"Carta aos Brasileiros"

1/4/2004
Alfredo Attié Jr.

"Feliz, muitíssimo feliz fazer lembrar o golpe por meio das palavras que nos ensinaram a resistir (Migalhas 894):

'Queremos dizer, sobretudo aos moços, que nós aqui estamos e aqui permanecemos, decididos, como sempre, a lutar pelos Direitos Humanos, contra a opressão de todas as ditaduras.'

Estudante do curso colegial, fui ao Largo São Francisco para acompanhar, a convite de minha irmã, que lá estudava, a comemoração do sesquicentenário da fundação dos cursos jurídicos no Brasil. Confesso que não pensava em estudar Direito. Mas que emoção foi assistir às passeatas dos estudantes, pelas ruas do centro, no caminho das Arcadas, de vê-los gritar, no salão nobre, a exigir que a mesa diretora dos trabalhos viesse a contar com a presença do Professor Goffredo. Em seguida, alguém, saindo da sala das becas, traz uma cadeira ao Mestre Goffredo, colocando-a logo ao lado da mesa principal. O Professor Goffredo senta-se, é ovacionado. Do auditório irrompe o refrão "Goffredo, amigo, o povo está contigo!", várias vezes. Goffredo levanta-se, saúda os estudantes, agradece aos estudantes e diz que a Faculdade de Direito do Largo São Francisco não se conforma, sai às ruas e exige a liberdade. Depois, nas escadas, lê a "Carta aos Brasileiros", que redigiu com outros professores, entre eles o professor Comparato.

Lembrar agora emocionado, daquele estudante, de quinze anos, a assistir a tudo aquilo e a desejar participar de alguma forma do movimento pela reconstrução democrática, pelos direitos humanos... E de como tomei a firme decisão de estudar nas Arcadas, de estudar Direito, exatamente naquele momento. Menos de um ano após, fui aprovado, ainda a cursar o segundo colegial, no vestibular para a Faculdade de Direito da USP. Menos de dois anos depois e lá estava eu a realizar, meu pai e minha irmã a me acompanharem, a matrícula na turma ímpar, ávido para ouvir as lições de Dalmo Dallari, Goffredo Telles, Fábio Comparato e tantos outros que, desde aquela mágica noite de 1977, tornaram-se, para mim e para tantos, profetas e guardiões da liberdade e da justiça, daquilo que de mais belo o direito encerra.

Parabéns a Migalhas por reavivar minha esperança! Ainda há tempo e lugar para fazer mais pela liberdade, pela justiça e pelos direitos humanos!"

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