Violência

27/2/2007
Gustavo Franco Ferreira

"Segurança pessoal e o 'orkut'. Virou febre nacional o tal do 'orkut'. Especialmente entre os jovens. Nele as pessoas abrem as suas vidas: expõem seus nomes inteiros, contam se namoram, se são casadas, se têm cachorros, de qual filme, livros, culinária mais gostam, qual a sua profissão, etc. Na parte das comunidades podem se associar a grupos da sua afinidade, como, por exemplo: 'Amo meu fusca 66', 'Um dia vou ter um Harley Davidson', 'Fora Lula', 'OAB-SP', 'Filhos da Puc', 'Colégio Santa Cecília', 'Sim, eu dirijo cantando', etc. Podem, ainda, postar fotos e sob elas escrever uma legenda. Fotos da família, do namorado, do cachorro, você pulando de pára-quedas, etc. É um interessante instrumento de comunicação. Os seus colegas podem lhe enviar mensagens e você pode respondê-las. Se você não as apaga, toda a sua conversação fica lá, para quem quiser bisbilhotar a sua vida. E tem ainda os depoimentos: nele seus amigos contam como você é na visão deles. Você pode virar um fantasma e acessar as páginas dos outros sem que eles notem a visita. Mas se fizer isso, você, também, não fica sabendo quem acessou a sua página. Por fim, há a parte que mais interessa: a dos amigos. Há quem se intriga com pessoas que tem nesse quadro mais de 200, 300, 1.000 amigos. Toda a turma aparece por lá, desde o amiguinho da 2ª série do ensino fundamental até as ex-namoradas. Recentemente, a sociedade ficou assustada com o chamado golpe do falso seqüestro. Tecnicamente, extorsão, capitulada no art. 158, do Código Penal. Bandidos ligam para as pessoas e dizem que estão com alguém da sua família. Imitam, 'mal-e-porcamente', a voz da pessoa supostamente seqüestrada. Mas o susto de quem ouve as ameaças impede a percepção da realidade. Uma senhora, bastante humilde, chegou a falecer há alguns dias. Foi vítima de um ataque cardíaco, resultado do pavor que lhe assombrou ao receber uma ligação de falsos seqüestradores, que lhe diziam ter capturado o seu filho. O problema é que o 'orkut' pode facilitar a empreitada desses delinqüentes. Vejamos, como exemplo, como isso poderia ocorrer: um bandido cria um falso personagem no 'orkut'; lhe convida para ser seu amigo; você, na vontade de ampliar sua gama de amizades, o aceita; ele passa a ter acesso às suas informações; descobre seus horários; tem seu nome completo; sabe onde você estudou; o nome dos seus pais; de qual programa televisivo você mais gosta; etc. Suponhamos que tal tenha ocorrido e que, por outros meios, o marginal descubra o número do telefone da sua casa. Isso é muito fácil em certas situações. Considere-se que a pessoa que tem a página no 'orkut' é um profissional liberal e que para angariar clientes tenha criado uma outra página na 'Internet' e nela tenha colocado os seus contatos (número do telefone da sua casa, do seu escritório, do celular). Aí ficou fácil para o bandido efetuar o falso seqüestro. Note que para ele achar a outra página de tal pessoa, bastará escrever o nome dela na busca do 'google', o qual fará todo o trabalho. O agente da extorsão, sem sobra de dúvida, vai ligar para a sua casa: ele vai falar para quem atender que está com você; que você estava no seu carro, um 'Ford KA', dirigindo cantando e ouvindo rock, e foi pego no semáforo perto da sua faculdade, a Metodista. Ele vai dizer que a sua tatuagem tribal no braço esquerdo é horrorosa. Vai constranger com ameaças o atendente, seu pai, mãe ou esposa, a pagar logo. Ele poderá, ainda, ameaçar os seus familiares dizendo que os conhece muito bem. Poderá dizer ao seu pai, por exemplo, que sabe que ele tem olhos azuis, é calvo, tem um Audi e mora no Morumbi. Enfim, ele vai incutir real temor na pessoa que ouve a sua fala a fim de atingir o seu intento, qual seja, obter indevida vantagem econômica. É preciso, então, conscientizar as pessoas que têm página no 'orkut' sobre os riscos que elas correm. Infelizmente estamos num país em que vivemos atrás das grades. O 'orkut' deu uma quebrada nisso. Mas os marginais dele podem se aproveitar. Se você morre de medo de que algum dia isso aconteça com você, saia do 'orkut'. Sua vida não vai ficar mais triste por causa disso. Se você tem uma pessoa com problemas cardíacos em casa, faça isso já. Todavia, se você pretende permanecer no 'orkut' pensamos que para minorar a sua exposição adote as seguintes medidas: inclua somente amigos verdadeiros nas suas páginas; exclua os desconhecidos; desassocie-se de comunidades que falem sobre você (como, por exemplo, 'Estudei na USP de Piracicaba'); não diga de que filmes você mais gosta (deixe isso para uma conversa pessoal – sua vida vai ser mais aprazível, acredite); exclua todas as suas mensagens recebidas e os depoimentos deixados pelos amigos mais chegados; altere a legenda das suas fotos e nunca coloque ali o nome de ninguém; nunca vire um fantasma; e, por fim, não exponha seu nome por completo. Vai ser chato fazer isso? Vai. Mas cada um toma conta da sua própria vida e quem quiser correr o risco, que corra. Foi apenas um alerta de um colega. Também sou um 'orkuteiro'."

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