Câmara dos Deputados

9/2/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Uma notícia alvissareira. A Câmara dos Deputados, na tentativa de reverter sua sórdida imagem, promoveu a demissão, ontem, de 1.500 funcionários não concursados, ou seja, aqueles que são nomeados, entendendo-se como tal aqueles que, por serem amigos, amigos dos amigos ou parentes dos parlamentares, gozam as delícias de ocupar, sem merecimento, cargos remunerados com até R$ 8.000,00. A notícia, obviamente, é recorrente, já que, em outras oportunidades em que a imagem da Câmara dos Deputados estava mais suja do que pau de galinheiro, como se diz, o mesmo aconteceu para, depois, sorrateiramente, os mesmos funcionários, ou outros, voltarem a engrossar o enorme contingente de aquinhoados, até que, em uma nova necessidade se estabeleça, novamente, o rodízio com que se visa iludir a opinião pública. Feito esse primeiro corte, restaram outros tantos, mais exatamente 1.315 funcionários nas mesmas condições, que não se encontram em Brasília, mas na assim chamadas 'bases eleitorais' dos nobres parlamentares, ocupando seus escritórios particulares, prestando serviços particulares e, até, como já veio a público muitas vezes, repartindo os vencimentos que não fizeram por ganhar com seus padrinhos, os deputados que lhes arranjaram essa 'boquinha'. Ao todo, então (ao todo? será?), nossos nobres representantes contam com 2.815 funcionários, quase 3 mil pessoas, número capaz de lotar coisa de 100 ônibus com todos sentados, até porque não viajariam de pé, privilegiados que são. Esperam os deputados, com a medida, amenizar a indignação dos cidadãos, cansados de assistir a toda a sorte de espertezas e malandragens que os jornais expõem todos os dias. Tirados de cena os tais 1.500 funcionários, afastados depois os outros 1.315, mandados para casa, para que estudem e prestem o necessário concurso outros tantos milhares que ainda não apareceram, vai restar discutir o porquê de nosso parlamento necessitar de 570 parlamentares, já que poucos sabem o que devem fazer e votam de cabresto, acompanhando seus líderes, isso quando não nos propiciam aquelas deploráveis cenas de venda de seus votos e, via de conseqüência, de sua própria dignidade. Já os Senadores, são 80 para quase um terço de Estados. Todos com idênticas obrigações, nem sempre cumpridas e quase sempre sequer entendidas, sendo óbvio que um Senador por Estado é mais que suficiente, até porque, se a existência de senadores fosse proporcional à quantidade de habitantes do Estado que representam, ou deveriam representar, São Paulo, certamente deveria ter metade dos Senadores da República. Mas, não se equivoquem. Isso que tem a aparência do início de uma limpeza, do retorno à seriedade no trato da coisa pública, na verdade é meramente uma jogada política, mais uma que nos é propiciada por verdadeiros profissionais na arte de iludir. Ao contrário, é essencial que coloquemos as barbas de molho, e fiquemos atentos, principalmente à imprensa que tem maiores possibilidades que os cidadãos comuns, para o retorno das nomeações que, inevitavelmente, voltarão a inchar o batalhão de desocupados que infestam o serviço público. Aliás, considerando que há funcionários de verdade, que não são fantasmas, que prestaram concurso e exercem seus cargos, que são efetivamente necessários ao serviço público, deveria partir deles vetar essa enxurrada de contratações sem concurso e sem motivo. Mas, quem se importa se o povo brasileiro, de uma maneira geral, anseia por chegar a sua vez de, também, lograr alcançar uma 'boquinha' dessas? Diferentemente do que acontece nas gafieiras, quem está dentro não quer sair e quem está fora quer entrar."

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