"Sr. Diretor de Migalhas. Há décadas, rebelando-me num concurso de poesias em face de alguém que se dizia poeta e é tido como ainda hoje poeta, mas dedicou-se à crítica, não vou dizer o nome, pois já faleceu, escrevi-lhe o que vai abaixo:
'Ao caro crítico 'Ne sutor, ultra crepidam' (Sapateiro, não passe do calçado)
Um dia a peito tomaste
A tua função de critico:
Os poetas fundo estudaste,
Com toda fé,todo afinco...
Sejam Camões ou Bocage,
Álvares e Castro Alves,
Abreu,Bilac ou varela
Dissecaste a aquarela...
Sim,pois não é a poesia
Uma pintura serena
Ou nervosa ou arredia
Da natureza com a pena?
Se o pintor faz,com as cores,
Matizes da natureza,
Só o poeta colore,
Com as palavras, a beleza...
Caro Crítico,então,
Tu fizeste com a razão
Tua crítica sadia
De toda e qualquer poesia...
Mas foi,ó meu Caro, em vão,
Que o teu tempo tu perdeste:
Não há crítica ou razão,
Que a um poeta interesse...
Todas horas de um poeta,
Ele dedica à poesia
E a nenhum momento empresta
Ao que o belo não irradia...
Ele sabe que poesia
Pode ou não ter verso ou rima,
Sabe que o verso extasia,
Quando o sentimento prima...
Ele é quem transforma a treva
Num luminar radiante
E ele é sempre constante,
À beleza que observa...
Não há coisa neste mundo,
Ou no Universo de Deus,
Que o possa ferir profundo
Macular os versos seus...
Ele adora a natureza,
Nos seus mínimos detalhes,
Ele sabe que há beleza,
Nos versos,nem que o enxovalhes...
Se julgares um poeta
Criticares a poesia,
Dizendo ser ele esteta;
Ou poetastro sem valia,
Ele não te leva em conta,
Pois certamente isto indica
Nunca fizeste poesia,
Se a fizesse algum dia,
Não terias tempo à crítica...'"
Régulus Ponte Grande - pseudônimo de Olavo Príncipe