Theotonio Negrão

23/3/2004
Mauro Pedroso Gonçalves, Servidor do STJ

"Li a migalha sobre um ano de falecimento do saudoso Theotonio Negrão, especialmente sua frase: "Meus livros não me eternizarão, porque lidam com uma coisa flutuante e em constante mutação, que é o Direito. Para ser eterno, é preciso escrever sobre coisas eternas." Fico a pensar que Theotonio Negrão, nesta frase, não se referia, principalmente, à questão de ser, ou não, "eterno". O ponto aqui é que o Direito muda, assim como as soluções postas pelo homem aos seus conflitos, que não são eternos, se individualmente considerados. As dúvidas particulares do homem são efêmeras e solucionáveis, enquanto que as dúvidas humanas, dos homens enquanto seres, são eternas e acredito que não poderiam, em palavras, ser explicadas. Quando digo "dúvidas humanas", de fato, não me refiro às dúvidas do homem, que o fazem se tornar o centro do mundo, mas àquelas peculiares de todos homens, que o reduzem a uma parte ínfima do universo, como, p.ex., as indagações concernentes à origem de todas as coisas. Muitos homens já tentaram ser eternos, voluntariamente ou não, e muitos, de fato, conseguiram. Mas nenhum esclareceu as dúvidas eternas, pois cada resposta em um dogma se funda. Enquanto isso, basta a nós esquecer as dúvidas eternas dos homens e ficar com as coisas eternas do homem, representadas pelos sentimentos, conflitos subjetivos, e por que não os conflitos intersubjetivos de interesses, que sempre que viver o homem em sociedade também existirão? Quem sabe é por isso que Theotonio Negrão será eterno."

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