Governo Lula

19/12/2007
Dávio Antonio Prado Zarzana Júnior

"Sobre a transposição do Rio São Francisco, saiu publicado no editorial da Folha de 7/12/07 um texto de autoria de João Alves Filho, ex-governador de Sergipe por três mandatos, e engenheiro civil, que dizia o seguinte: Com a retomada da greve de fome de Dom Luiz Flávio Cappio, o presidente Lula e seus áulicos tentam passar a imagem de que ele é um fanático religioso. O ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, ousa desrespeitosamente associar a imagem do bispo a uma espécie de fundamentalismo islâmico. Na verdade, Dom Cappio é um líder religioso profundamente comprometido com sua principal missão, que é divulgar a fé aos sertanejos e levar a eles os eternos ensinamentos de Deus, mas sem desconectá-los do mundo injusto em que habitam. Daí por que, convencido de que quem convive com a miséria não tem serenidade para cultivar dignamente a religião, se empenha em extirpar a miséria, defendendo os sertanejos daqueles que tentam legitimá-la com demagogia e promessas enganosas. Trata-se de um sábio, culto, avesso à demagogia, conhecedor do sertão nas suas entranhas e, em especial, do Velho Chico, cujas margens percorreu a pé denunciando sua degradação bem antes de se falar em transposição. Um estudioso das técnicas de convivência com as secas e equacionamento dos recursos hídricos locais - tão simples e baratas que os chineses e os indianos as praticam com sucesso há milênios em regiões de climas bem mais hostis do que o nosso. D. Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento. Primeiro, a transposição não é destinada a salvar os nordestinos da seca, pois apenas uma minoria irrelevante do semi-árido receberá água na porta, mas se destina ao agro negócio, que utilizará uma água caríssima, levada a 700 km, que terá que ser subsidiada a vida inteira. Porém, temos milhões de hectares de terras à beira do rio cuja irrigação, sem subsídio, proporcionaria alimentos baratos e geraria 1 milhão de empregos. Segundo, o governo, maquiavelicamente, esconde uma realidade que surpreenderia a nação: não há falta de água no Nordeste setentrional, mas, isto sim, ela existe em abundância tal que, teoricamente, daria para abastecer 100% dos nordestinos. Terceiro, o rio São Francisco está na UTI e a transposição ameaça provocar sua morte, gerando o maior desastre ecológico e socioeconômico da história brasileira. Quarto, Lula mentiu para conseguir a interrupção da primeira greve de fome de Dom Cappio, certamente com receio das conseqüências para a reeleição, com promessas enganosas de que iria parar a obra da transposição para discutir com ele, com membros da sociedade civil e ecologistas que têm propostas alternativas, demonstrando tecnicamente projetos racionais para levar água na porta pela metade dos custos para a totalidade dos dez Estados do semi-árido nordestino e mineiro. Por dois anos, o bispo esperou pacientemente a abertura do prometido diálogo, mas a resposta de Lula foi ameaçadoramente mandar o Exército iniciar a obra. [...]. Entre o povo que não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas, dom Luiz ficará do lado do povo. Irá até o fim. Então a transposição será aquela da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico. Estará o governo disposto a carregar essa pecha pelo futuro afora ?"

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