Meio ambiente

26/2/2007
Gisele Montenegro

"Crime ambiental e aula de jornalismo investigativo. O 'Estadão' de domingo, 25/2/07 (Seção Vida &, A-16), reporta um flagrante de assassinato em série das mais significativas expressões do acervo ambiental, ao norte do Brasil. O 'motoca', apelido do agente destruidor, empunha sua possante moto serra 'Sthil, modelo MS 051'. Tal como uma metralhadora, mira e vai ardendo com as lâminas: em minutos põe abaixo centenários jatobás, ipês, cedros, da altura de um prédio de 10 andares, e outras riquezas naturais, que ao tombar derrubam as menores. É a Amazônia brasileira, mostrando o que é o meio-ambiente ecologicamente desequilibrado e exterminado. A reportagem, de página inteira, com fotos posicionadas na vertical (o tronco) e outra no plano superior (meia página), sugerindo a ramada que compõe a copa, numa imagem impressionante à incisão sangrenta do caule. Merece destaque e, com certeza será aclamada pelo mundo, dado o impacto, a seqüência das matérias que se interligam, perfeita diagramação, com ensaio fotográfico assinado pelo repórter Dida Sampaio (Agência Estado). Eis a resposta para quem acha que a imprensa tem seus dias contados, frente a WEB. Assim como o rádio e a TV seguiram, e se eternizaram, quando alguns pensaram que o rádio chegara ao fim com a telinha, o jornalismo de primeira é imbatível e o eletrônico tem ainda muito a aprender. A matéria pinçada na rotina da Amazônia dá uma idéia da irresponsabilidade ambiental, da fragilidade do Instituto Nacional do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e da letra morta nas definições escritas pelo COMANA em suas Resoluções. O produto dos crimes, arbustos derrubados 'ilegalmente', interligam madeireiras, serrarias, carvoarias e siderúrgicas, formatando uma espécie de organização delituosa, consomem tal como receptadores, a res furtiva. Uma área de 23 mil hectares (nas dimensões de Recife, capital de Pernambuco) já fora devastada. A seqüência de reportagem sobre vida e o meio ambiente encerra na pág. A18, entrevistando Brigitte Bardot que diz estar horrorizada e escandalizada com o fim da Amazônia e cobra da Ministra do Meio Ambiente respostas concretas sobre a 'morte das árvores'. Em resumo, está pronto um inquérito policial sobre crime ambiental, a custo zero para o bolso do contribuinte, sem precisar de helicópteros, aviões, viaturas, diligências, um bando de agentes fardadinhos, com cachorros e 'walkie-talkies'. Um jornal movimentando, alguns profissionais, um time de primeira fizeram o dossiê, apontando o crime, identificando a autoria, provando a materialidade. E mais: nome e endereço dos agentes inclusive pessoas jurídicas, que certamente nas alegações finais lembrarão da marota 'licença ambiental', de última hora. Ao Ministério Público Federal, o exímio trabalho do 'Estadão'."

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