Migalheiros

19/2/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Indo para Itatiaia, no último carnaval, a uma certa altura, deparei com uma placa na estrada que advertia: 'Cuidado: animais silvestres na estrada’. Passei algum tempo preocupado, olhando com atenção, perguntando-me, primeiramente, o que seria um animal silvestre e, depois, por que me interessaria, afinal, se o risco estaria em me deparar, com o carro em velocidade, com um animal silvestre ou doméstico, já que o dano seria o mesmo. Prossegui a viagem apreensivo, minha cabeça a mil, vasculhando minhas recordações do primário, para me lembrar, afinal, que animal silvestre é o selvagem, ou seja o que não é doméstico, que já está acostumado a viver perto das pessoas, como os gatos, cachorros, galinhas e porcos. Já os silvestres estão na natureza e tem dificuldades para crescer e se reproduzir em cativeiro, como os papagaios, as araras, os micos e os jabutis, que muita gente pensa que são domésticos, mas não são. E, talvez por isso, atravessem as estradas. Mas, silvestres também são o lobo-guará, a onça-pintada, o mico-leão-dourado, a piranha, o boto, o curió, a capivara, o leão, o tigre, o elefante, o pavão e o canguru, só para citar alguns que me vieram à lembrança naquele momento. Inquieto, descartei, de pronto, a piranha e o boto, pela pouca possibilidade de serem encontrados atravessando a via Dutra. Na seqüência, afastei os cangurus, pois que mesmo pulando muito, dificilmente os encontraria perto de Penedo. Elefantes, tigres ou leões, só se tivessem sido abandonados por algum circo itinerante, mas aí alguma reportagem de televisão teria encontrado e denunciado ao Ibama. Os pássaros, que me desculpem os politicamente corretos, não me preocupavam muito, já que pouco dano poderiam causar ao meu carro. Mas o risco estava no lobo-guará e no mico-leão-dourado, porque isso dá cana, e brava, pois é pior do que atropelar uma pessoa ou, ao menos, pior do que matar um fiscal do Ibama, como dizem. Pensando e pensando, não consegui resolver o problema dos cavalos e das vacas, e de seus esposos, os bois. Seriam eles domésticos ou silvestres? Naquele momento, confesso, dúvidas me ocorreram, motivo pelo qual, diminui a velocidade, preguei os olhos na estrada e, finalmente, cheguei ao meu destino, sem qualquer dano. Chegado de volta a São Paulo, localizei uma Portaria do Ibama que, em seu artigo 2º, define:

Art. 2º - Considera-se fauna silvestre brasileira todos os animais pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, reproduzidas ou não em cativeiro, que tenham seu ciclo biológico ou parte dele ocorrendo naturalmente dentro dos limites do Território Brasileiro e suas águas jurisdicionais.

Como se pode ver, a portaria não é muito esclarecedora, ao menos quanto aos cavalos e vacas, de modo que a dúvida remanesce. Assim, o melhor é prestar atenção, sempre. Ou, talvez, melhor seria que as placas dissessem, como antes diziam: 'Cuidado. Animais na pista'. Curto e grosso. Sem causar dúvidas ou perplexidades. Mas, hoje em dia as coisas são assim, pretendem ser mais explicativas e ficam piores. Como os toques de ocupado dos telefones que, em vez do internacionalmente conhecido toque, agora uma voz diz: 'Este telefone está ocupado. Tente mais tarde.'"

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