Colômbia X Equador

5/3/2008
Alfredo Martins Correia - OAB/SP 104.054

"Nobre Redator, o Sr. gosta de manga? Permita-me, pois, contar essa (Migalhas 1.850 – 4/3/08 – "Colômbia X Equador" – clique aqui). Qualquer semelhança.....Ocorre que, lá no sítio,em Valinhos/SP, eu tenho dois vizinhos, já que nossas propriedades têm um ponto em comum, uma espécie de tríplice fronteira. Há tempos vinha preocupando-me com um certo surrupiador de manga espada, já que o larápio chegava ao requinte de, não se contentando com aquelas que jaziam no solo, apanhar justamente as que estavam no pé no ponto de serem 'embrulhadas pra presente'. Isto posto, coloquei-me de prontidão, até que certa noite logrei apanhá-lo com um embornal cheio de fruta. A tocaia deu-se bem no entroncamento dos três sítios, o meu, o do Sr. Cézar e do espanhol chamado Hugo. Como não dava prá saber de onde vinha o 'amigo da manga alheia', passei a conduzi-lo até um local iluminado visando, é óbvio, passar-lhe um sabão e reaver meus frutos. Nisso, fomos surpreendidos pelo Sr. Hugo que, sob forte sotaque castelhano, perguntou o que estava acontecendo. Esclarecido, tomou ele partido do 'amante à manga antiga' alegando que ele havia sido apanhado em suas terras e que, portanto, eu não poderia lá ter adentrado sem lhe pedir licença. Aleguei que a perseguição tivera início em minhas plagas, embora não tivesse pilhado o meliante em flagrante e só soubesse que ele levava mangas pelo odor inconfundível vindo do embornal. Intransigente, meu confinante abraçou o lépido adorador de frutas e disse que, estando em terras suas, não permitiria que se perseguisse quem quer que fosse. Percebi que, apegado ao seu pomar, estava ele comportando-se dessa maneira mais como uma forma de provocação do que de direito propriamente, já que, até aquela altura, pensávamos ambos que a res furtiva fosse a dita manga espada.Chegamos sob o alpendre iluminado de sua casa e Hugo pediu ao jovem infrator famélico uma fruta 'dessas que você está carregando aí'. 'Depois, pode ir embora', asseverou. Nisso, inconformado, já estava caminhando em direção de meu cantinho, quando ouvi um típico praguejar ibérico e o recém liberto passou por mim correndo. Ainda pude ouvi-lo em gargalhadas dizer: 'Era manga família, doutor!' Nota: o único pé de manga família num raio de dez quilômetros ficava justamente nas terras do meu inconformado vizinho. Com a deflagração do conflito Colômbia ('yo te pego')X Equador ('aqui no') X Venezuela ('Yo me meto') inafastável a ilação do 'caso Farc' com o caso ‘Las Mangas de Valinhos'. Impossível não pensar que é fácil ser a favor do inimigo de seu vizinho... Isso enquanto as mangas não forem as suas..."

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