Ministério Público x Jô Soares

29/11/2007
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Ministério Público X Jô Soares. A embaixada de Angola emitiu um comunicado, com o título de 'Equívocos num programa de televisão', no qual critica uma entrevista levada a efeito pelo humorista 'com a manifesta conivência do entrevistador, aparentemente apostado em estimular índices de audiência, recorrendo ao primarismo do culto ao bizarro, o entrevistado deturpou e manipulou tradições culturais e costumes locais, dando-lhes colorido anormal'. Para quem não viu a entrevista, clique aqui. Jô Soares replica, dizendo que as críticas são de quem não conhece seu trabalho. E mais, que já entrevistou pessoas como Dulce Maria Pereira, Darcy Ribeiro, etc., e que o multiculturalismo é uma das pautas às quais seu programa sempre foi aberto. Isso é, na verdade, uma meia-verdade. O programa do Jô Soares foi um ótimo programa antes de integrar a Rede Globo, quando entrevistava, de fato, personalidades de proa, gente ligada a questões da maior importância. Depois que o programa foi levado à Rede Globo, e o entrevistador passou a fazer parte da programação 'domada' que aquela emissora exibe, Jô Soares perdeu o que tinha de culto e elevado, para comandar um programa de piadas de baixa qualidade, não raro, altamente constrangedor, não só para os entrevistados, mas principalmente para os telespectadores. Nunca mais entrevistou alguém de importância, passando a entrevistar pessoas que não se sabe de onde sua equipe os recruta, alheias à atualidade, escolhidas principalmente entre a própria equipe da emissora, chegando ao cúmulo de brindar os telespectadores com entrevistas dos próprios funcionários subalternos da empresa. Quando, por acaso, traz um assunto de algum interesse, impede que o entrevistado responda ou se manifeste, interrompendo-o a todo instante, em ataques de estrelismo que tolhe a liberdade do entrevistado e incomoda o telespectador e não só é mais visível publicamente pelas palmas e apupos que o público interno é coagido a prestar, levado por animadores instalados no auditório, especialmente para a finalidade. Assuntos sérios, como o de uma senhora especializada na criação de minhocas e exportação de húmus, são desvirtuadas para, chulamente, serem comparados a sexo com intenção 'piadística', com perguntas do tipo: 'e a senhora pega na minhoca' e coisas que tais, altamente constrangedoras, expondo a entrevistada que para lá se dirigiu, por certo, para falar de seu negócio. O apresentador e humorista, aprendiz de Silveira Sampaio, conhecido por ser um crítico mordaz e zombeteiro, com o passar dos anos reduziu seu talk show a um monólogo constrangedor, no qual o entrevistado, não raro, lá está para servir de 'escada' ao entrevistador, que deve ser objeto de veneração de seu público cativo e obediente, cada vez mais tarde da noite. É pena, pois tanto a emissora, quanto o apresentador têm condições de mostrar coisa muito melhor. Agora, resta a atuação do Ministério Público, já que as piadinhas que foram objeto da reclamação da Embaixada de Angola são mesmo de péssimo gosto, apesar dos aplausos da claque dirigida e das gargalhadas do quinteto, pago para gargalhar."

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