xHomem grávido

1/4/2008
Paulo Roberto Iotti Vecchiatti - OAB/SP 242.668

"Caro Wilson Silveira, você confundiu dois conceitos completamente distintos... Quem faz ou deseja fazer operação de mudança de sexo é o transexual, não o homossexual. O transexual é aquele que tem a clara impressão de que nasceu no corpo errado e, portanto, quer adequar seu sexo físico a seu sexo psíquico. O homossexual, por sua vez, não tem essa dissociação e está plenamente satisfeito com seu sexo físico – apenas ama pessoas do mesmo sexo que o seu, nada mais. Logo, o caso que você trouxe se refere a transexuais, não a homossexuais. Homossexuais e transexuais não se confundem, isso é pacífico na literatura. A pergunta seria, então, o que transexuais estariam a querer – mas, segundo penso, com o esclarecimento que acabei de fazer, a questão perde sentido, pois sua indagação de tom nitidamente crítico endereçava uma crítica ao Movimento Homossexual, não aos transexuais... No mais, gostaria de saber porque tamanho incômodo com o fato de um transexual, após a cirurgia, desejar engravidar (e efetivamente engravidar)... Ora, sendo possível ocorrer de forma idêntica ao que ocorre na mulher biológica, porque não? Em que isso influencia a vida dos heterossexuais que se sentem tão incomodados com isso? Ou seja, que prejuízo isso traz a terceiros? Indago o mesmo com relação à eventual possibilidade de casais homoafetivos poderem ter filhos biológicos em virtude de avanços científicos na forma por você narrada no que tange aos cientistas japoneses... (novamente, em sendo o resultado da fecundação idêntico ao 'tradicional') Será que, neste último caso, o incômodo decorre de que, aí, perder-se-á o inacreditável 'argumento' de que o casamento civil homoafetivo não poderia ser permitido porque, com isso, a espécie humana ficaria em risco já que casais homoafetivos não poderiam procriar?! (como se vê, é um pseudo-argumento, verdadeiramente desafiador da inteligência...). 'Argumento' este verdadeiramente inacreditável porque claramente parte da absurda premissa de que o mero reconhecimento estatal da possibilidade jurídica do casamento civil homoafetivo faria com que heterossexuais simplesmente 'virassem' (!?) homossexuais... Isso é algo sem nenhuma base empírico-científica, verdadeiramente insólito, na medida em que parte de uma desconfiança também inacreditável quanto à heterossexualidade – ora, o reconhecimento estatal da igual dignidade da homossexualidade em relação à heterossexualidade faria com que héteros 'desejassem' (!?) virar gays?! (e são igualmente dignas, não se desafie a inteligência dizendo o contrário com base em exemplos concretos porque há inúmeros destes exemplos também em relação a héteros...) Sinceramente, os que defendem aquele pseudo-argumento aqui criticado partem de uma descabida desconfiança a respeito da heterossexualidade, como se a homossexualidade fosse 'melhor', 'mais legal' do que ela... (e não digo que seja o seu caso Wilson Silveira, mas suas colocações me lembraram daquele inacreditável argumento). Homossexualidade e heterossexualidade são igualmente dignas. Uma não é melhor do que a outra. Só sofre por conta de sua orientação sexual aquele que é alvo de preconceitos por conta dela – se os preconceitos inexistissem, nenhum homossexual teria problema nenhum com sua homossexualidade e, da mesma forma, se existisse o preconceito heterofóbico na linha do homofóbico atual, muitos héteros também teriam problemas com a aceitação de sua orientação sexual. De qualquer forma, suas considerações sobre o futuro filho de Thomas Beatie denotam uma elevada e desnecessária agressividade irônico-sarcástica ao falar em 'Conan' e 'Cindy'... Pergunto-me, para que comentários tão agressivos quanto desnecessários?"

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