As bebidas de Lula

13/5/2004
Lívia Van Well

"Com a peixeira na mão. Recebemos no último domingo a matéria publicada no NYT com muita perplexidade e até certa indignação. Temos muitos motivos para as mais variadas críticas ao atual governo e ao momento político que estamos vivendo, mas não podemos quedar inertes diante de uma reportagem com conteúdo tão vexatório, capaz até de comprometer a governabilidade do país, que acusa Luiz Inácio Lula da Silva, nosso Presidente, de consumidor contumaz de bebida alcoólica. A situação já seria grave o suficiente se este episódio se encerrasse aqui. Infelizmente somos obrigados a presenciar aberração maior. A experiência do infausto jornalista abriu precedente, numa gestão de apenas um ano e cinco meses do atual governo, de violação aos direitos humanos, pelo cerceamento arbitrário da liberdade de expressão do correspondente daquele jornal. A ocorrência demonstra exatamente que vivemos num Estado cujo exercício do poder político é voltado unicamente à conveniência e à vontade de um líder despótico, incapaz de adequar, uma maldotada crítica numa medida razoável, de forma polida e com civilidade. A motivação conferida ao seu ato administrativo não está sujeita às leis da lógica nem a uma razão ou norma moral de validade universal, e, portanto, somente se justificaria se a situação de fato apresentasse grave ameaça a ordem pública. Convenhamos, não era o caso. Vencida a perplexidade inicial, nosso consolo é que ainda podemos externar insatisfação, até que não sejamos tratados como inimigos tal qual o jornalista que teve seu visto cancelado. Bons tempos aqueles em que a justiça era simbolizada pela espada. Neste Estado o corte na realidade faz aquele que tem a peixeira na mão."

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