadas. Prejudicados pelo metrô, pela aviação ou barragens; prejudicados pelas chuvas, pelas quedas de barreiras e crateras em estradas; prejudicados pela inépcia e ineficiência dos órgãos públicos; todos os prejudicados pelos donos do Poder, sejam autoridades constituídas ou grandes empresas, que se cuidem. E que se cuidem por conta própria, já que as responsabilidades serão diluídas, os prêmios de seguro serão negociados contando com a notória demora nas decisões judiciais e o que é ou será devido pelo Poder Público acabará em precatórios jamais resolvidos. 'Esso es Brasil'..."

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