Desabafo - pai de Liana Friedenbach critica tratamento dado ao Champinha na unidade de saúde da Fundação Casa

14/1/2008
Pedro Luís de Campos Vergueiro - advogado e Procurador do Estado de São Paulo aposentado

"Prezado Doutor Ari Friedenbach: Certa vez, no vão do MASP, não tive condições de me aproximar de sua pessoa, embora antes já o tivesse visto na caminhada pela redução da idade da imputabilidade penal (Migalhas 1.814 – 9/1/08 – "Revolta" – clique aqui). Lembro-me que nessa caminhada, a Sra. Hebe Camargo se fez presente, demonstrando solidariedade com sua dor e seu propósito, que também era os meus. No MASP, para ajudar na coleta de assinaturas, ao lado de apor a minha própria é claro, durante algum tempo mantive uma conversa com um simpático senhor até que perguntei a razão de sua presença. Respondeu-me ele que ali estava porque era o pai do Felipe. Nesse momento, simplesmente travei. E, logo depois, talvez por isso, tive de ir-me. À distância, com doloroso pesar pelo acontecido, venho acompanhando as ocorrências posteriores. Assim, assusta-me pensar que o 'champinha' um dia venha a transitar pelas ruas seja lá onde for. Entendo que razões desde a gestação, nascimento, primeiros anos, ele é uma pessoa de poucos neurônios e menos ainda de sinapses. Agora, com um laudo informando ser ele irrecuperável, ou seja, que é um ser que não tem condições de se desenvolver e criar e conseguir firmar em sua mente quaisquer valores sociais, é mais aterrador ainda pensar na possibilidade dele voltar às ruas. Prova, parece-me, incontestável disso, de seu ínfimo desenvolvimento intelectual, é o fato dele ter fugido(!?) de sua prisão e não ter tido condições de projetar para si o anonimato da liberdade, fosse onde fosse. É necessário, pois, dada a sua reconhecida periculosidade, que ele seja e permaneça confinado. Ao que parece, essa já é uma determinação judicial. Que assim seja mantido para segurança de todos. Porém, tal qual o revoltou, é inconcebível que o Governador deste Estado se pronuncie de forma inusitada para dizer que, apesar do 'champinha' estar confinado a bem da tranqüilidade pública, não vê 'problema de ele estar assistindo televisão', sentado à vontade e ociosamente num sofá de couro. Inconveniente e indecoroso esse pronunciamento. Melhor seria que ele tivesse a mesma atitude do Secretário da Saúde: manter silêncio (no mínimo de vergonha por não estar cumprindo sua obrigação institucional assim como, parece, também não está cumprindo o Secretário da Administração Penitenciária). Realmente, como ressalta, Doutor Ari, em vez de pátio e piscina, o local do confinamento deveria ter hortas, as quais por ele seriam cuidadas, na marra se necessário: se não cuida da horta, não come. Ou então, dedicar-se a trabalhos manuais fabricando objetos para serem vendidos em bazares e de uma dessas formas custear pelo menos parte das despesas do confinamento. Não posso deixar de salientar que os que padecem da Síndrome de Down têm condições de, sob orientação especial, realizarem atividades úteis de acordo com a capacidade, e possibilidade, que revelarem ter. Por que não obrigar o 'champinha' a realizar trabalhos no local de seu confinamento? Não tem ele, como quer fazer ver o Governador Serra, direito algum de apenas desfrutar o ócio. Isso até é pior para ele. Doutor Ari: quero manifestar que sou, como muitos e muitos outros, solidário com a sua indignação."

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