Feriado

20/11/2007
Fábio de Oliveira Ribeiro - advogado

"A história do Brasil não é nada misteriosa. Cá chegaram uns lusitanos e conquistaram as terras a ferro e fogo porque tinham canhões e sabres de aço. Se estivessem no mesmo estágio de desenvolvimento tecnológico que os tupinambas, tamoios e outros povos do litoral não teriam chance de êxito porque eram uns covardes e estavam em menor número. Bem estabelecidos no litoral, nos raros momentos em que não estavam com as índias ou escravizar a matar índios, os tais lusitanos tiveram uma idéia genial: produzir açúcar no Novo Mundo com a tecnologia desenvolvida pelos árabes e assim conquistar o mercado europeu. A tecnologia árabe era comprovadamente eficiente, as terras dos indígenas eram férteis, o pau-brasil estava a rarear, a coroa ganharia alguns tostões os colonos também, portanto, o empreendimento tinha tudo para ser rentável. Mas havia um problema! A maioria dos índios era arredia. Não porque os índios não gostavam de trabalho (eles já trabalhavam o suficiente para se manter saudáveis e para alimentar seus filhos e esposas desde que ocuparam a terra brasilis), mas porque sabiam que nada tinha a ganhar ao se submeter aos invasores. Foi assim que os lusitanos tiveram uma idéia genial. Trazer para cá uns negros africanos. Além de despovoar o continente africano de negros e possibilitar sua maior ocupação por europeus, a medida teria uma vantagem singular. Lá os negros sabiam se virar e não podiam ser mantidos cativos por muito tempo. Cá não conheciam nem a terra nem a natureza de maneira que teriam que se render aos seus senhores. E foi assim que milhões de negros foram trazidos para o Brasil. A escravidão rendeu bons dinheiros à Coroa e foi mantida no Império. Mas quando o Imperador teve que por um fim na escravidão por pressão inglesa, os ex-senhores de escravos se livraram do imperador e estabeleceram uma República. Uma República de que os negros não participavam porque eram analfabetos, porque eram pobres, porque eram... negros. De século em século os vícios de nossa cultura perduram. Mesmo quando queremos dar um salto de qualidade estamos fadados a cometer os maiores equívocos. Comemoramos o dia do índio, mas destruímos as reservas indígenas o ano todo. Comemoramos o dia do negro, mas os negros continuam menos educados e mais pobres o ano todo. O abismo entre a integração racial verdadeira e a ideológica (para inglês ver) não será transposto se não chegarmos a um acordo. Zumbi ainda não é um herói brasileiro. É no mínimo um personagem controvertido. É celebrado por alguns negros que têm consciência de sua importância como símbolo da resistência à escravidão (portanto, como herói). Mas para os luso-descendentes herói mesmo foi Domingos Jorge Velho, o bandeirante que matou Zumbi. Precisamos colocar Domingos Jorge Velho no banco dos réus para passar a limpo a história nacional? A pergunta te incomoda? Enquanto não percebermos que nós mesmos ainda valorizamos atitudes semelhantes às de Jorge Velho não chegaremos a lugar algum."

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