Embargo chinês

17/6/2004
Alcimor Rocha

"O Brasil amargurará um prejuízo de R$ 1 bilhão caso a China mantenha o embargo imposto à soja brasileira. O comércio entre Brasil e China que parecia ir às mil maravilhas – pelo menos foi a impressão que nos foi passada pelo Presidente da República e sua equipe quando da visita ao gigante asiático – não vai. A China não é boba. Se fosse não estaria crescendo a mais de uma década a inacreditáveis 9,8% ao ano. Vislumbrando a queda do preço da soja no mercado internacional nos próximos meses, a China tenta renegociar os contratos firmados com os exportadores brasileiros em busca de preços mais baixos. Os Estados Unidos da América do Norte anunciarão uma safra recorde de soja, em torno de 20 milhões de toneladas de soja, o que acarretará no aumento da oferta e conseqüentemente em uma queda considerável no preço do gênero agrícola que aqui se discute. O governo chinês tenta maquiar sua vontade de renegociar preços impondo um rígido e irresponsável controle de qualidade, dos quais a soja brasileira sai sempre reprovada. Uma ótima e inteligente saída para nos pressionar a baixar os preços. Não temos que ceder a tais pressões. A China não é o único e nem o melhor destino a ser dado à menina dos olhos do agronegócio brasileiro. O Brasil nunca teve a cultura – por fatores históricos, que remontam à colonização portuguesa e a exploração por nós sofrida – de exportar produtos industrializados, ao invés de apenas matéria-prima. Ninguém duvida que é muito mais vantajoso exportar o produto final do que a sua matéria-prima. Até porque nós teremos que comprar o produto já industrializado, e isto desequilibra de uma forma descomunal a balança comercial pátria. A soja não vai ser usada, da forma que é exportada, no seu destino final. Eles a industrializarão e a transformarão em ração para sua pecuária e poderão até mesmo transformá-la em biodiesel, um barato e eficiente combustível. A soja embargada pode ser transformada em “farelo” e ser usada como ração para o frango e para suínos aqui no Brasil. E a soja em farelo rende os mesmos R$ 800,00 por tonelada que rende a soja que exportamos. Portanto ao invés de baixarmos nossos preços e cedermos às pressões chinesas, podemos industrializar nossa soja e a vender para o mercado brasileiro, que também necessita de ração para a pecuária. A ração é apenas um dos fins que pode ser dado a soja. Muito se fala e pouco se faz a respeito do biodiesel. A Ministra de Estado das Minas e Energia, Dilma Roussef, disse certa vez que o biodiesel – que pode ser produto da soja – pode chegar a ser negociado por até U$ 1,80 no mercado internacional, isto é, mais de R$ 5,00. Assim chegamos a conclusão de que não devemos ceder às pressões chinesas disfarçadas de controle de qualidade rígido para que baixemos o preço de um de nossos mais importantes produtos agrícolas. Só amarguraremos prejuízo nesse episódio se quisermos ou formos incompetentes ao ponto de não vislumbrarmos oportunidades no horizonte de negócios que nos aguarda."

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