Violência

14/2/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Será que tem algum significado que a maioria absoluta dos comentários acerca da violência que grassa nosso país seja visto pelo mesmo ângulo? Gilberto Seródio se engana ao afirmar que 'esses rapazes que praticaram esse crime hediondo não sabem ler e escrever e não tiveram ou não têm família'. Os 'rapazes' têm sim família, têm pai e mãe, ou padrasto, suas casas têm saneamento básico e cursaram escola, de onde saíram para procurar o caminho mais fácil para obter dinheiro sem trabalhar. Alexandre Thiollier, como sempre, não erra nos seus comentários. Por que não deixar o cargo do magistrado decidir sobre a análise psicológica/social do menor infrator? Parece, mesmo, cabala essa história da idade. Luiz Carlos Bento traz um caso do qual tem conhecimento, no qual uma injustiça foi praticada. Não é, no entanto, comparável com o caso do menino arrastado por quilômetros, seja porque os réus são confessos, tendo sido alguns entregues pelos próprios pais à polícia, seja porque a insensibilidade dos tais menores é um verdadeiro escárnio. De fato, quando perguntado se sentia remorsos, um deles respondeu: 'Remorsos? Não! Eu não tenho filhos'. Daniel Pita tem toda a razão quando conclui sobre quem são, na verdade, as vítimas, não os criminosos tão carinhosamente cuidados, mas o cidadão que trabalha e não comete crimes. A propósito, vem-me à lembrança uma aula do Prof. Soares de Mello, na USP, sobre ciência penitenciária, quando explicava aos neófitos que o criminoso preso tinha direito à alimentação, calçados e roupas, banho de sol, biblioteca e lazer. A uma certa altura, o mestre, olhando diretamente para mim, e notando uma formação de riso em meu semblante, perguntou-me: 'Disse eu algo risível?' ou o senhor não acha que um preso, que é hóspede do Estado tenha direitos? Ainda me lembro que respondi que, sem dúvida, achava que sim, mas que, por uma questão de prioridades, parecia mais razoável que tais 'direitos' fossem garantidos aos criminosos depois que todos os que não tivessem praticado crimes também gozassem de tais benefícios. Aliás, e não disse isso ao mestre porque a cautela aconselhava o silêncio, é que hóspede é quem eu convido para minha casa, e não criminosos que devem cumprir suas penas. Só para acrescentar, não parece incrível que no Brasil um criminoso, quando está preso (é claro), perca sua liberdade e não o direito de receber visitas íntimas, como se nossas prisões fossem motéis? Francisco de Assis e Silva, também coberto de razão, fala em Auto-Engano. Isso me lembra a opinião de um certo Ministro da Educação que tinha a opinião de que o Brasil era o país do faz-de-conta, no qual o Estado faz-de-conta que fornece Escolas, os professores fazem-de-conta que ensinam e os estudantes fazem-de-conta que aprendem. O mesmo ocorre quanto à criminalidade, com a diferença que os criminosos, esses sim, sabem que tudo não passa de um ridículo faz-de-conta. Ou seja, que não há prisões, que não se cumpre as penas e que não se é sequer preso. Franklin Moreira dos Santos tem a coragem de mencionar a pena de morte, assunto que muitos evitam. Mas, a verdade é que o criminoso frio e calculista, reincidente e sem qualquer tipo de humanidade não terá oportunidade de cometer outros delitos após passar pela pena de morte. O argumento no sentido de que podem ocorrer erros judiciários não tem relevância, de vez que erros judiciários se sucedem a cada dia, e temos que conviver com eles. E a possibilidade de ocorrerem erros judiciários não é suficiente para deixar a população à míngua de segurança, a servir como posto à horda de criminosos que só cresce. A verdade, é que só se vê argumentos que justificam o não fazer nada, e nenhum que traga qualquer solução concreta e que tenha algum interesse. Quanto ao comentário de Priscila de Oliveira Chiodi, não há dúvida de que tem inteira razão em pensar que com educação, moradia e emprego digno muita coisa estaria resolvida. Mas, tem razão, também, quando manifesta sua indignação com a Câmara, cujos membros ficam afirmando que não resultaria em nada mudar as Leis. É claro que resultaria. E é claro, também, que os cidadãos têm o direito de esperar que não só os deputados, mas todas as assim chamadas 'autoridades', trabalhem, resolvam os problemas ou assumam sua incompetência, peguem seus chapéus e vão trabalhar de verdade, em algo que saibam fazer, ou para o que estejam preparados. Não tem sentido ficarem todos a disputar 5 minutos de fama nas telas de TV apenas para dizer que nada pode ser feito. Certamente, não é para isso que são pagos. Daí, volta a pergunta de início formulada: Não significam nada os comentários dos migalheiros? Não são eles cidadãos? Não são eles eleitores? Quando se vai dar um basta a esse enorme volume de gente que ocupa cargos para os quais não têm competência?"

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