Democracia

2/4/2008
Wilson Silveira - CRUZEIRO/NEWMARC PROPRIEDADE INTELECTUAL

"Eu sou um democrata, é o que afirma o vice-presidente José Alencar, para continuar o pensamento defendendo um terceiro mandato para Lula, o que é expressamente vetado pela Constituição do país. Pouca gente tem, mas eu ainda tenho – com essa mania de guardar tudo – 'O Livro dos Pensamentos do general Figueiredo', um livrinho verde, em cujo capítulo 5 há os 'Ideais Democráticos', que abaixo reproduzo, ensinamentos que tem algo a ver com os que hoje se desenham no cenário político nacional: 

(...) 'Vejam, nós temos a laranja-lima, a laranja-pera, a laranja-baía, que têm sabores diferentes, mas nem por isso deixam de ser laranjas. As próprias raças humanas são diferentes, existem cinco raças humanas. Assim também há democracias diferenciadas. Agora, o liberalismo morreu mesmo. É o (liberalismo) da Constituição de 1946, uma Constituição feita para responder ao nazifascismo, e que por seu excesso de liberalismo deu no que deu'.

'Mas às vezes precisa ser assim (o máximo de segurança do Estado correspondendo ao mínimo de segurança dos cidadãos). Veja, se não fosse, nunca haveria guerra, por que qual é o povo que deseja guerra? O povo nunca quer a guerra. No entanto, ela pode ser eventualmente necessária para assegurar a própria defesa de uma sociedade'.

(...) 'Não, senhores, o Estado precisa defender-se, sim, contra os extremistas que desejam destruí-lo para implantar idéias que o totalitarismo consagra. Afinal, se o Estado não for efetivamente forte, o que é que vocês querem? Acabar com o Estado? Mas aí vem a anarquia'.

(...) 'Não (este não é um regime de exceção), nós temos leis de exceção. Em 1964, nós poderíamos ter fechado o Congresso, não poderíamos? Pois bem, muitos que vivem hoje posando de democratas, sob os aplausos de vocês, queriam fazer coisas piores. Eu não quero citar nomes, mas há muitos fantasiados de democratas aí que participaram do regime mais ignominioso que eu já vi, o Estado Novo de Vargas, e que hoje posam de democratas, pedem democracia plena. No Estado Novo, sim, eu era cadete do Exército e tive conhecimento de torturas bárbaras, muito piores que estas que denunciam hoje, se é que estas existem mesmo. Meu pai estava na prisão, e eu vi de perto o que era tortura'.

(...) 'Não (sou favorável à eleição direta para presidente), isso não. A eleição para presidente eu acho que deve ser indireta'.

'Pois é, (o Marechal Hermes da Fonseca) que apesar de ser um militar não pode ser comparado ao Rui Barbosa, fez uma campanha belíssima e não foi eleito. Então é preciso ter muito cuidado com essas objeções à eleição indireta. (...) E no Império, o Imperador não nomeava todo mundo, e tudo não funcionou bem por tanto tempo?'

'Não, o eleitor brasileiro ainda não tem nível do eleitor americano, do eleitor francês. O Getúlio não fez uma ditadura sanguinária e acabou sendo eleito? Vocês sabem que no Rio Grande do Sul houve uma seca, e os eleitores decidiram votar contra o Governo, porque não choveu? Um eleitorado não elegeu o Cacareco? Então uma coisa dessas tem cabimento?' 

'Sou (um liberal), dentro daquilo que se pode dizer que é a liberdade hoje. No entanto, não acredito na democracia liberal clássica. O quadro ideológico do mundo de hoje é muito complexo, e ultrapassou-se o liberalismo convencional. Em relação a diversos assuntos eu acredito que mantenho uma posição liberal. Por exemplo: a liberdade individual, a liberdade de associação'

(...) 'Sem dúvida (o Brasil oferece hoje aos seus cidadãos um quadro suficiente de liberdade individual). Há liberdade para todos, menos para aqueles que infringem as leis'.

'Sou partidário das eleições indiretas para Presidente da República, mas elas são igualmente democráticas e tão legítimas quanto as diretas'.

'A eleição para Presidente da República é muito falha. Começa pela indicação do candidato na Convenção. Pensa-se que ela é aberta, mas não é. Uma pequena cúpula é que indica. A campanha presidencial tumultua muito a vida do país. Basta nos lembrarmos daquelas que vimos. A Nação se paralisava. E são rios de dinheiro que correm... Todos se insurgem contra a eleição indireta, mas a própria Igreja a adota: os cardeais são indicados pelo Papa e o Papa é escolhido pelos cardeais. Quanto aos governadores, a campanha se trava num ambiente mais restrito. Pelo menos a máquina federal não é engrenada nisso. Esse é que é o grande problema'.

Como se vê, cada um acha o que quer sobre democracia. Agora, democracia parece querer dizer ficar no poder para sempre. Se é o que o povo quer..."

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